Leandro.Bonizi 03/01/2024
Interessou-me ler esse livro pois sempre fiquei curioso para "entrar na mente" dos viciados em maquininhas caça-níquel, como eles são hipnotizados, alguns a ponto de no dia de receber gastar todo o salário nela. E como os romances de Dostoiévsky são bem psicológicos, achei que cairia bem. O que leva as pessoas a caírem nesse vício?
"Ora, ganância mesquinha ou ganância grande vêm a dar na mesma. É questão de proporção" (p. 22)
"— No entanto, eu mesma, por mais estúpido que isto seja, só tenho esperança na roleta —" (p. 27)
No começo tive dificuldade em entender tantos personagens e as relações entre eles, tive que voltar e ir anotando cada personagens e colocando observações nos primeiros capítulos. No começo achei desnecessária uma trama tão complexa.
Mas é até previsível que isso não ia acabar bem, mas a proporção da catástrofe foi maior que eu imaginava, e afetou cada personagem de forma particular, de modo que toda as relações entre os personagens fez sentido: "(...) e a catástrofe presente, e sem dúvida, definitiva" (p. 140).
"Existe sim, prazer no último extremo do rebaixamento e da insignificância!" (p. 44)
O que acontece com quem vicia em jogativa é sempre a mesma coisa: perde dinheiro, quando ganha uma quantia boa, fica confiante e usa essa quantia para apostas maiores e perde tudo. Parece que nunca fazem o cálculo de quanto ganharam e quanto que perderam. Memória seletiva? Só se lembram das vezes que ganharam?
Quando a catástrofe estava desenhada, o personagem se recolheu por um tempo e pôs-se a refletir:
"E tudo isso foi como um sonho, até mesmo a minha paixão, que, no entando, era forte e sincera, mas... que é feito dela agora? É verdade, às vezes uma ideia de súbito me vem à mente: 'Não estaria eu louco, não teria passado todo aquele tempo num hospício, ou ali não estaria ainda, de modo que tudo não seria mais que uma ilusão, e até hoje apenas uma aparência?'" (p. 128)
Mas acaba voltando a jogar, e ao pedir dinheiro para um amigo, ele lhe diz: "Mas se só lhe dou dez luíses de ouro, em vez de dez libras, é que para você, hoje em dia, mil libras ou dez luíses de ouro são a mesma coisa: você os perderá. Tome e adeus!" (p. 185)
Outras reflexões:
"Sim, às vezes a ideia mais absurda, a mais aparentemente impossível na aparência, implanta-se com tal força que acabamos acreditando ser viável... Mais ainda: se essa ideia está ligada a um desejo forte, apaixonado, acabamos acolhendo-a como algo fatal, necessário, predestinado, como algo que não pode deixar de ser nem de acontecer! Talvez haja mais: uma combinação de pressentimentos, um extraordinário esforço da vontade, uma autodireção da própria fantasia, ou seja lá o que for" (p. 145).
"É possível que depois de experimentar tantas sensações a alma não possa mais satisfazer-se com elas, mas apenas irritar-se, e exija novas sensações, cada vez mais fortes, até o esgotamento total." (p. 150)
Não podemos deixar de considerar que o livro foi escrito por encomenda em apenas três meses!