spoiler visualizarCharleees 21/06/2024
Embora a morte seja a única certeza que temos na vida, normalmente não paramos para pensar sobre ela, continuamos a viver, a correr os dias como se não fôssemos morrer.
Quando os colegas de Ivan Ilitch descobriram no escritório que ele havia morrido, o primeiro pensamento deles foi a respeito da significância que aquela morte poderia ter sobre a transferência ou a promoção de si mesmos ou de seus conhecidos. Em cada um que soube do ocorrido, o sentimento era o mesmo "é ele quem está morto, e não eu". Então para eles, nada mais justo que pensar nas promoções e possíveis mudanças no serviço que haveria com a morte de Ivan Ilitch.
A doença, uma dor no lado esquerdo da barriga e um gosto estranho na boca, foi causando uma grande irritação em Ivan Ilitch, tirando-lhe o prazer de viver, logo ele que sempre teve uma vida tão comum, tão cheia de afazeres, tão dedicada ao trabalho, a vida familiar e a sua diversão. Para sua esposa, ele passou a ter uma personalidade horrível com a doença, tanto que ela chegou a desejar que ele morresse, mas com a morte, ela não teria o ordenado dele, o que a colocava numa situação complicada, o que culminava em mais irritação.
Mesmo quando as doenças e a saúde humana se tornaram o principal interesse de Ivan Ilitch, ele não pensava na morte. Começou a ver a doença como uma espécie de veneno que ia envenenando sua vida e a das pessoas à sua volta. Com dor e com esse triste pensamento, ainda era preciso viver (dormir, acordar, levantar-se, vestir-se, ir para o tribunal, falar, escrever) à beira da ruína, sem nenhuma pessoa que o compreendesse nem sentisse pena dele.
Foi somente depois da visita do cunhado que ao ver Ivan Ilitch disse que ele estava morto, sem luz nos olhos, que Ivan passou a rememorar tudo sobre sua doença e finalmente percebeu a morte tão próxima.
"Eu não existirei, então o que existirá? Não existirá nada. Então onde eu estarei, quando eu não existir? Será assim a morte?"
Para Ivan Ilitch o que mais lhe atormentava era as mentiras comuns para quem está doente em fase terminal (de que ele estava apenas doente, mas não morrendo, para ficar tranquilo que algo muito bom lhe iria acontecer) ele sabia que nada aconteceria, além de sofrimentos ainda mais torturantes, (mesmo lhe dando ópio e injetando-lhe morfina), e da morte, independentemente do que fizessem.
"Tudo a mesma coisa. Ora brilhava uma centelha de esperança, ora tempestuava um mar de desespero; tudo era dor e angústia"
"Não pode ser. Não pode ser que a vida seja tão sem sentido e repugnante."