Rick-a-book 11/11/2009
Tão longe, tão perto
A primorosa apresentação de João Guimarães Rosa para este livro faz com que sintamos que a Hungria é uma espécie de paraíso ao alcance da mão. Fala-nos de sua comida, suas bebidas - o tokaji! - seus campos, florestas, rios e montanhas; sua língua - que, dizem ser tão difícil que é a única respeitada pelo diabo -, com suas inflexões, casos sem fim, e sonoridade inconfundível; sua gente amistosa e amante do bem viver, do bom da vida.
Os trinta contos que compõem essa coletânea foram traduzidos pelo organizador, Paulo Rónai, alguns do francês, a maioria diretamente do Húngaro, e apresentam todo um panorama do distante e desconhecido país.
Um a um, os contos vão desenrolando frente aos olhos do leitor um mundo de cores distintas das que conhecemos, mas com tons muito semelhantes aos nossos. A "Pequena Palavra" de Guimarães Rosa funciona como um mini-curso sobre a cultura em que estamos prestes a mergulhar.
Percorrendo um escopo de aproximadamente cem anos de escritos em língua húngara, esta antologia apresenta uma grande variedade de tipos e de estilos de narrativa. Do suspense à aventura, do surreal ao verossímil, do cômico ao trágico, os contos vão delineando as marcas da literatura moderna e prendendo o leitor entre suas páginas, entre suas linhas, sem dar a ele chance de escapatória. Ao fim da leitura, a descoberta: uma parte de si mesmo passa pertencer eternamente à Hungria, aos seus cidadãos, ao seu ininteligível idioma.
Volvendo à máxima reguladora que diz que "quanto mais particular, mais universal", ao término de tão edificante leitura damo-nos conta de que, enfim, não éramos, assim, tão diferentes.
Um ótimo livro que merece ser lido e relido tanta e quantas vezes for possível.