Valise de Cronópio

Valise de Cronópio Julio Cortázar




Resenhas - Valise de Cronópio


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Luiz Pereira Júnior 26/12/2022

Não se recomenda começar a praticar alpinismo escalando o Aconcágua...
Não importa o que você faça ou o que você escreva: há sempre a possibilidade de ser mal interpretado. E esse poderá ser o caso aqui.

Sim, sei que Julio Cortázar é um dos expoentes máximos da literatura latino-americana, assim como sei que Clarice Lispector talvez seja a maior escritora que já existiu em língua portuguesa. Mas isso não quer dizer que eu seja cego ou ingênuo a ponto de recomendar a leitura de suas obras a torto e a direito, para qualquer um, a qualquer momento, em qualquer local.

Uma coisa é começar a ler Clarice Lispector por “A descoberta do mundo” ou “A hora da estrela” e outra completamente diferente é começar a lê-la por “Água viva”. O adolescente que nunca leu nada dessa imensa escritora ou que está acostumado a ler aqueles romances de capas coloridas e que se parecem uns com os outros, se for obrigado a ler “Água Viva”, odiará (a bem da verdade, nada feito por obrigação pode ser prazeroso – até mesmo ler) essa obra e nunca mais dará outra chance à Clarice.

E, o pior, se ele tiver de tirar de sua mesada ou se deixar de comprar o que realmente deseja para comprar esse livro, aí sim... adeus, Clarice, e até nunca mais!

O mesmo ocorre com Julio Cortazar. Pode até ser que nosso adolescente hipotético se interesse pelas elocubrações do escritor em algum de seus contos, mas, se ele resolver começar escalando essa montanha que é “A valise de cronópio”, pode ser que simplesmente desista da empreitada e vá em busca de outra montanha qualquer (ou de um simples morrinho que faça valer a pena chegar ao cume).

Sim, correndo o risco de ser mal interpretado, “A valise de cronópio” é para iniciados: para aqueles que já têm contato com a literatura mais rebuscada, mais intrincada e que possa ser desvendada com calma, no decorrer de alguns dias, pois, ao falar sobre literatura e sobre música (jazz, mais especificamente), Cortázar desce a profundezas abismais (ou seria melhor dizer “sobe a alturas inimagináveis”?).

E, diga-se de passagem, o próprio autor também desliza da altura de sua inteligência (a meu ver, é claro). Ao descrever um concerto de Louis Armstrong, retratado como uma espécie de enviado divino ou de semideus da música, Cortázar constrói um relato que, a não ser a linguagem terrivelmente intrincada, poderia ser encontrado em qualquer relato hiperbólico de fã.

Vale a pena?

Se você puder pagar a escalada ao Everest e estiver disposto, por que não? Ao menos, você tentou...
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