A parte obscura de nós mesmos

A parte obscura de nós mesmos Elisabeth Roudinesco




Resenhas - A parte obscura de nós mesmos


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Sheila 30/06/2012

Resenha: "A parte obscura de nós mesmos: uma história dos perversos" (Elisabeth Roudinesco)
Este livro, escrito pela psicanalista Elisabeth Roudinesco, explora o universo dos chamados “perversos” traçando, em seu inconfundível estilo, a trajetória do termo e suas diferentes acepções ao longo da história, notadamente seu surgimento como campo da psiquiatria, que a via como uma espécie de aberração, doença, ligada essencialmente às questões concernentes a sexualidade humana – inversão, onanismo, felação, etc, tudo que diz respeito à obtenção de prazer sexual fora dos fins de procriação.

Até meados do séc. XVIII, a sexualidade humana era então condenada pela igreja, discriminada pela sociedade e controlada pelo Estado, que a punia como crime caso se afastasse do considerado “normal” para os padrões da época. Quando o termo perverso ainda não se havia insurgido, era contra o sodomita que a sociedade cristã da época destilava o ódio mais mortal.

"Na época cristã o homossexual tornou-se a figura paradigmática do perverso. O que assim o qualificava, era a escolha de um ato sexual em detrimento o outro. Ser sodomita era recusar a diferença dita “natural” dos sexos, a qual supunha que o coito fosse consumado para fins procriadores (...) Visto como uma criatura satânica, o invertido da era cristã foi então considerado o perverso dos perversos, fadado à fogueira porque atentava contra o laço genealógico".

Autor de inúmeros ensaios considerados abjetos, o Marques de Sade – a quem devemos o termo hoje largamente utilizado Sádico e Sadismo – é extensamente analisado em todo um capítulo da obra, bem como algumas outras figuras que marcaram época por seus atos ou discursos ditos libertinos, como Gilles de Raise Barba Azul. Seu grande crime foi glorificar o a sodomia como a ordem natural, a realização dos impulsos como uma regra, chamando a sociedade vigente de hipócrita e, por isso mesmo, passando boa parte da vida preso.

Mais tarde, em meados do séc. XIX, a sexualidade deixa de ser problema do estado e passa a ser algo privado do qual os médicos da época e, em especial, os psiquiatras, se ocupam. A sexualidade humana passa a ser um tema passível de estudo, análise, e categorização. A questão agora não é mais excluir o perverso como alguém aberrante e pavoroso, capaz de contaminar aos demais, mas de tentar “salvar” os libertinos, considerados mentes desequilibradas - aqueles que se considerar poderem ser salvos, claro.

"Neste contexto, o discurso positivista da medicina mental propõe a burguesia triunfante a moral com que nunca deixou de sonhar: uma moral de segurança modelada pela ciência e não mais pela religião. duas disciplinas derivadas da psiquiatria, a sexologia e a criminologia, recebem aliás a missão de esmiuçar os aspectos mais sombrios da alma humana".

Surgem então modelos médicos de cura que são tão perversos quanto aqueles a quem se propõem curar: cintos antimasturbatórios, ameaças de castração, mãos algemadas, intervenções cirúrgicas nos órgãos genitais, muitas vezes mutiladoras.

No fim do século XIX e com o advento da psicanálise, a criança passa a ser vista como portadora de uma sexualidade polimorfa, o que faz com que a sociedade dirija agora seu olhar para ela e aquele que agora pode invadi-la em suas descobertas - o pedófilo. Mas para Freud, ao contrário do que se popularizou, os perversos não seriam criaturas aberrantes, doentes, proscritos, mas a perversão seria uma parte de todos nós - obscura, por isso negada.

"A perversão, segundo Freud, é de certa forma natural no homem. Clinicamente é uma estrutura psíquica: ninguém nasce perverso, torna-se um ao herdar, de uma história singular e coletiva em que se misturam educação, identificações inconscientes, traumas diversos. tudo depende em seguida do que cada sujeito faz da perversão que carrega em si: rebelião. superação, sublimação - ou, ao contrário, crime, autodestruição e outros".

Roudinesco passa então a analisar o caráter de perversão por trás das atrocidades cometidas na segunda guerra mundial e, em particular, na Alemanha Nazista, quando um grupo de pessoas reuniu-se não só para decidir a respeito de toda uma raça, entre sua vida e morte, mas fazendo o possível para retirar-lhes a condição de humanidade. Mas e hoje? quem seriam os perversos? Existe A Perversão? Ou será que hoje deveríamos falar dAs perversões, no plural, se quisermos entender a abrangência que o termo se imbui?

Um texto dinâmico e muito bem fundamentado, que nos faz mergulhar na história e nos ditos por trás da aparente naturalidade da realidade que ora se nos apresenta, debatendo os diferentes pontos de vista a respeito da temática, e deixando no desfecho um amplo espaço para reflexão. Recomendo

Disponível em: http://www.psicologias2011.blogspot.com.br/2012/06/resenha-parte-obscura-de-nos-mesmos-uma.html
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Anderson916 20/03/2020

Cara...
O ser humano...
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Fabi 16/06/2022

“todo homem é habitado pelo crime, o sexo, a transgressão, a loucura, e negatividade, a paixão, o desvario, a inversão etc. Mas nenhum homem pode estar determinado, em vida e previamente, por um destino que o torne inapto a qualquer superação de si.”

“e depois supondo que tal fato se dê e que não sejamos mais capazes de nomear a perversão, isso não evitará que nos vejamos confrontados com suas metamorfoses subterrâneas: a parte obscura de nós mesmos”
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Vicente 13/09/2023

"A Parte Obscura de Nós Mesmos" é uma obra escrita pela renomada historiadora e psicanalista Elisabeth Roudinesco. Neste livro, Roudinesco explora e analisa o lado sombrio do ser humano, abordando temas como a violência, a agressão e os impulsos destrutivos que habitam nossa psique.

A partir de uma perspectiva psicanalítica, a autora examina as teorias desenvolvidas por nomes como Sigmund Freud, Jacques Lacan e Melanie Klein, entre outros, que se dedicaram a investigar a origem e o funcionamento dessas tendências obscuras em nossa mente. Roudinesco também analisa casos clínicos famosos e relevantes, escavando os recessos da mente humana para tentar entender por que algumas pessoas se inclinam mais para comportamentos negativos, enquanto outras conseguem lidar melhor com eles.

Além disso, a autora aborda também as manifestações coletivas dessas pulsões destrutivas, como a guerra e o totalitarismo, e como elas podem ser tanto fruto das dinâmicas individuais quanto se tornar um reflexo da sociedade que as produz. Ela também discute questões como a culpa, o desejo destrutivo, a pulsão de morte e a ambivalência emocional, buscando entender como esses elementos influenciam a nossa forma de ser e se relacionar com o mundo.

Ao longo da obra, Roudinesco sugere que o conhecimento e a aceitação desse lado obscuro são fundamentais para que possamos compreender melhor a nós mesmos e aos outros, e assim, desenvolver estratégias mais saudáveis de convivência e transformação. Ela enfatiza a importância da psicanálise como um instrumento de autoconhecimento e de análise da sociedade, e destaca como esse campo do conhecimento pode contribuir para a construção de um mundo mais consciente e menos marcado pela violência e pela intolerância.

Em suma, "A Parte Obscura de Nós Mesmos" é uma obra que nos convida a olhar para o lado sombrio do ser humano e refletir sobre nossas tendências destrutivas, buscando compreendê-las e transformá-las de modo a construir uma sociedade mais humana e equilibrada.
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Camilla Cardoso 30/03/2020

O tempo
A leitura da obra pode ser considerada uma das mais esclarecedoras e ricas de conteúdo social e psicossocial que já tive o imenso prazer de apreciar. Além da rica carga de indicações literárias que já acrescentei à minha lista de livros para ler, um fator crucial fica sendo lembrado por toda a leitura: talvez não exista perversidade, o que nós temos são leituras e interpretações que mudam variavelmente junto com os anos e a sociedade. Se você tem interesse em análises psicológicas, desenvolvimento social, ateísmo, nazismo e todos os temas que envolvem a homossexualidade, precisa incluir esta obra no rol de leitura obrigatória.
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Avyla 20/08/2023

Fantástico
A autora faz uma análise bem detalhada de como era definido a perversão desde a Idade Média até a atualidade. Focando principalmente nas repercussões sociais e históricas.
Simplesmente impecável.
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ale 27/01/2013

Uma estranha parte obscura de nós mesmos
Um livro que ao mesmo tempo que é excitante nos causa náuseas, um conteúdo obscuro de nós mesmos, que alguns mantêm sempre obscuro depois de um tempo e que alguns sempre convivem com ele de diferentes formas. Formas que variam conforme a cultura e época.
Perversão é uma sexualidade não desenvolvida, algo que não se tem prazer em si, mas como bem salienta Sade é algo que nos dá gozo, é algo que mobiliza muita energia de nós mesmos e nos move a um ato quase que cego, mas ele é cego quando ainda há correntes perversas em nós mesmos, afinal é uma parte obscura de nós mesmos.
Os casos mais sérios como denunciados no livro são de algo que não é tão obscuro, afinal a pessoa tem bem latente isso disponível a todo momento, às vezes simplesmente isso não está bem as claras como nos casos mais antigos, no entanto em casos como do próprio Sade (príncipe dos perversos) e Hitler que conseguia concentrar em si se não todos praticamente todos tipos de perversão que são diversos ...
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Wagner 15/09/2013

JOSEF MENGELE...BONITO, ELEGANTE E PERFUMADO.

(...) Bonito, elegante, perfumado, usando luvas brancas e assobiando despreocupadamente árias de Tosca, selecionava os seres humanos na rampa de Birkenau batendo levemente com sua chibata em uma das botas. Escutava com veneração as sinfonias de Beethoven, adorava cães, comia torta de maça, dirigia-se educadamente a todos e não apresentava nenhum sinal particular, a não ser um absoluto cinismo, uma ausência total de afeto, um fanatismo cientificista e uma vontade sem limites de eliminar os judeus, a quem considerava responsáveis, em virtude de sua inteligência, pela degradação da "raça alemã". (...)

ROUDINESCO, Elisabeth. A parte obscura de nós mesmos: uma história dos perversos. Rio de Janeiro: Zahar editor, 2008. Pp 160
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Bart 27/01/2020

A Parte Obscura de Nós Mesmos - Uma dos perversos
*Elisabeth Roudinesco*
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A escritora é uma psicanalista ? e historiadora mt top por sinal, e nesse livro ela conta a história dos pervesos e de como a psicologia vai se valendo dos conhecimentos acerca dos acontecimentos ao longo da jornada humana tendo exemplos como, Gilles de Rais, passando por Auschwitz, chegando até a atualidade com o terrorismo. É um livro que choca mesmo!
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Uma leitura clara, apesar de ser um livro de psicologia, qqr pessoa pode ler. Roudinesco escreve mt bem, fica claro seu domínio de conteúdo, mas fique *avisado*, é um livro que realmente choca. Qnd a escritora começa a relatar as atrocidades em Auschwitz, tiveram momentos q eu ia parar a leitura! É um senhor livro, indico p/qm é da área e p/qm não é.
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Trecho de uma das várias atrocidades de Joseph Mengele, médico chefe do partido nazista, que apareceu morto por aqui no litoral do Brasil em 1979.
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Rafaelly.Alves 09/02/2023

Fantástico
Os místicos haviam alimentado a fantasia de aniquilar o corpo para oferecer a Deus o espetáculo da sua subjugação libertadora. Os libertinos e Sade tinham, contra Deus, promoveram o corpo como único lugar do gozo. Os sexólogos haviam se inclinados a domesticar seus prazeres e seus furores criando um ?catálogo das perversões?. Os nazistas fizeram da ciência um instrumento de um gozo do mal, permitindo-lhes reduzir a coletividade dos homens a dejetos contabilizados e coisificados. Em 1987, sem a menor a discussão teórica, o termo ?perversão? desapareceu do léxico médico-psiquiátrico para ser substituído por ?parafilia?. Por Richard Von Krafft-Ebbing, em seu Psychopatia sexualis, as descrições das perversões sexuais efetuaram-se sob a imagem do grotesco, do obscuro, do monstruoso, da compaixão. Se Freud reabilitou a ideia segunda a qual a perversão é necessária à civilização, por constituir a parte maldita das sociedades e a parte obscura de nós mesmos. Como um termo fora do léxico médico ou não, a perversão é exclusivamente humana, ou seja: ?o homem?, dizia Darwin, ?é a única criatura na qual podemos reconhecer a faculdade moral... E isso constitui a maior de todas as distinções que se pode fazer entre os animais e os homens?.
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Alan Alves 31/03/2023

Elisabeth Roudinesco nos coloca em condição de entender a perversão ao longo da história da humanidade. O resgate histórico feito pela autora é belíssimo. Em tempos de maior ou menor moralidade, a perversão sempre é uma pedra no sapato da sociedade. Curiosamente sempre há o dedo dos supostos seres de saber que ditam a norma, na atualidade a psiquiatria, que não sabe o que fazer com esse termo (nem com os perversos), apostando no apagamento do termo e dando soluções estúpidas sobre como lidar com os perversos, cada dia mais presentes e visíveis na sociedade. Perversos existem, todos nós somos um pouco, piores ou melhores, cruéis ou nem tanto, os perversos existem e a gente ainda não sabe como lidar com os piores casos, até porque é a própria estrutura social que faz com que eles existam (?) gostemos ou não.
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vitu 03/04/2023

Limites, está obra comprova que a mente humana não tem limites, principalmente quando o assunto são as perversões. Nesta obra pude aprofundar minhas reflexões e conhecimentos sobre as perversões através da análise da autora em relação a determinados nomes da história, como Guille de Rais.
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