Marc 22/05/2012
Brian Wood vai se tornando, ao lado de Warren Ellis, um de meus roteiristas favoritos de quadrinhos atualmente. É um sujeito avesso a polêmicas, que dá poucas entrevistas e seus roteiros quase não dão bola para o hábito irritante, tão comum em outros (leia-se Neil Gaiman...), de fazer referências pop para parecer culto. São apenas boas histórias. Algumas provocativas no sentido que devem ser mesmo (como ZDM), outras apenas bem contadas (Local).
O caso de Vikings – a viúva do inverno é esse: uma bela história contada de forma simples e ao mesmo tempo impactante. Um dos raríssimos exemplos de como os quadrinhos podem trazer histórias adultas, que nada ficam devendo a bons livros ou filmes. Quadrinhos adultos no melhor sentido do termo, ou seja, que não apelam para fórmulas estabelecidas ou heróis poderosos; muito menos para valores absolutos como a verdade, a justiça, honra e lealdade, que são muito bonitos quando discurso, mas que na prática são apenas bandeiras para impor um modo de pensar bem particular. A bem da verdade é por raríssimas histórias como essa que costumo ler quadrinhos (e que ainda não os abandonei). Porque se é possível uma pesquisa tão meticulosa dentro dos quadrinhos quanto a que deu origem a esse arco de histórias; a reconstrução de hábitos, construções, vestimentas, religião e modo de guerrear, então ainda há muito mais que se fazer do que ler as mesmas histórias recicladas que alguns insistem em fazer os leitores engolir goela abaixo.
E mesmo que a premissa de uma viúva protegendo sua filha em um pequeno vilarejo viking no ano de 1020 d.C. pareça apenas uma desculpa para destilar ressentimento sobre a violência contra a mulher e a maldade humana, e não empolgue à primeira vista, o encadernado é mais que recomendado. Não há condescendência, falsos moralismos nem apologia alguma. É uma bela história de como as pessoas fazem aquilo que necessitam e tentam se proteger da maneira que podem e julgam mais apropriada. A morte rondando a todos os passos que se dá. A incerteza da sobrevivência (e criar esse clima me parece o maior mérito de todos, imaginar como deveria ser difícil para uma pessoa sobreviver a um inverno feroz sem condição alguma de se proteger), a peste como apenas o primeiro teste por que terão que passar...
Enfim, é um quadrinho espetacular, maravilhosamente bem escrito e que soma muitos pontos na “briga” de melhor roteirista atual de quadrinhos para Brian Wood.