Kaah_mgo 29/12/2022
É melhor uma felicidade barata ou um sofrimento elevado?
Li esse livro em dois momentos muito diferentes. Comecei durante o isolamento social da pandemia e terminei mais de um ano depois, tendo o reencontrado por acaso.
Talvez essa ruptura no tempo tenha possibilitado duas perspectivas diferentes sobre a história.
No começo senti pena do personagem, depois compaixão, depois um asco tão profundo e daí pena de novo porque, deus, como pode alguém desdenhar tanto assim de outro ser e logo em seguida mais ainda de si mesmo?!
Que dilacerante deve ser viver consigo mesmo e com a própria consciência!
E na página seguinte eu já retomava a desaprovação, quando o personagem retornava a se construir como moral e intelectualmente superior a tudo e todos.
Houve um momento que me identifiquei em seu sofrimento, inclusive: lembro dos cálculos mentais, ansiosos, antes de um evento social comum para a maioria e dilacerante para mim, de não saber o que fazer, que assuntos conversar, como me mover no espaço...
Finalizando a leitura em um momento pessoal melhor, consegui recuperar a compaixão pelo personagem, mesmo ele cuspindo na minha cara nas páginas finais.
Por algum motivo, me lembrei da sensatez que teve o defunto autor, Brás Cubas. Só que aqui, a noção da miséria da vida social pôde ser narrada em vida, de uma forma completamente sincera e simultaneamente manipulada pela intenção narrativa.
Um clássico que compreendi o porquê de sê-lo. Recomendo muito a leitura!