Anderson 19/09/2015
Luzilá Gonçalves é um ícone da literatura pernambucana e grande representante da literatura feminina, premiada dentro e fora do país, o que essa mulher faz em Rios Turvos é um processo de criação genial! Partindo de documentos reais sobre a Inquisição e Bento Teixeira, autor da Prosopopeia, a escritora cria-lhe uma quase biografia com foco em sua esposa Filipa Raposa.
A história parece sempre ser contada por homens, Bento Teixeira em seus depoimentos afirmou que Filipa o traíra em cada vila em que viveram juntos. Passaram por Olinda, Igarassu e Cabo de Santo Agostinho fugindo da língua ferina dos vizinhos e na tentativa de deter a libertinagem da esposa. Até que ele a matou (não é spoiler, ok?). Porém essa é a versão do poeta, o que Filipa teria a dizer disso tudo? Nesse romance histórico, que é sobretudo uma história de amor, Luzilá dá voz e forma a Raposa como uma mulher audaciosa, sedutora, inteligente, brilhante e amorosa da qual o nome tem muito a dizer, que é reprimida pelo marido e vive magoada por ele.
Com uma escrita saborosa, fluente e inteligente, para os amantes da literatura é uma leitura ainda mais deliciosa, pois, nos encontramos pensando onde acaba a veracidade da história e onde começa a ficção na narrativa, uma vez que Luzilá é grande historiadora e pesquisadora que respeita muitíssimo os fatos quando cria seus romances. E ainda o prazer de reconhecer Camões, Gil Vicente e tantos outros que fazem intertextualidade com esse livro.
Outra riqueza é que apesar do plano histórico (Brasil do Século 16 e a biografia de Bento Teixeira) esse livro é uma grande história de amor e poesia, a qual minhas palavras nunca farão jus. Versa sobre ser judeu em meio a uma cultura cristã, sobre religiosidade, amor e liberdade.
Por fim, preciso acrescentar que tive a honra de conhecer a autora, super simpática e gentil, que me autografou o exemplar e participou de uma bela mesa redonda sobre suas obras, literatura e afins. Grande prazer! (tanto a leitura de Rios Turvos quanto conhecer Luzulá).