Regis 29/08/2023
Um livro pessimista sobre uma realidade provável
O Mundo Submerso de J. G. Ballard de 1962: fala sobre o aumento da radiação solar que derrete os pólos, alaga a maior parte do mundo civilizado e aumenta insuportavelmente a temperatura das zonas temperadas, obrigando o que resta da humanidade a migrar na direção dos pólos, que agora são habitáveis.
Esse livro faz parte de uma série de obras em que o autor no início de sua carreira, explorou diferentes versões do fim do mundo em catástrofes planetárias.
O Mundo Submerso mostra um planeta não apenas alagado, onde em grandes cidades do passado só se vê o topo de alguns arranha-céus, mas mostra também a proliferação da vida animal (principalmente dos répteis), de uma nova vegetação, e de grandes áreas pantanosas. A humanidade se torna insignificante diante da capacidade da natureza de retomar seu espaço.
Com temperaturas de mais de 50°C a vida humana, como a conhecemos, se torna quase insustentável e algumas pessoas (incluindo o personagem principal Robert Kerans) passam a se conectar mais com seu "eu" primitivo através de sonhos, em um processo de regressão psíquica onde a consciência individual começa a encolher e causar a sensação de retorno há um tempo pré-histórico, em que o mundo se parecia com o que estão tendo que viver agora. E como se fosse uma doença essas pessoas sentem a compulsão subconsciente de se fundirem a esse novo ambiente, se integrar às águas e fazer parte desse novo e primitivo mundo submerso como se fosse uma volta ao útero.
Esse é um livro que retrata um ambiente possível em nosso futuro, o autor que escreveu outros livros com outras abordagens sobre catástrofes ambientais, aqui aborda um cenário provável e assustador que mostra como nada está realmente sob nosso controle e que dificilmente poderemos reverter os danos e as mudanças que causamos ao planeta.
Com uma escrita intimista e sacrificialista J. G. Ballard mostra que o universo precede o ser humano e que somos nós que devemos nos adaptar a ele... e com essa visão pessimista mostra que devemos reconhecer e aceitar com serenidade quando finalmente chegar a hora de deixarmos esse mundo que não nos deseja mais.
Essa foi uma leitura que me fez refletir muito sobre o quão frágil é nossa existência nesse planeta e como somos apenas uma pequena parte irrelevante desse mundo capaz de se reinventar e prevalecer de um jeito ou de outro, mesmo quando não estivermos mais aqui.
Recomendo.