Arilson 01/01/2014
Orelha do Livro
No atual terceiro Volume de nossa edição que contém os livros AS DUAS FORÇAS e A HARMONIA FINAL, os dois últimos dos sete da saga musashiana, toda a trama, com suas múltiplas reviravoltas, está inscrita na lógica do esperado e inevitável duelo da ilha de Funashima com Sasaki Kojiro, o outro grande espadachim da época e rival de Musashi em Habilidade, tenacidade e sabedoria guerreira. Para o eventual vencedor, não será apenas necessária a melhor técnica, mas também a maior nobreza de espírito. O surpreendente combate que encerra esta obra ímpar se firmou, por meio da literatura ( em adaptações de todo o tipo e por suas várias versões cinematográficas), no ideário coletivo da nação japonesa, e não há quem não comente seus lances nos mínimos detalhes.
Porém, antes de ficar frente a frente com o destino, sentindo-se ainda muito distante da preparação ideal, o herói escolhe o exílio nas montanhas como meio para aprimorar-se no CAMINHO DA ESPADA. Passa anos resguardado na solidão, e, quando retorna à sociedade, o faz sob pseudônimo. O reencontro com um famoso monge enfim lhe revela, sob a forma aparentemente simples do círculo, a trilha que o guerreiro deve seguir para transitar com serenidade no tênue limiar entre a vida e a morte. O destino se revelaria no lendário embate com Kojiro, mas encontraria à hora fatídica um Musashi em sua plenitude, espírito e arte guerreira afinal em harmonia.
À leitura deste volume, seremos marcados ainda pelos acontecimentos em Edo, a futura Tóquio, então em frenético desenvolvimento, cujo palpitante submundo deixa antever a metrópole que mais tarde virá a ser, e que constituem a incursão urbana desta obra predominantemente bucólica e com a forte presença de um feudalismo em sofrida modernização.
Nesse sentido, a obra MUSASHI também pode ser inserida no contexto de um soberbo painel do Japão em sua encruzilhada na época da unificação nacional sob a linhagem dos Tokugawas, numa longa transição que o viu passar das constantes lutas armadas entre pequenos suseranos (DAYMIOS) ao domínio de uma classe constituída de BUROCRATAS DO PAPEL E DO PINCEL, nos dizeres do especialista Edwin Res=ischauer (Volume I, prefácio), e que fariam o país se desenvolver isoladamente do resto do mundo por dois séculos e meio. Foi nesta conjunção de aprimoramento do ser, de dedicação absoluta a uma causa e de busca da perfeição em determinada arte, que se moldou a personalidade da nação japonesa