Bruno Oliveira 16/06/2022
TRÁGICO!!
Tristão e Isolda é uma das lendas celtas mais tristes que se tem conhecimento. Tanto que é até utilizada, junto com àquele outro casal shakespeariano, como exemplo-mor, arquétipo do Amor Verdadeiro fadado à tragédia já pré-estabelecida. E esta edição da editora carioca Francisco Alves (2007) traz exatamente tudo isso, contudo, a presente versão é aquela “envernizada” pelo Cristianismo, então, características próprias da cultura celta se mesclam com o viés ideológico do patriarcado conservador. Só para ficar em um exemplo disso: Isolda é a “pecadora ” maior, a personagem que sofre mais pelas suas “faltas” e a que mais é hostilizada pelas outras personagens do romance; Tristão é o “honrado”, o “bravo” que faz o que faz, mas ainda assim “está no seu direito”, percebes o disparate? Enfim, o texto é muito descritivo, é o narrador que vai nos contando os pormenores e intercalando, no seu narrar, as falas das personagens. Esse tipo de texto pode afastar os leitores mais “preguiçosos”, os mais acostumados com textos mais “arejados”. Há situações de “gato e rato” repetitivas, isto é, há vários causos de Tristão e Isolda tentando encobrir seu relacionamento de amantes perante o Rei Marcos, tio de Tristão e marido de Isolda, que são exaustivamente trabalhados e que beiram um pouco ao cômico, herança do “verniz” citado acima. Ainda assim, a história é muito boa! Vale a leitura (há gigantes, poções mágicas, dragões, decapitações e astúcia, muita astúcia no conto). Nesta edição, só faltou mesmo um bom texto de apoio, um texto que orientasse o leitor sobre o contexto histórico da lenda – não há nada, nem nas orelhas, nem na sobrecapa!!