Clóvis Marcelo 31/10/2013Esse post traz comentários acerca do pequeno livro que reúne contos do autor Ray Bradbury. Como as histórias são bem curtas, não cabe a mim estragar a surpresa dos leitores; sendo assim, falarei do que se trata cada história e da desenvoltura que Bradbury demonstrou em minha condição de leitor.
Em "A bruxa de Abril" conhecemos Cecy, uma bruxa com o poder de metamorfose que, proibida pelos pais de se envolver com humanos, instala-se no campo da jovem Ann Leary de modo a entender melhor os sentimentos de nossa espécie. Assim, ela "vivencia" o significado da paixão entre os seres humanos, de forma intensa e onírica.
"A sirene de nevoeiro" mostra o momento em que o faroleiro Mc Dunn e o jovem companheiro Johnny presenciam o despertar de uma fera milenar (semelhante a um dinossauro) que rodeia o farol e os faz questionar quanto à frágil condição humana diante da perda.
No terceiro e mais instigante conto, intitulado "A savana", somos apresentados a um casal com dois filhos que entregam-se às maravilhas da tecnologia. Bem como em 'Fahrenheit 451', sentimos a veia visionária e futurística de Bradbury em tempos tão remotos.
É construída uma casa com inteligência artificial e um quarto de recreação que tem a capacidade de se adequar às vontades de quem o programa. O ambiente preferido escolhido pelas crianças é uma savana africana. Com o passar do tempo, porém, os pais se dão conta de que os vínculos familiares haviam se desfeito e sentem-se impotentes frente à esta nova situação provocada pelo excesso de tecnologia no cotidiano familiar. Para tanto, são tomadas medidas extremas que podem não culminar da maneira que deveriam.
“Wendy e Peter eram muito pequenos para terem pensamentos letais. Mas não, nunca se é jovem demais, realmente. Muito antes de sabermos o que é a morte, já a desejamos para alguém. Aos dois anos de idade já baleamos pessoas com revólveres de espoleta.” Pág. 71
Por último, "O outro pé", narra acontecimentos ligados à terceira Guerra Mundial. Nela, os negros deixam a Terra e vão morar em Marte. Certo dia, eles recebem a notícia de que um foguete com um homem branco está para chegar. Neste momento, todos os sentimentos racistas e velhos ressentimentos voltam à baila. Só que o homem lhes mostra que enquanto os brancos destruíam a Terra, os negros construíram uma civilização e aí está a ironia da história. Um conto maravilhoso para se refletir sobre o preconceito e o racismo.
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Cada uma dessas histórias traz uma peculiaridade que se encaixa em gêneros diferentes da mesma forma. Vê-se a procura pelo amor, uma história futurística que envolve ficção científica, algo tranquilo e reflexivo semelhante a 'O velho e o mar' de Hemingway, além de preconceito e redenção.
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