A caverna

A caverna José Saramago




Resenhas - A Caverna


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Marcone 13/01/2014

Um homem idoso, morador da periferia, fabrica peças de barro para vendê-las ao Centro. Sua filha, adulta, mora com ele e está grávida. Seu genro trabalha como guarda no Centro.

Escrito no clássico estilo saramaguiano, em que o enredo simples e banal vai se desenrolando lentamente para um desfecho abrupto e dramático, este livro traz um Saramago inspiradíssimo em seus devaneios sobre a condição humana. Alguns deles:

"Nem a juventude sabe o que pode, nem a velhice pode o que sabe..."

"Os dias são todos iguais, as horas é que não são..."

"Se é verdade que o tempo tudo cura, talvez não vivamos o suficiente para tirar-lhe a prova"

"Há quem leve a vida inteira a ler sem nunca ter conseguido ir mais além da leitura, ficam pegados à página, não percebem que as palavras são apenas pedras postas a atravessar a corrente de um rio."
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valdir1 19/04/2010

Literatura...
Um excelente livro... Apesar do tempo, ainda lembro da sensação de saborear as palavras bem postas como se um artesão milenar tivesse em cada frase gasto uma eternidade em sua elaboração.
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Thamires 26/04/2014

A Caverna é uma obra que retrata os impactos da modernidade e do crescimento econômico em pessoas simples. Mostra como uma família comum é forçada a adaptar-se ao novo sistema econômico para poder ser vista como parte da sociedade. Retrata como o sistema capitalista obriga o indivíduo a perder sua identidade e fazer parte da massa. Mostra como os valores são transformados e como a arte passa a ser desvalorizada a partir do momento em que as máquinas passam a comandar toda a produção.
A própria Indústria Cultural exclui a possibilidade do individual, o ser agora vai fazer parte da massa, de uma totalidade. “Os indivíduos, afirma Adorno, não são mais indivíduos, mas sim meras encruzilhadas das tendências do universal, que é possível reintegrá-los totalmente na universalidade”, essas “tendências” quem vai ditar é a Indústria Cultural, que através do consumo, de anúncios, transforma hábitos e pretende atingir a sociedade como um todo.
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Alex 22/07/2014

O livro narra a luta de Cipriano Algor, 64, que após ter seus produtos de barro substituídos no mercado por produtos manufaturados de plástico, mais baratos e resistentes, enfrenta uma crise existencial.

O responsável pela falência da olaria de Cipriano Algor é uma entidade superpoderosa denominada "o Centro", que, numa espécie de capitalismo totalitário, absorve todas as relações humanas, desde o nascimento, a reprodução, até à morte, eliminando, ou substituindo por artificialismos, a identidade, as percepções, e o passado do indivíduo, transformando-o em um consumidor que age conforme seu arbítrio("o segredo da abelha")e excluindo impiedosamente todos aqueles que estão à sua margem ou lhe são periféricos.

Diversão e prazer sem limites e suicídios; coibição à curiosidade e livros e enciclopédias esquecidos; seres sem passado cujo trabalho de uma vida inteira se perde sem frutos; até podemos pensar que estamos relendo a clássica distopia de Ray Bradbury (Fahrenheit 451), quando, na verdade, estes seres que Saramago tão magistralmente constrói e desconstrói, somos nós; uma geração inteira alimentada por redes sociais e motores de busca, que, de forma ardilosa, nos vigiam, moldando nossos gostos, opiniões, ídolos, espiritualidade, prazeres, e medos.

O mais irônico é que comprei esse livro num "megashopping". Quem sabe até nossa ânsia por questionar o sistema (ou o Centro), tenha sido mercantilizada pelo próprio sistema, seja comprando livros como 1984, Brave New World ou máscaras do Vendetta, achando, inutilmente, que vimos um pouco de luz, quando na verdade ainda somos expectadores de meras sombras.
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Oz 02/03/2019

Já há tempos que considero a literatura portuguesa uma das melhores – se não a melhor – do mundo. É impressionante como os escritores de Portugal são capazes de não apenas trabalhar a sua – e, há alguns séculos, a nossa – língua como também criar histórias criativas e que nos proporcionam grandes reflexões. Quem iniciou essa paixão que tenho pela literatura desse país foi José Saramago. Não seria exagero dizer que foi ele o responsável por me fazer gostar tanto dos livros quanto gosto hoje. Embora já fosse entusiasta da leitura de romances, Saramago simplesmente explodiu minha cabeça - no bom sentido, é claro. Apesar disso, essa é a primeira resenha que escrevo desse grande gênio, pois há tempos que não lia ou relia nada dele. Por sinal, essa é uma releitura que fiz de “A Caverna”, já que não lembrava muita coisa da história e decidi, por esses dias, que era hora de explorar melhor os livros que já tenho em minha estante.

“A Caverna” conta a história de Cipriano Algor, um oleiro que vive em sua casa na zona rural de algum lugar de Portugal, dividindo o teto com sua filha Marta e o marido dela, que trabalha como segurança no Centro – uma espécie de condomínio residencial, shopping, zoológico, mercado, parque de diversões e tudo mais que é possível imaginar, tudo reunido em um lugar gigantesco no centro (não diga!) de alguma cidade não nomeada. Cipriano fornece suas peças de barro para o mesmo Centro, que compra seus cântaros, potes e derivados já há tempos. No entanto, a demanda por tais produtos tradicionais vem caindo bruscamente, de forma que o Centro decide parar de comprar as peças produzidas por nosso protagonista. Ao mesmo tempo em que deve enfrentar esse problema que ameaça a continuidade do seu trabalho e do seu sustento, Cipriano se encontra na iminência de viver sozinho, caso seu genro seja promovido para guarda residente, tendo que mudar com Marta para o Centro. Nesse ínterim, Saramago introduz mais um personagem na vida dessa família: um cachorro que aparece do nada na casa deles em uma noite chuvosa. O nome que recebe de Cipriano e sua filha não poderia ser mais descritivo: Achado.

Essa é a trama que se apresenta em nossa frente. A um primeiro olhar, e talvez a um segundo ou terceiro, não se trata de nada muito grandioso ou criativo. Contudo, é através desse microuniverso familiar que Saramago consegue discutir inúmeras questões que tocam no âmago de qualquer ser humano, como as raízes, as tradições que passam de geração em geração, o desenvolvimento econômico e de novas tecnologias, a desigualdade de classes e, principalmente, a capacidade que o ser humano tem de buscar a felicidade, ainda que a um custo de severas mudanças.

Como já é de conhecimento quase geral – mesmo para quem nunca leu Saramago -, sua forma de escrita é peculiar, pois não separa os diálogos com travessões ou aspas, nem utiliza pontos de interrogação ou exclamação. Ele decide separar as falas dos personagens apenas inserindo uma vírgula e iniciar a fala do outro personagem com letra maiúscula, tudo no mesmo parágrafo. Isso pode parecer estranho para quem não já está acostumado, mas eu garanto que isso não é apenas uma frescura estética do autor. Muito pelo contrário, esse formato dá uma fluidez única aos seus diálogos, como se fosse um rápido jogo de pingue-pongue em que os olhos do leitor passam de uma fala a outra sem pausas ou interrupções. Dada a capacidade que Saramago tem de criar diálogos incríveis, com personagens que parecem sempre ter uma carta na manga para dar respostas ligeiras e geniais de forma orgânica, esse método de escrita é excepcional. Várias pessoas comentam ou reclamam que é difícil ler Saramago por conta desse formato de escrita do autor, mas eu não poderia discordar mais disso. E vou além: estou certo de que isso é até melhor para o que Saramago pretende - e de fato consegue - fazer. A narrativa corre solta como um rio.

Forma e conteúdo trabalham juntos em “A Caverna” para nos fornecer uma brilhante história, certamente uma das que não recebem a atenção que deveria dentre as magníficas obras de Saramago. Ao final da leitura, fiquei estupefato em relembrar o motivo de idolatrar tanto esse escritor, de onde parece jorrar uma fonte infinita de criatividade. Não bastasse isso, ele é o típico autor que traz reflexões e passagens simplesmente memoráveis, daquelas que você faz uma marcação para que você mesmo ou outro alguém possa, no futuro, abrir na página marcada e ter o prazer de ler algo maravilhoso. Seria criminoso encerrar essa resenha sem transcrever aqui alguns desses belíssimos trechos. Que tal essa abertura de um capítulo:

“Autoritárias, paralisadoras, circulares, às vezes elípticas, as frases de efeito, também jocosamente denominadas pedacinhos de ouro, são uma praga maligna, das piores que têm assolado o mundo. Dizemos aos confusos, Conhece-te a ti mesmo, como se conhecer-se a si mesmo não fosse a quinta e mais dificultosa operação das aritméticas humanas, dizemos aos abúlicos, Querer é poder, como se as realidades bestiais do mundo não se divertissem a inverter todos os dias a posição relativa dos verbos, dizemos aos indecisos, Começar pelo próprio princípio, como se esse princípio fosse a ponta sempre visível de um fio mal enrolado que bastasse puxar e ir puxando até chegarmos à outra ponta, a do fim, e como se, entre a primeira e a segunda, tivéssemos tido nas mãos uma linha lisa e contínua em que não havia sido preciso desfazer nós nem desenredar estrangulamentos, coisa impossível de acontecer na vida dos novelos e, se uma outra frase de efeito é permitida, nos novelos da vida”.

E que tal essa divagação sobre o que é a leitura, que surge de um diálogo entre Cipriano e sua filha:

“Vivi, olhei, li, senti, Que faz aí o ler, Lendo, fica-se a saber quase tudo, Eu também leio, Algo portanto saberás, Agora já não estou tão certa, Terás então de ler doutra maneira, Como, Não serve a mesma para todos, cada um inventa a sua, a que lhe for própria, há quem leve a vida inteira a ler sem nunca ter conseguido ir mais além da leitura, ficam pegados à página, não percebem que as palavras são apenas pedras postas a atravessar a corrente de um rio, se estão ali é para que possamos chegar à outra margem, a outra margem é que importa, A não ser, A não ser, quê, A não ser que esses tais rios não tenham duas margens, mas muitas, que cada pessoa que lê seja, ela, a sua própria margem, e que seja sua, e apenas sua, a margem a que terá de chegar”.

Como meu impulso compulsivo não me deixa parar de destacar algumas passagens, então aí vai uma última, talvez a minha favorita, um verdadeiro mar de sensibilidade:

“Marta sai do quarto e vai pensando Dorme, eis uma palavra que aparentemente não fez mais do que expressar uma verificação de facto, e contudo, em cinco letras, em duas sílabas, foi capaz de traduzir todo o amor que num certo momento pôde caber num coração humano. Convém dizer, para ilustração dos ingênuos, que, em assuntos de sentimento, quanto maior for a parte de grandiloquência, menor será a parte de verdade”.

Meu site de literatura e resenhas: www.26letrasresenhas.wordpress.com
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Luana De Martins 13/05/2015

Logo no início da narrativa, somos apresentados ao Centro, uma imponente construção que pela primeira descrição, nos dá a ideia de uma prisão, descobrindo depois que se trata de praticamente uma cidade inteira dentro da cidade. O Centro é o protagonista do progresso, rico em tecnologia, uma máquina de consumo com todos os elementos necessários (e até extravagantes) para que se possa viver lá sem precisar sair; ele é a grande metáfora para os impactos da industrialização promovida pelo capitalismo, isto pode ser percebido ao fazer algumas pontes com o momento histórico das Revoluções Industriais que ocorreram no mundo a partir do século XVIII, quando o trabalho artesanal foi substituído pela manufatura: a perda do trabalho de oleiro do Cipriano Algor porque os clientes optavam pelos utensílios de plástico; a privação de relevância de quem não estivesse inserido no sistema: o pouco caso com que as pessoas residentes fora do centro são tratadas, e assim por diante.
A visão ampla do narrador nos permite conhecer intimamente os integrantes da família, até mesmo o cachorro Achado, que é incluído ao longo da história. O fato do autor não ter apresentado os personagens somente em alguns parágrafos, e sim ter oferecido o cotidiano deles para que nós mesmos construíssemos nossa opinião de quem eles sejam, deixa uma abertura para que nós também descobríssemos sozinhos como se fundavam as relações entre eles, a partir de suas reações aos acontecimentos. Há uma constante conformidade emanada pelos personagens que ilustram o caráter de alienação que o autor quer transmitir, inserindo-os cada vez mais na “caverna”.
Quando a família finalmente se muda para o Centro, suas ações passam a ter uma característica sufocante, como se estivessem rodando dentro de uma caixa vazia; a ligação com o Mito da Caverna de Platão é inserida na própria história e os personagens tem a chance de descobrir que eles também vivem em uma espécie de caverna, sobrevivendo a uma ilusão, a grande crítica é que nós, mesmo não estando amarrados ao banco de uma caverna, ou vivendo no Centro, e mesmo estando há séculos dos primórdios da industrialização, também somos prisioneiros de uma realidade de conformidade, consumo e constante alienação.
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Volnei 25/11/2015

A Caverna
O livro conta a história do oleiro Cipriano Algor e suas dificuldades com a produtor de louças e sua recente paixão pela vizinha , Isaura Estudiosa . Em sua oficina ele tem sua filha , Marta como auxiliar na produção e a companhia de um c?o que aparece em sua casa e passa a fazer . Sua vida muda por completo quando seu principal cliente cancela a compra de suas peças e passam a preferir peças plasticas por serem mais modernas.

site: http://toninhofotografopedagogo.blogspot.com.br/
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FélixEdu 30/12/2015

O mito e a ponte ao raciocinio de Saramago
"Que estranha cena descreves e que estranhos prisioneiros. São iguais a nós."
PLATÃO, República, Livro VII
Quem és tu Saramago? Tens coragem de nos fazer devorar toda a arrogância pós moderna em um único romance? Tu és o que há de mais concreto, real e astuto na língua portuguesa! Se ter-te como escritor de língua portuguesa é sorte ou cartada do acaso, digo a todos que trata-se de uma imensa sorte!
Eis a caverna, um livro de surpreendente beleza metafórica!
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Gláucia 01/04/2010

Triste realidade
Esse foi meu primeiro Saramago e foi amor à primeira leitura, levou-me a querer ler todos os outros. Cipriano perde seu lugar no mundo capitalista e o livro retrata a difícil tarefa de um "idoso"( para os padrões do Centro) se readaptar. Lindo, triste, maravilhoso!
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Valério 29/04/2016

Mais um grande livro
Saramago tem uma habilidade tão grande de escrever, que pode escrever sobre qualquer coisa que será um texto sensacional.
Sua escrita tem graça, é permeada de poesia, sonoridade. Encanta.
No livro "A caverna" trata da vida de um idoso e sua filha, que é casada. Mas me parece que o principal personagem mesmo é o tal "Centro", um lugar fechado, onde vive uma elite. Os menos favorecidos são excluídos (como o velho e sua filha) e vivem para servir o Centro, local todo murado e com comércio e vida social exclusivos
A Caverna é uma crítica de Saramago à exclusão social, aos privilegiados que vivem isolados da pobreza.
Como se sabe, Saramago era comunista.
Mas sua ideologia pouco atrapalha a obra.
Os personagens aquecem nosso coração e o livro transborda de sentimentos, de amor, de delicadeza.
Comove.
Como todos os demais livros de Saramago, imperdível. Lindo. Único.
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Rodolfo Vilar 10/10/2017

A Caverna de Saramago | A Caverna
Cipriano Algor, oleiro de profissão, sente-se desnorteado ao ser notificado que suas peças de barro não configuram mais como produtos de venda do grande Centro da cidade do qual nosso personagem vive a margem. Sendo rejeitado pelo comércio local, só resta a Cipriano, junto com sua filha, usar da mesma profissão e começar a confeccionar bonecos de barro para tentar ganhar o seu sustento. Durante todo esse enredo, enquanto acompanhamos a luta pelo personagem em adequar-se a realidade, também compartilhamos da escolha da família em ir morar no tal centro no dia em que seu genro, guarda residente do grande shopping Local, consegue ser qualificado a um novo posto de trabalho.

Depois que ganhou o prêmio Nobel em 1998, muitas expectativas pairavam em José Saramago quanto a qual seria o seu mais famoso romance a ser publicado. Para alguns, A Caverna é nada menos que um livro morno e monótono onde apenas se acompanha a trajetória de um homem a procura de seu lugar a sociedade. Para outros, como o meu caso, a surpresa em conseguir ler uma obra que toma forma a partir de outro grande clássico da literatura filosófica é uma das dádivas que somente Saramago consegue criar: transformar uma metáfora numa realidade moderna.

Platão em seu livro “A República” nos mostra a fábula da Caverna, onde um grupo de indivíduos vive as escondidas do mundo, fazendo das sombras refletidas no fundo dessa cavidade a realidade que julgam ser necessária para a compreensão da verdade. Trazendo à tona numa modernidade surpreendente, Saramago irá nos mostrar a “Nova caverna” em quer habitamos, ou seja, a tecnologia e as revoluções de um mundo moderno em que habitamos, nos fazendo enxergar aquilo apenas no qual devemos acreditar. A grande questão de Saramago é fazer com que o seu personagem, um oleiro que mora numa cidadezinha do interior, saia de sua conformidade (sua caverna) e corra atrás de seu espaço na sociedade em que se impõe. Porém fica o questionamento: A caverna é a sociedade ou o sujeito precisa sair de sua caverna?

Num romance singelo, no seu próprio tempo e sempre brincando com a linguagem, Saramago consegue mais uma vez estudar a realidade que sempre o assolava em seus próprios apontamentos: O sujeito prisioneiro na sua própria evolução, sendo tomado cada vez mais pelo tempo que o assombra.

site: http://bodegaliteraria.weebly.com/biblioteca/a-caverna-de-saramago-a-caverna-jose-saramago
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Joseane 11/02/2018

O que é humano prevalece e permanece. Será mesmo?
Essa foi a minha primeira leitura de José Saramago. Escritor de um estilo peculiar, conseguiu me cativar de maneira crescente nas 350 páginas. Interessante no começo, meio lento na sequência, porém arrebatador no final. O livro conta com riqueza de detalhes os pormenores da vida cotidiana de pessoas que, como a maioria de nós, precisam "ganhar a vida".
O que me chama a atenção é o modo como os personagens vão ganhando corpo e alma a medida que se relacionam. Num mundo onde os valores familiares se perdem cada dia mais, o autor trabalha a imagem de uma família que está junta para o que der e vier. Há no decorrer de toda leitura um senso de identidade autêntico (Cipriano, o oleiro) e de pertencimento profundo (Marçal, o genro que vê no sogro um pai) que nos faz admirar, página a página, esse núcleo familiar que, seja pela chegada de um cão ou pela concepção de uma criança, cresce aos poucos.
Cipriano Algor, personagem simples mas de grande caráter, frequentemente nos traz grandes reflexões em meio a suas conversas. Achei belíssimo o modo como pai e filha dialogam. Ora bem humorados e cheios de ditos populares, ora sérios, inquietos e com perguntas viscerais a respeito do futuro da família. Os relacionamentos se baseiam no respeito as opiniões, mesmo quando contrárias. Vemos Marta dando espaço para o pai, respeitando seus momentos de isolamento, mas a vemos também, em hora oportuna, sabendo semear suas ideias através de muito diálogo. E Marçal, mesmo não sendo nascido na família, desenvolve uma cumplicidade tal com a família que a relação com a esposa e sogro revela parceria, confiança, lealdade e apoio nas mais diversas decisões a serem tomadas.
Enfim, também vemos nesse livro o que muitos já relataram aqui: o trabalho manual sendo substituído pela tecnologia; as transformações do espaço geográfico e das relações sociais em prol do capitalismo; o controle absoluto e unilateral de quem possui o poder, ou seja, desdobramentos de uma história que representa tão bem a nossa própria.
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Wagner 06/12/2018

FORNOS...

(...) Não existe uma grande diferença entre o que se passa no interior de um forno de olaria e um forno de padaria (...)

In: SARAMAGO, José. A Caverna. São Paulo : Cia das Letras, 2000. Pg 227.
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