Luciano Luíz 05/09/2015
ANJO NEGRO é uma peça teatral magistral de NELSON RODRIGUES.
Aqui temos um preto que casa com uma branca pelo fato de que odeia ser negro. Assim quando começa a nascer os bebês, a esposa pega e os mata. Por quê? Porque são pretos e ela quer um filho branco. Afinal, está presa em casa desde que casou e aí a mente começa a funcionar de forma corroída.
Quando o terceiro filho morre (é morto), aparece o irmão cego do marido preto. Mas o jovem é branco. Que quando criança, teve os remédios trocados pelo irmão preto, causando sua cegueira. Ah, sim, eles são irmãos de criação. Mas o branco aparece, acaba tendo uma foda com a branca e aí ela engravida. O preto mata o irmão branco com um tiro na cara e então diz pra mulher que quando a criança nascer, vai matar também. Já que ela matou três, o que é ter mais um mortinho?
Só que esse ela quer que viva, pois o defunto branco disse que quando o menino crescesse, era para ser amado como homem e não filho.
Só que aí nasce uma menina. O preto não a mata, mas derrama ácido nos olhos e assim ela fica cega como o pai. No entanto, o preto enfia na cabeça da menina que ele é seu pai, e é branco. E que toda a raça humana restante no mundo, é constituída por pretos. Dessa forma, ela acaba se tornando sua amante e a mãe quer a sua morte.
Enfim, é um texto de Nelson Rodrigues, e todo o sexo entre familiares e o linguajar pesado é algo normal na obra do autor. A peça foi escrita em 1946 e somente dois anos depois pôde ser montada.
O livro retrata o racismo de uma forma que naquela época, as pessoas de cor eram consideradas inferiores e que devia existir de forma biológica alguma diferença entre as raças.
No entanto sabemos que raça humana só existe uma. O que nos diferencia são tão somente etnias e a cultura.
Mas o personagem preto (Ismael) é extremamente racista contra a sua própria cor. Pois queria ser branco desde criança. E por isso, acabou casando com uma branca (Virgínia) para mostrar todo o seu ódio. E ela como não gostava do preto, só encontrava paz na morte dos filhos. Aí o irmão branco (Elias) lhe pareceu ser a solução definitiva. Mas não veio menino, e sim, menina (Ana Maria).
A peça é divertida, tem momentos de dramaticidade e mostra que a sociedade daquela época em boa parte continua sendo a mesma na questão da cor do ser humano em pleno século 21. É uma verdadeira aula cultural onde pode-se tirar todos os tipos de análise.
Um livreto mais do que recomendado.
Nota: 10
L. L. Santos
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