Tháh 04/02/2021
Escrevi a resenha para a disciplina de Literatura Francesa na graduação de Letras, cujo enfoque da matéria era a "mise en abyme" (uma arte dentro de outra, nesse caso: artes plásticas dentro de uma obra literária).
A Coleção Particular, do autor Georges Perec, publicada em 1979, é uma novela inspirada nas galerias e coleções particulares de obras plásticas, onde retrata a coleção de quadros do colecionador Hermann Rafflek.
A narrativa é desenvolvida através da multiplicidade dos gêneros textuais, havendo um tipo de colagem de variados elementos, enriquecendo a narrativa e dando ao leitor sensações diversas conforme o desenvolvimento da leitura, como um catálogo de obras, noticias de jornais, resenhas de obras, tese acadêmica, enfim, diversos gêneros estão presentes na novela, cujo efeito é usado para divertir o leitor, dando-lhe outras dimensões da narrativa.
A novela relata uma exposição de obras, onde está exposto um quadro intitulado A Coleção Particular, pintado por Heinrich Kurtz, que retrata a coleção de Hermann, que também faz parte da obra artística, representado em um retrato com seus quadros, de modo que há um quadro dentro de outro quadro. Neste quadro, há pequenas mudanças das obras reais, meros detalhes, que entretém os visitantes numa espécie de jogo de sete erros.
Tal evento foi suficiente para o reconhecimento de Hermann como um grande colecionador, bem como tornar público o inventário de sua coleção. Em aproximadamente um ano após a exposição, Hermann falece, tendo sua coleção particular, já previamente sabida pelo público, posta em leilão.
O leilão é um fracasso, uma vez que não contou com algum dos quadros representados por Kurtz, sendo realizado um novo leilão quase dez anos depois. Nesse meio tempo, seus familiares organizaram uma autobiografia do colecionador, produzido através de notas de cadernos por ele deixado, narrando, inclusive, sua ida ao exterior para adquirir os quadros, descrevendo as ocasiões em que os comprava, suas impressões diante das obras, a minuciosidade com o qual escolhia, aconselhando-se com experts na área.
Assim, o segundo leilão foi um sucesso, contando com grandes colecionadores e peritos ligados ao ramo da arte. Divididos por escolas, o leilão ocorreu em três dias, rendendo boa recepção do público e proveitoso financeiramente. Após tamanho sucesso do leilão, alguns anos mais tarde, seu sobrinho, Humbert Refflek, contatara àqueles que adquiriam as obras da coleção particular de Hermann, informando para eles que todos os quadros são réplicas, produzidas pelo próprio sobrinho.
O motivo? A fim de vingar-se daqueles que integram a crítica artística, desmascarando especialistas, uma vez que, anos antes, fora passado para trás, tendo sido enganado ao adquirir por uma boa quantia de dinheiro, induzido por um especialista, obras falsas ou destituídas de valor. Assim, passou a planejar minuciosamente a trama, prevendo o desfecho após sua morte e expondo tais especialistas.
Perec encerra sua novela narrando que, evidentemente, ao submeter tais obras à análise, foi constatada que eram realmente falsos. Mas, talvez não mais que a própria narrativa...