DIRCE 10/01/2012
Singular ou pluralista?
Antes do começar a falar sobre este livro, preciso dizer que ao ser presenteada pela minha filhota com o livro “ Poemas Selecionados – Fernando Pessoa ele- mesmo e heterônimos”, mesmo antes de abri-lo, ele se tornou para mim um livro de inestimável valor, depois de feita a leitura então...
Eu já tinha lido poemas de Fernando Pessoa, é claro, mas pela web, até então, não tinha pegado um livro desse poeta nas mãos.
Não saberia dizer se é um livro direcionado a todos os leitores, porém, posso afirmar que foi direcionado a minha alma.
Disse Drummond: “ Mundo, mundo vasto mundo, seu eu me chamasse Raimundo seria uma rima não seria uma solução(...)entretanto, criar várias heterônimos (não só nomes - pseudônimos distintos, mas personagens com biografias distintas) parece ter sido ( na minha humilde visão de ledora) a solução que Pessoa encontrou para extravasar não só o seu enorme talento, mas a dores decorrente do pensar e as sensações inerentes ao viver.
Depois de ler e me deleitar com os poemas constantes no livro : do próprio Pessoa, de Alberto Caeiro, Ricardo Reis e de Álvaro de Campos, me perguntei como eu definiria esse GRANDE POETA? Como um poeta singular ou pluralista? Talvez lhe caiba ambas as definições, pois Pessoa consegue ser a um só tempo único e inimitável e um pluralista -no sentido que consegue se desdobrar em múltiplos “eus”
Doravante, será meu livro de cabeceira.
PS.:
Gostei muito deste poema: me pareceu retratar o quanto somos moldados pela sociedade.
Vivem em nós inúmeros;
Se penso ou sinto, ignoro
Quem é que pensa ou sente.
Sou somente o lugar
Onde se sente ou pensa.
Tenho mais almas que uma.
Há mais eus do que eu mesmo.
Existo todavia
Indiferente a todos.
Faço-os calar: eu falo.
Os impulsos cruzados
Do que sinto ou não sinto
Disputam em quem sou.
Ignoro-os. Nada ditam
A quem me sei: eu escrevo
( Ricardo Reis – pg. 113)