Arsenio Meira 23/08/2013
"Now all the criminals in their coats and their ties/Are free to drink martinis and watch the sun rise"
Li esse romance em 2007. Depois, em 2011, reli. E, pecado supremo, não o cadastrei aqui. Mas agora o faço, junto com minhas impressões sobre a obra.
Vivendo na Cuba dos anos 90, durante o boicote econômico imposto pelos Estados Unidos, Pedro Juan descreve a miséria, a fome e a falência do sistema público do país através do seu pequeno universo. É a partir do seu dia-a-dia e dos acontecimentos que o cercam, que ele aproveita para tecer comentários, denunciando de maneira indireta toda a degradação humana da população cubana.
Escrito em forma de contos, segue uma seqüência não-linear, mas que se completam, mantendo uma certa ordem, construindo uma visão ampla e particular de Cuba. Os personagens aparecem, depois somem, mas isso não se torna um problema, Pedro Juan conta sua história em episódios, de maneira simples e com frases impactantes merecedoras de grifo.
"Trilogia Suja de Havana" é o típico livro que só deveria ser vendido em sebo. Vendê-lo numa mega-store de shopping center é tão descabido como vender champanhe no carnaval de Olinda. Isso porque o livro é sujo, violento, repulsivo e deprimente. É poético.
Pedro Juan Gutiérrez sabe como despertar aversão numa pessoa. Segue o mesmo estilo de John Fante e Charles Bukowski, mas com um peso de rabugice tremendamente maior. Não tem o aspecto de aventura junkie de Fante ou Bukowski, é muito mais denso. Fante e Bukowski parecem light, higiênicos, dois coroinhas perto de Pedro Juan.
A diferença talvez venha do ambiente: uma realidade brutal e repugnante bem parecida com a apresentada por Paulo Lins em "Cidade de Deus" e Rubem Fonseca no conto "Feliz Ano Novo." É a mistura do estilo dos junkies americanos com a miséria social da América Latina.
Em meio a tudo isso, Pedro Juan ainda consegue demonstrar sua sensibilidade. Escrito num período de reavaliação, ele expõe todos os conflitos e angústias, crises e desilusões de alguém que chegou aos quarenta anos e decidiu mudar de vida.
Estraçalhado por amores do passado, ele vai aprendendo a conviver com a solidão, se endurecendo, tentando sobreviver sem luxo, à base de sexo, rum e maconha.