Isabela Zamboni | @resenhasalacarte 15/09/2020
Viagem pelo mundo físico e subjetivo
Nunca tinha ouvido falar em Viagem ao redor do meu quarto, de Xavier de Maistre. Aparentemente, o livro é um clássico francês que inspirou autores como Nietzsche e Machado de Assis. E foi agora durante a quarentena que a obra foi reeditada e relançada pela Editora 34, momento mais do que oportuno para fazer uma “viagem” sem sair de casa.
O livro é curtinho e apresenta a perspectiva de um homem que passa mais de um mês confinado em seu quarto. O autor, que nasceu na Saboia, foi condenado a 42 dias de detenção por ter duelado com outro oficial. Ao passar esse tempo enclausurado num pequeno quarto em Turim, Maistre resolveu escrever essa breve narrativa, uma espécie de relato autobiográfico metafórico.
Cada capítulo equivale a um dia, portanto, em 42 capítulos acompanhamos sutilezas como descrições dos móveis do quarto, o trajeto entre a cama e a escrivaninha e até mesmo a convivência do personagem com seu criado Joannetti e sua cachorrinha Rosina. Ao quebrar de vez os clichês dos livros de viagens, que geralmente oferecem amplas descrições de belos ambientes, Maistre traz uma nova dimensão aos objetos mais comuns do seu quarto. Durante várias passagens ele celebra sua poltrona, faz análises sobre o espelho, disserta sobre a importância de uma cama confortável e se gaba de sua pequena biblioteca.
No entanto, a graça do livro não está nas descrições cotidianas, mas nas reflexões filosóficas. A viagem ao redor do quarto não é apenas literal, mas também subjetiva. Maistre transforma o quarto em um espaço de contemplação, além de divagar sobre o mundo que ele enxerga pela janela.
Faz comparações no campo da arte, entre música e pintura; descreve uma vida psíquica, como se dentro de cada pessoa existissem dois seres: a “alma” e o “animal”, que ele também chama de “o outro”. Nesse caso, a alma seria o sentimento, a consciência, a razão e a moral; o animal contempla os instintos e os atos espontâneos de cada um, como se existisse uma pessoa à parte, que não pensa, só age.
Ao longo das páginas, o autor oferece pitadas de pessimismo mescladas a pequenos atos de espontaneidade. É uma grande viagem, tanto pela mente do personagem, como pelo espaço físico de Turim.
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