Luciana Lís 27/02/2015
A leitura de O Jardim de Cimento conduz o leitor a uma experiência nauseante e irreparável, quando quatro irmãos perdem os pais e os enterram sob cimento dentro dos limites de casa. Sem saber como lidar com o luto e a liberdade repentina, passam a viver isolados dentro de casa, de modo quase patológico, sob pena de sair de casa e serem submetidos, inconscientemente, a náuseas e vômitos. Os jovens estão completamente entregues à negligência da própria sorte, à solidão e às súbitas fantasias que os seduzem para o sexo e a morte.
A estrutura da família passa por uma espécie de mimetismo, uma adaptação à nova realidade e sem qualquer regulação moral, o que envolve incesto e travestismo sem o questionamento por parte de qualquer um deles.
Julie é mais velha, tem 16 anos, e, inconscientemente, provoca Jack, de 15 anos, que se masturba viciosamente; Sue é sensível e guarda suas impressões no diário; Tom, o caçula, criança ainda na primeira infância, passa a se travestir para o divertimento das irmãs.
A vida dos quatro irmãos é abalada drasticamente quando Julie leva Dereck, seu namorado, para o convívio entre eles. O rapaz, por sua vez, choca-se cada vez mais com a perturbação daquele lar e também com o fétido cheiro de cadáver que insiste em passear diante do seu nariz toda vez que adentra aquela casa.
Macabro e perturbador, este livro não deixa de ser excessivamente convidativo ao inferno da existência dessas crianças. Sem divagações líricas ou floreios, O Jardim de Cimento, primeiro romance do inglês Ian McEwan, já revela sua habilidade técnica e seu domínio da narrativa, consagrados em obras como Reparação e Amsterdan, este último vencedor do Man Booker Prize.
Por: @lucianalis
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