Luiz 31/12/2023
A Ortodoxia é a bússola, o mundo moderno a perdição
Livro: Ortodoxia
Autor: G. K. Chesterton
Quando Chesterton escreveu o livro "Hereges" os intelectuais que criticou afirmaram que ele não havia proposto nada, se ele havia apontado os erros, filosóficos, deles, então o porquê não havia proposto uma filosofia melhor?!
Chesterton prontamente mostrou que frente as heresias de seus amigos intelectuais da época, a "mentalidade" ortodoxa era a melhor maneira de encarar o mundo. Mas responder isso implicaria a falar um pouco sobre o como chegou a este princípio.
Chesterton nos conta que em sua busca por conhecimento deparou-se com inúmeros grupos gnósticos e agnósticos, até mesmo ateus e progressistas, ao passo que se deslumbrava e se descepcionava com eles, decidiu fundar a sua própria heresia, mas ao tentar fazer isso descobriu que ao final, ela não passou de uma grotesca caricatura do Catolicismo.
"Confesso livremente todas as ambições idiotas do fim do século XIX. Tentei, como todos os outros rapazotes solenes, estar à frente do meu tempo. Como eles, tentei estar alguns minutos adiante da verdade. E descobri que estava mil e oitocentos anos atrasado; afetei uma voz de exagero dolorosamente juvenil ao proferir minhas verdades, e foi punido da forma mais justa e irônica, pois mantive minhas verdades: só que descobri, não que não eram verdades, mas que simplesmente não eram minhas. Quando imaginei que estava sozinho, na verdade encontrava-me na ridícula posição de ser sustentado por toda a Cristandade. Pode ser, e os céus me perdoem por isto, que tenha de fato tentado ser original; mas só consegui inventar uma cópia inferior das tradições já existentes da religião civilizada. [...] Tentei realmente fundar a minha própria heresia; e quando tinha dado os últimos retoques a essa obra, descobri que era a ortodoxia."
(G. K. Chesterton, p.13)
Complementando o que havia escrito em Hereges, Ortodoxia é uma defesa filosófica fantástica do cristianismo e do catolicismo. O mundo está no caos atual por ter se afastado e deixado de lado a Ortodoxia cristã. Nesse mundo invertido o cristianismo progressivamente foi dando lugar ao pensamento "científico" e progressistas.
Nesse mundo moderno em constrate com a realidade cristã temos:
? O louco é tido como o "sem razão", quando na verdade é o excesso de razão que o faz elonquecer. O mundo está extremamente racional, tudo demanda explicações perfeitas e elaboradas, e devemos crer nos dogmas cientificos mais do que nos dogmas cristãos. A loucura começa quando ele rechaça a verdade divina e a coloca em xeque, ao passo que coloca a sua razão como medida de todas as coisas, invertendo a lógica real.
? O mundo moderno está cheio de pessoas que acreditam em filosofias e espiritualismos que pregam que acreditem nelas mesmas, acabam por cair em determinismo e materialismo, quando o Cristão na verdade deve acreditar em algo fora dele, e não nele mesmo ou em algo que ele possua, não atoa a sociedade está repleta de loucos com fé em si mesmos, presos em razões sem sentido e desconectados de tudo.
? o mundo moderno só é bom por se valer ainda de virtudes cristãs, mas virtudes essas que são desconectadas umas das outras, quando se abole a religião, que é o que sustenta a razão, automaticamente a razão perde seu chão. As filosofias atuais não só contém temperos de loucuras, como também promove, algumas, uma loucura suicida.
? nesse mundo moderno, despreza-se os limites e leis, mas esquecem que tudo na natureza existe a medida que se tem esses mesmos limites. Ao questionar tudo, o revolucionário moderno, dúvida de tudo, mas quer confiar em si mesmo. Ao se rebelar contra tudo não pode fundar-se em nada, pois até suas bases são questionadas, torna-se um relativista que não revoluciona nada. Nietzsche era a prova cabal de uma vítima de sua própria loucura.
? os pensadores modernos diferem dos grandes heróis cristãos, que lutavam em nome de Deus, em nome de um algo maior do que eles, mas os modernos pensam em si mesmos, fecham-se a si mesmo, ficam loucos e enlouquecem outros que o seguem, ao passo que não possuem a capacidade de lutar por nada, nem de morrer por nada. Na busca por superação e força, mostram-se fracos e insignificantes, incapazes de sustentarem seus próprios enganos.
? o homem moderno exata um especialista, um tecnocrata, a ciência, o filósofo, mas o cristão, o religioso, ele exalta e da voz ao homem comum. O homem comum é esquecido na política atual. No mundo moderno o homem arroga o direito de julgar tudo, mas no mundo cristão é o céu que julga a terra, não o contrário. Até nos contos de fada, existe uma lógica que ainda permanece, o bem vence o mal, mas no mundo moderno, essa lógica não existe e tudo é possível, não há leis.
? o determinismo moderno não é muito diferente do Calvinismo, ambos compactuam com uma visão completamente previsível do mundo, é o princípio materialista, racional, como uma engrenagem que se movimenta repetidamente da mesma forma sem nunca sair do seu "propósito". No fim das contas os modernos são loucos presos em seus próprios mundos. São grades intransponíveis, ele pode ser cada vez mais descoberto, pode ser maior, pra lhe dizer que ao fim você está preso.
? enquanto no mundo moderno somos meras marionestes de leis a serem descobertas, no mundo cristão, Deus nos criou para sermos livres e que caso queiramos podemos chegar a ele, entendendo que a verdade desse mundo não está nele ou na realidade da natureza, mas fora dele, transcende esse mundo. Para o moderno, deve-se encarar o mundo com otimismo pois a verdade do mundo está nele, basta mudar o mundo, suas leis, a si mesmo, basta se encaixar ou concertar tudo para que tudo seja bom ou belo, mas o cristão é um pessimista, ele sabe que nada do que fará mudará o sentimento de que não pertence a este mundo e que algo sempre estará errado, a verdade está para além dele.
? o mundo moderno não suporta o cristianismo pois não consegue lidar com os mistérios que ele proporciona, o cristianismo promove uma verdade lógica, mas que exige uma parte de ilógica, coisa que um racionalismo extremo do moderno, não pode assumir. O mundo moderno é uma negação completa do cristianismo, ao passo que crítica tudo do cristianismo, funda filosofias que o utilizam como base, incapazes de fugir a essa realidade, basta-se atacar para diminuir a sua importância e elevar a "relevância" de suas teorias.
? no mundo moderno criou-se uma imagem de um mundo imaginário futuro para se espelhar nele, seria essa imagem que tornaria essa mudança tão importante de acontecer, mas o que acontece de fato é que quem muda somos nós, o homem, que na verdade é mudado, o mundo não fica melhor, ele fica pior, cada vez mais se tem um mundo com menos justiça e misericórdia, enquanto que o mundo cristão, promovia justamente esses valores. Se pensarmos seriamente, a doutrina do progresso é o bastante para não ser um progressista.
? o mundo moderno tem uma tendência a colocar a Natureza e suas leis como superiores ao homem, a "Mãe Natureza" deve ser respeitada em sua autoridade, devemos segui-lá, sermos mais um animal em sua proteção, mas esse é um ponto de contradição ao cristianismo, na verdade a Natureza nada mais é do que algo semelhante a nós, pois temos o mesmo criador, mas somos nós que temos a autoridade sobre ela, não o contrário.
Chesterton nos mostra que o mundo moderno caminha numa completa oposição a ortodoxia cristã, cada vez estamos em mundos diferentes, sem entender a ortodoxia não compreendemos o que há de errado com o mundo, pois tudo está em como os modernos construíram esse mundo para nós e fomos seduzidos por eles.
Assim como esses temas diversos outros são tratados. O que torna o livro Ortodoxia uma preciosidade. Tornou-se um dos meus livros preferidos desse ano, e o meu preferido da trilogia Hereges-Ortodoxia-O Homem Eterno.
Uma vez estabelecido as críticas aos modernos em Hereges, o contraste entre esses dois mundos em Ortodoxia, em O Homem Eterno, temos a visão de o como o mundo foi mudado positivamente pela presença do Cristianismo e de um homem chamado Jesus Cristo.
"A ciência admitirá até mesmo a Ascensão se for chamada de Levitação, e até mesmo a Ressurreição será aceita quando surgir outra palavra para ela. Sugiro Regalvanização. Mas o mais forte dos dilemas é o acima mencionado, de que essas coisas sobrenaturais nunca são negadas, exceto sob a base da anti-democracia ou do dogmatismo materialista -- ou melhor, do misticismo materialista. O cético sempre toma uma dessas duas posições; ou um homem comum não merece crédito, ou um evento extraordinário não o merece. [...]
(G. K. Chesterton, p.200)
"Este foi o grande desastre do século XIX: os homens começaram a usar a palavra "espiritual" como sinônimo da palavra "bom". Pensaram que crescer em refinamento e imaterialidade era crescer em virtude. Quando a evolução científica foi anunciada, alguns temeram que ela encorajaria a mera animalidade. Fez muito pior: encorajou a mera espiritualidade. Ensinou os homens a pensar que tinham vindo do macaco e que estavam avançando rumo aos anjos. Mas é possível vir do macaco e ir rumo ao demônio."
(G. K. Chesterton, p.201)