Samuca 28/07/2009
Logo que fiz o comunicado oficial em casa de que não iria mais continuar cursando a faculdade de biotecnologia e trocaria, talvez, pela de direito a mãe tratou de espalhar a notícia. Por coincidência, uma das primeiras a ser avisada foi a Marcele, uma juíza amiga dela. A Marcele me conhece a algum tempo já. Sabe bem das minhas agruras com os vestibulares. Experiência que ela bem passou a pouco tempo. Estudou, como eu, durante alguns anos para passar para um determinado curso, e acabou optando por outro curso completamente diferente. Ela no início: odonto, depois: direito; eu: medicina, depois: biotecnologia, agora: direito (talvez).
Então, ela se tomou de um entusiasmo e resolveu me emprestar um livro que ela leu logo no primeiro ano da faculdade: O primeiro ano, do Scott Turow. Nunca ouvira falar nele antes. Quando peguei-o, passei os olhos pela capa, li um pouco a sinopse, e o primeiro autor que me veio em mente foi o Grishman. Tentei fazer alguma comparação com ele, mas ela não ficou muito segura se havia alguma semelhança entre eles. Para falar a verdade, me decepcionei um pouco com o livro. Quando a mãe falou que ela tinha um livro sobre direito para me emprestar, logo imaginei em algo que falasse sobre a história do direito, filosofia do direito, sei lá, alguma introdução ao estudo do direito.
Mas tudo bem, comecei a ler o livro. E não é que eu subestimei-o. O livro é ótimo, e veio bem a calhar. É uma espécie de diário do primeiro ano de um aluno da HLS, Harvard Law School, ou a escola de direito de Harvard, uma das melhores do mundo, ou ao menos a mais conhecida.
Está sendo o melhor primeiro contato com a faculdade de direito que eu poderia ter. Imaginem só, ali estão a angústias, as dúvidas, os desafios, as conquistas de um calouro de direito. Claro que ali está a realidade de uma universidade americana, com todas as suas qualidades, seus métodos, incompatíveis com a nossa. Embora, o direito também não seja o mesmo, é uma experiência interessante. As leis, o direito afinal têm a mesma intenção: a justiça, tanto aqui, quanto lá.
Aos poucos tenho percebido que realmente o meu interesse com as pessoas está mais enquadrado nas ciências humanas do que na medicina. As minhas preocupações e aspirações estão muito mais voltadas para a organização social do que para as patologias, os defeitos congênitos do metabolismo ou as diversas formas de terapia gênica que podem ser desenvolvidas.
As leis, suas interpretações e aplicações me provocam muito mais entusiasmo do que as diferentes rotas metabólicas dos glicídeos, por exemplo. O Nicky Morris, professor de Processo Civil do Scott, disse algo sobre o direito que me encantou de verdade: "O direito é uma disciplina humanista. É um reflexo tão amplo da sociedade, da cultura, que pode ser alvo de indagações de qualquer outro campo de investigação: linguística, filosofia, história, estudos literários, sociologia...". Justamente a multidisciplinaridade que me atrai, que me encanta, a possibilidade de poder trabalhar com os diversos campos das ciências sociais e humanas.
Realmente estou me encantado com o direito. Mas, tenho procurado manter a calma, ser mais ponderado dessa vez, para não gastar todo o meu entusiasmo no início e acabar me decepcionando logo depois.