Daniel.Prattes 23/04/2022
Discussões filosóficas como pretextos para reflexões, digressões, sobre vários aspectos da vida tão inusitados quanto heterogêneos. A obra apresenta-se como uma viagem do protagonista, afastado da realidade, do espaço e do tempo, numa espécie de bolha que constitui um sanatório de altitude situado na Suíça no início do século XX, pouco antes da Primeira Guerra Mundial . No alto da “montanha”, em seus últimos momentos de uma paz precária e comprometida pelo comportamento suicida das sociedades ocidentais, os pacientes do sanatório se ocupam da dialética e de jogos inocentes.
O protagonista, Hans Castorp, uno, nos é apresentado e então subdividido e vivificado em seus companheiros no sanatório. Castorp é o estranho que aos poucos é assimilado pela construção robusta sobre a montanha e então desconectado da realidade do mundo. Acompanhado por Ludovico Settembrini, pedagogo e escritor democrata e por seu notável oponente Léon Naphta, um obscuro jesuíta, medieval, teocrata e cínico - cada um convencido de seu lado de estar absolutamente certo -, e também pelo médico Behrens, cáustico e pragmático.
Doente, Castorp se espraia por seu leito e permite que a doença o situe no mundo, procurando pela honra em estar convalescente – qualquer significância para a sua existência diante da morte. Os pacientes são sombras da importância que dão a si mesmos, aprisionados no conformismo que a doença, que os come por dentro, a eles impõe.
Uma crítica ácida e cheia de ironia de Thomas Mann aos ricos europeus que gastavam rios de dinheiro em tratamentos de eficácia duvidosa, enquanto corroídos pelo ócio que depreendiam como sintoma da riqueza.
Exige paciência e exige do leitor esforço para enfrentar o enfado de seu leito e participar de uma conversa que atravessa o século a respeito do que constitui o homem-social.