Juliana 25/12/2012Mentecaptos Por Livros | www.mentecaptosporlivros.blogspot.comQuando me perguntam o que eu achei mais incrível em Days, a primeira coisa que me vem em mente é o desenvolvimento. Laini Taylor sabe como contar uma história. Não que depois de Daughter já não soubéssemos disso. Mas nesse volume? Uau, galera. UAU.
A estrutura de Days of Blood and Starlight é diferente da de Daughter of Smoke and Bone (Feita de Fumaça e Osso); a narração foi ainda mais fragmentada em vários personagens, vivendo em lados diferentes da guerra.
Por exemplo, nós temos duas crianças chimaeras de tribos pequenas que foram atacadas, em fuga. Aí a autora joga a narração para soldados Seraphins, destruindo essas tribos. E depois para as cidades Seraphins e os seus civis; e então voltamos para o mundo humano. E aí de volta para Eretz. E gente, isso funcionou. A história ficou expandida, rica, intensa. Uma volta completa; sabe aquela história de tons de cinza? De que em uma guerra, se pararmos para pensar criticamente e não romantizarmos as coisas, o fato é que não existe um lado inocente? Laini trabalhou isso através dessas mudanças de POV. Foi ao mesmo tempo bonito e triste.
Esquece o romance. Days é exatamente o que o título diz: tempos de sangue. É pesado, é emocional. É sombrio e meio desolador. É uma história trançada e executada para testar os limites de moral, coragem e esperança, de ver até onde Karou consegue manter esse sentimento quase ingênuo de que pode haver paz. De que pode haver um senso comum de respeito entre as duas raças. E o leitor é mantida em suspenso, se perguntando a mesma coisa junto com ela; em Feita de Fumaça e Osso, Karou nos diz que há dois modos de terminar uma guerra. Akiva escolheu um; em Days, Karou vai se manter no outro baseado em seu sonho ou vai partir para a violência e chacina, como Akiva?
Uma existência pacífica, sem guerra. Laini desafia Karou, e desafia ao leitor. É possível? Ou sempre haverá derramamento de sangue, não importa a espécie envolvida?
A história é contada de forma arrepiante. Falei lá em cima que os POV vão pulando de personagem para personagem, em diferentes situações que são afetados de forma diferente pela guerra; as cenas são, como é característico de Laini, intensas, reais ao mesmo tempo em que são narradas como em um conto de fadas.
Tem um termo que críticos americanos adoram usar para elogiar escritores: Master Story-teller. Na maioria das vezes nem procede, mas essa é um adjetivo perfeito para Laini Taylor. Ela é mestre em contar uma história; passei 70% do livro com os cabelos em pé. As coisas se desenvolvem de modo chocante e por vezes paralisante, e quando você pensa que pegou o fio da meada e que "AHA! Já sei o que vai acontecer", SLAP. Você é pego de surpresa e não pode fazer nada a não ser continuar lendo com o seu emocional em frangalhos e sua mente girando atrapalhada, tropeçando tentando entender 'o que diabos essa mulher acabou de fazer?'. Se você leu Feita de Fumaça e Osso, você sabe do que eu estou falando.
É incrível, de verdade. Ao ponto de ser um livro difícil de digerir, por que oh my God, so many feelings.
Aposto que você pensou que não tinha como Laini abrir mais o enredo, não é? Bom, eu sei que eu pensei. Preciso dizer que estava errada. Muito errada. E que eu estou me segurando para não soltar spoilers loucamente aqui, mas gente, essa autora é perigosa. PERIGOSA. Ela deveria estar trancada em uma cela acolchoada em uma prisão de segurança máxima, pelo bem da sociedade; a mente dela tem a mesma capacidade de criar algo maquiavélico e maligno quanto tem de criar algo bonito. Perigosa, eu estou falando pra vocês!
"Pelo que estamos lutando? Pelo que estamos matando? O que você vê quando olha para o futuro?" *
Days of Blood and Starlight tem uma mensagem. No meio do mundo incrível de DoBaS, da escrita linda e mente criativa de Laini Taylor, tem uma mensagem sobre guerras, sobre ciclos, e sobre destruição. É uma conto sobre fantasia e criaturas fantásticas sim. Mas é tão real, no sentido que, com poucas mudanças, podemos muito bem estarmos encarando a nossa história, nosso mundo, nossa realidade da nossa tão chamada sociedade moderna.
Sério, só leia esse livro. Vai fazer sua cabeça girar.
*tradução livre de trecho do livro