miss.americana 22/02/2024
Minha primeira leitura do Eça
Nem acredito que finalmente li uma obra do Eça, adorei!
No começo, a leitura foi bem difícil e pensei em desistir. Porém, a minha cabeça pensava assim: "Já, já você se acostuma com a linguagem, criatura, apenas continue e não tenha pressa para acabar". Bom, com certeza foi a melhor coisa que fiz.
O livro é datado em 1875. Nessa época, o clero tinha muito poder. Eu entendo completamente o porquê deles terem censurado esse livro kkkkk. Aqui o Eça não teve papas na língua, mesmo. Nós estudamos na escola como a igreja católica era poderosa, pois ninguém questionava nada em relação ao comportamento dos sacerdotes, tudo que eles diziam e faziam era aceito. Eram situações tão absurdas que a gente até duvida se o ser humano realmente tem essa habilidade de manipular as pessoas tão bem assim. Ao ler essa história, que apesar de fictícia é um retrato da época, não é difícil imaginar que até nós iríamos acreditar em tudo que a Igreja diz, para nós ela também iria ser incontestável. Eles (os sacerdotes) eram a própria imagem de Deus para as pessoas na época e não segui-los era motivo suficiente para ser excluído da sociedade (foi o que aconteceu com o João Eduardo, coitado).
E esse diálogo no final???? Cara??? Eles realmente não enxergavam a própria hipocrisia. Amaro ainda acreditava que merecia respeito, depois de tudo que aconteceu, mas atenção: acreditava que merecia o respeito que um Deus receberia, não o respeito que devemos ter com qualquer um, independente de quem seja.
Inclusive, achei muito interessante os momentos em que o Amaro e a Amélia passavam juntos. O sentimento de superioridade que ele tinha, a sensação que a Amélia sentia de que era uma santa, que estava cada vez mais perto do céu toda vez que iria se deitar com ele e, depois, a agonia do arrependimento.
Confesso que tive um misto de emoções com cada personagem. Fiquei com muito dó do Amaro no começo. Eu entendia que ele não queria ser padre, mas que na época era a única escolha que ele tinha e conhecia, sabe? Isso acontece conosco, também tomamos decisões ruins, mas muitas vezes é porque só existia aquela escolha no momento.
Queria que ele e a Amélia fugissem juntos e vivessem felizes. Porém, comecei a odiá-lo, porque percebi que ele tinha um desvio de caráter bem questionável. Daí então, comecei a ter dó da Amélia por se envolver com alguém assim. Logo mais comecei a ter um pé atrás com a Amélia também. A mana queria se casar com o coitado do João Eduardo para traí-lo às escondidas com o Amaro.
Assim que o Amaro começou com as atitudes possessivas dele em relação à Amélia, o abuso moral e a falta de companheirismo por parte dele, comecei a lamentar pela vida da Amélia, que naquele momento estava um verdadeiro inferno. Tudo que tem nesse relacionamento entre ela e o Amaro é terrível, nojento e triste. Nem parecia que, no começo, eu queria que eles fugissem juntos. O negócio foi de 0 a 100.
Na minha opinião, a obra envelheceu muito bem. Até hoje nós vemos os absurdos que os fanáticos religiosos defendem e a hipocrisia que recai sobre eles em cada frase que eles replicam. A obra do Eça pode ilustrar um certo exagero para alguns, mas eu não duvido nada que antigamente as coisas eram exatamente assim. Afinal, até hoje existe muita gente seguindo nessa cartilha...