Nathani 13/07/2023"Gostaria de me entender com exatidão antes que seja tarde demais."Eu não sei muito bem como falar desse livro já que ele me deixou totalmente sem palavras mas vou tentar…
A história em si é aparentemente simples: Antoine Roquentin é um historiador de 30 anos de idade que está viajando pelo mundo devido à pesquisa sobre o marquês de Rollebon para seu livro. Ele sente uma angústia que não consegue a princípio compreender mas que o afasta de seu objeto de estudo cada vez mais, portanto decide relatar em um diário os seus sentimentos para tentar analisá-los fora de si. É esse diário que lemos no romance, as tentativas de um homem que busca se entender e encontrar onde se encaixa no mundo.
"Nada parecia verdadeiro; eu me sentia rodeado por um cenário de papelão que podia ser
bruscamente transplantado. O mundo esperava, retendo respiração, encolhendo aguardava sua crise, sua Náusea..."
Seria essa angústia algo íntimo e individual ou apenas o cerne de toda existência humana? Quanto mais ele se aproxima de seu interior, mais ele chega a conclusões sobre os motivos e propósitos das ações dos seres humanos e mais ainda, sobre sua existência como indivíduo e como sociedade. Mas de forma alguma isso o alivia ou aproxima das outras pessoas. A náusea, como ele nomeia esse sentimento, o sufoca, o faz encarar a realidade de uma maneira que talvez jamais deveria ser vista por qualquer um de nós.
"Nada mudou e no entanto tudo existe de uma outra maneira. Não consigo descrever; é como a Náusea e no entanto é exatamente o contrário: finalmente me acontece uma aventura e, quando me interrogo, vejo que me acontece que sou eu e que estou aqui; sou eu quem fende a noite, estou feliz como um herói de romance."
A náusea permeia e paralisa toda sua pesquisa, sua relação com outras pessoas e sua vida. Alguns repentes do que Antoine chama de sentimento de aventura surgem em meio a névoa causada pelas suas reflexões e sua melancolia, ele luta por fazê-lo durar. "Gostaria de recuperar o controle: uma sensação viva e abrupta me libertaria."
Li esse livro logo depois de A paixão segundo G.H. de Clarice Lispector e as duas obras conversam perfeitamente. Se você gosta de Clarice, leia A náusea. A narração do diário é tortuosa em meio aos devaneios e reflexões, algo como um fluxo de consciência toma conta de grande parte, é uma escrita deliciosa de acompanhar mesmo nos momentos mais densos. "Quis que os momentos de minha vida tivessem uma sequência e uma ordem como os de uma vida que recordamos. O mesmo, ou quase, que tentar capturar o tempo."
O final me surpreendeu e encerra o romance com chave de ouro. Recomendo demais, vale muito a pena para quem gosta desse tipo de leitura.
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