SHIVA

SHIVA A. B. Yehoshua




Resenhas - SHIVA


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MIRANDA 01/05/2021

PALAVRA PARA O LIVRO : MIMADO
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Rub.88 14/11/2020

A Mulher Que Não Podia Ficar Sozinha...
Será que já chegou o momento para dizer que o amor é ridículo por ser intraduzível? Que pode ser sentido como dor e deleite simultaneamente sem serem auto anulados, transformando e guiando todas a decisões simples da vida. Onde olhares não são trocados, mas recebidos por cada parte com intensidade própria e interpretados misteriosamente pela vivencia de cada alma solitária. O encontro fortuito e forçado entre pessoas que nunca se conheceriam tem poder uni-los em igual paridade de desejos e anseios? A pergunta calada no íntimo, soterrada por convenções sociais e vergonhas inconfessáveis pesa como um crime de responsabilidade na consciência de quem acredita que a vida tem, precisa, ser vivida o mais completamente possível...
No livro Shiva do escritor israelense Abraham B. Yehoshua começa com um jovem medico que procura colocação no centro cirúrgico num hospital conceituado em Tel Aviv. Disputando vaga com outro pretendente ao cargo acaba aceitado a incumbência de viajar a Índia com o diretor do dito hospital para buscar a filha mochileira que adoeceu. A contra gosto e vendo isso mais com um rebaixamento, mas também uma oportunidade para obter futuras vantagens, se prepara para a expedição. O que ele não esperava era que a esposa do diretor também fosse se emprenhar no país exótico. Ele via tudo aquilo como uma emergência medica de resgate em que menos pessoas significa rapidez de movimento e menores chances de problemas sérios em lugares que ninguém ali tinha experiencia previa. Mas como convidado forçado, embarcou nessa armadilha. Como gíria comum aqui entre o Membros.88 classificamos Armadilha aquele rolê que não se quer ir porem é obrigado; aniversario de criança, festa de batizado, casamento Evangélico, show de banda de amigos, churrasco sem cerveja...
Doutor Rubin não tem outra alternativa além de se conformar e agir com profissional qualificado. Se vacinou e vacinou a todos os integrantes da comitiva. Preparou um abastecido kit medico para o tratamento da enferma e pé na estrada. A primeira parte do livro é excelente, e isso me enganou. A viagem e o cenário indiano são extremamente detalhados, fazendo parecer que os personagens seriam secundários e a experiência da jornada seria o amago do romance. Longos trajetos de trem. As cidades turísticas apinhadas de gente. O Ganges. As cerimonias fúnebres. Porem quando enfim conseguem transladar a jovem, que precisou até de uma transfusão sanguínea, de volta a Israel, a estranheza do enredo começasse a se perceber. Tudo indicava uma estória de ligação amorosa entre a doente, frágil e meio rebelde, e o médico bonitão, solteiro e sério. O escritor não escancara essa possibilidade, mas deixa tão em aberto que era logico o desenvolvimento dessa relação. Ah... essa nova mania de Plot Twist impossíveis também tem na literatura. Doutor Rubin numa escala em Roma, já de volta do subcontinente indiano se descobre apaixonado pela mulher do diretor do hospital. Uma senhora de mais de 50 anos, ele tem 29, gordinha e baixinha. E para além dessas particularidades físicas que não quer dizer muita coisa, é uma pessoa irritante e mimada. Na viagem fica reclamado dos hotéis e das andanças do jovem médico que queria ver um pouco dos lugares próximos sabendo que talvez nunca voltasse lá. Incompreensível pra mim, mas o coração quer o que o coração quer e o autor de uma estória é dono de todos os destinos debaixo da sua caneta.
Muito daí em diante é o desenvolvimento desse amor. As tentativas de fuga desse sentimento constrangedor. O casamento com uma mulher independente para dar o véu de segurança ao caso com a senhora. Nascimento de uma filha que tem o nome do livro. Pensamentos profundos sobre existência e transmigração da alma. Isso tudo num ambiente hospitalar que lembra o seriado Plantão Médico dos anos 1990. Fiquei saturado desse romance. Extremamente longo para tamanha falta de enredo. Muitas operações e poucos diálogos. E uma necessidade obsessiva de usar dupla adjetivação. Fiz até um pouco de troça disso no começo do texto. Escrita genial e redundante. Shiva podia, fácil, ter metade do tamanho. Claro que num livro assim o importante não é estória e sim a habilidade com as palavras...
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 26/03/2018

A. B. Yehoshua - Shiva
Editora Companhia das Letras - 536 Páginas - Tradução direta do hebraico de George Schlesinger - Lançamento no Brasil: 08/12/2000.

Abraham B. Yehoshua representa, juntamente com Amós Oz e David Grossman, a fina flor da literatura contemporânea israelense. Os três autores são conhecidos por suas posturas políticas liberais, assim como sendo fervorosos ativistas por uma solução pacífica para o conflito entre Israel e os territórios palestinos ocupados desde 1967. De qualquer forma, neste quinto romance de Yehoshua, lançado originalmente em 1996, a política no Oriente Médio é um tema ausente. O escritor aborda questoes mais humanistas e ambiciosas do ponto de vista literário, utilizando-se para isso de temas como o amor, morte e até mesmo transmigração de almas. É preciso, no entanto, alertar o leitor de que a a abordagem aqui pode não ser exatamente o que se espera de um romance ambientado na Índia, embora conte sim com ricas descrições da cultura e religiões locais.

O protagonista e narrador em primeira pessoa, Benjamim Rubin ou simplesmente Benjy, tem 29 anos e é médico residente em um hospital particular de Tel Aviv, já no final do seu ano de experiência no departamento cirúrgico. Após se dedicar integralmente ao hospital durante o período de residência, sem amigos e uma vida amorosa nula, ele aguarda com ansiedade a sua aprovação como médico assistente. No entanto, para sua decepção, tudo leva a crer que perderá a vaga para um colega, que supostamente é mais identificado com as características necessárias a um cirurgião, segundo o chefe de departamento. Surge então uma indicação e convite para acompanhar Lazar, o diretor administrativo do hospital, numa viagem à Índia com a finalidade de trazer de volta para Israel a sua filha que adoeceu gravemente de hepatite em uma localidade remota do país.

Contrariado pela falta de perspectivas profissionais no hospital, Benjy acaba aceitando o convite para a viagem após ser aconselhado pelos pais e amigos. Afinal, o atendimento ao pedido do diretor poderia lhe render algum crédito profissional em um futuro próximo. O que Benjy não esperava é que teria que acompanhar não somente Lazar, mas também a sua esposa Dori, descrita assim pelo nosso narrador: "uma morena rechonchuda de altura mediana, cerca de quarenta e cinco anos" ou ainda em outro trecho: "Percebi que ela estava disposta a ficar presente o tempo todo, e mais uma vez me pareceu diferente, talvez um pouco mais jovem, porém mais feia, baixa e atarracada (...)". Além da avaliação física pouco favorável, ela se mostra aos poucos uma mulher mimada e controladora do marido

Durante a viagem, o convívio com o casal de meia idade se transforma em um martírio para o jovem médico e o já fragilizado Benjy se isola um pouco, passando neste momento por uma forte experiência espiritual na sagrada Varanassi, a cidade de Shiva, o deus da destruição, às margens do rio Ganges, no caminho entre Nova Delhi e Gaia. Este contato com a espiritualidade latente do país provocará mudanças na sua personalidade e despertará uma paixão surpreendente, não pela filha do casal que está sendo resgatada, Einat de vinte e cinco anos, como seria de se supor, mas sim por Dori, mulher de Lazar, diretor do hospital.

"O pequeno carregador conduziu-me com agilidade às margens do rio e a uma câmara ritual que ele chamou de Lalita, aonde descemos por numerosos degraus quebrados, abrindo caminho entre cores e odores fortes que exalavam os peregrinos, brâmanes e mendigos. Ali, sem me pedir permissão, ele empurrou-me delicadamente para uma das barcaças, em que já estavam dois jovens mochileiros escandinavos, e rumamos para o coração do rio, para assistir aos rituais de dentro das águas sagradas. Mulheres de saris desciam os degraus de modo lento e gracioso, prendendo os cabelos com as mãos e mergulhando-os na água; os homens, quase nus, mergulhavam fundo, desaparecendo por um bom tempo até emergirem purificados. A distância, pontuando a extensa margem, viam-se também as câmaras apinhadas de peregrinos que executavam em profunda reverência seus deveres rituais. Então, na penumbra da noite que caía, começaram a soar dos alto-falantes longos chamados de oração. Muitos fiéis saíram da água e postaram-se na margem do rio ou nos degraus, orando e praticando complicados exercícios de ioga. Também o nosso barqueiro abandonou o posto, ajoelhou-se e rezou longamente, enquanto o barco seguia livre para uma câmara próxima, na qual espirais de fumaça branca se erguiam de uma grande pira vermelha onde estavam sendo cremados os mortos." (Pág. 79)

Talvez, a maior virtude do romance, seja a habilidade de Yehoshua com sua prosa fluente, de manter a tensão do argumento e indefinição sobre os motivos que levaram o protagonista a se envolver por uma paixão tão improvável quanto impossível, que afetará toda a sua vida. As mudanças de Benjy se devem a fenômenos espirituais, provocados pelas fortes experiências vivenciadas durante a viagem à Índia, ou pela fragilidade psicológica e emocional do protagonista. Um homem imaturo e solitário, dedicado excessivamente à profissão e muito pouco à sua vida pessoal, sempre influenciado pela orientação constante e racional dos pais. Neste ponto, Benjy é um narrador nada confiável e o leitor terá que chegar sozinho às suas próprias conclusões.

"Era a quarta mulher com quem eu ia para a cama, mas foi a primeira que conseguiu me dar a sensação especial de estar conduzindo um grande e silencioso veleiro para dentro de um ancoradouro estreito de águas profundas. Ao contrário das outras, não me assustou com súbitos gritos e profundos gemidos: nenhum som saiu da sua boca durante toda a relação; até mesmo a sua respiração se manteve tranquila e silenciosa, como se a surpresa com sua aquiescência bloqueasse qualquer vontade de atingir um prazer mais intenso. E revelou-me que era a primeira vez na vida que traía o seu Lazar. Viu-se obrigada a me contar isso logo que se libertou dos meus braços e se levantou para vestir-se apressadamente. Eu acreditei, e junto com o orgulho que preencheu meu coração senti também tristeza pelo que tinha lhe acontecido. Para provar que ela sempre podia confiar em mim, não fui procurar as minhas roupas, espalhadas no tapete da sala; continuei nu, sentado na cama numa posição oriental. 'Você é como aquele piloto alemão maluco, que roubou um aviãozinho leve, penetrou em território russo enganando todos os radares e aterrissou na praça Vermelha, em Moscou", disse com um sorriso de leve ressentimento, arrumando os cabelos despenteados para prendê-los de novo num novo coque." (Pág. 209)

A inusitada paixão de Benjy pela mulher mais velha se torna obsessiva e indica prováveis consequências trágicas para todos. O comportamento moral dos personagens é sempre questionável, prova disso é que Benjy decide se casar para ficar em condições de igualdade com a sua amante que afirma ter muito mais a perder do que ele. Sempre pensando na sua paixão por Dori e até mesmo de forma a viabilizá-la, Benjy decide se casar com Micaela, que viveu na Índia com Einat, filha do casal Lazar. Desta união nascerá uma menina chamada Shiva, um deus que é símbolo de transformação no hinduísmo e também significado de retorno, como se escreve no idioma hebraico: Shivá.

Esta resenha pode parecer muito detalhada, mas garanto que o livro, escrito com maestria, oferece muitas surpresas em suas mais de quinhentas páginas. Romance psicológico ou de cunho espiritual, seja lá qual tenha sido a intenção principal do autor, é preciso admitir que a experiência de viver na Índia é mesmo incompreensível para a nossa cultura ocidental, um lugar onde, nas palavras da personagem Einat, "o tempo é outro, mais livre, aberto, não preso a um objetivo. Sem ansiedade.", ou seja, "o tempo que ainda não foi estragado", uma sensação de que "o globo terrestre parou de girar, ou que nunca chegou a começar. E cada hora só existe para si mesma, como se ela se bastasse. E dessa forma, nada se perde".
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Guy 20/09/2016

Shiva o deus da destruição de uma mente sem rumo nem alma, exceto pela medicina
Shiva o deus da destruição ao contrário da criação mostra que mesmo com o advento de uma criança num relacionamento, se voce pode complicar, para que simplificar.
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léo 08/07/2015

shiva
O livro é bom, mas , poderia ser menos detalhado!
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