deborafv 02/02/2021
Conheci Rodrigo Rey Rosa por ser um autor guatemalteco mas estava desanimada de lê-lo porque as notas aqui no Skoob não são muito promissoras. Porém, como já tinha comprado o livro, resolvi dar uma chance e, para a minha surpresa, gostei bastante da história e da narrativa.
O autor traz reflexões sobre as ditaduras focando na que ocorreu na Guatemala, que causou o "desaparecimento" de mais de 140 mil guatemaltecos (alguns ativistas dos direitos humanos informam que são mais de 250 mil mortos), sendo uma das mais violentas ditaduras latino-americanas. E mesmo o livro sendo escrito após este período, o autor sofreu reprimendas e ameaças ao tentar abordar o tema.
Outro ponto é que Rey Rosa contextualiza os ocorridos citando e fazendo analogias com autores como Voltaire e me choca como esses filósofos parecem já ter dito tudo o que tinha para ser dito a respeito da natureza humana há séculos:
"Convém lembrar que os delitos mais leves, como a falta da chamada "carteira de trabalho" que se exigia dos indígenas, privados da posse de suas terras por decreto governamental, continuavam sendo punidos em 1944 com trabalhos forçados em obras do governo e em fazendas particulares - fazendas criadas com os despojos das "terras de índios"). Típico e original? Já no século XVIII, ao comentar o tratado "Dos delitos e das penas", de Cesare Beccaria, Voltaire escreveu: "Parece que em tempos de anarquia feudal os príncipes e os senhores, estando bastante pobres, tentaram aumentar seus tesouros despojando e condenando seus vassalos, para assim conseguir uma renda com o próprio crime"