jmrainho 17/11/2016
Pais da piada e superstição prontas
A maior superstição Brasileira é a lorota que o comunismo ia tomar conta do país e assim os americaguiados destas terras do tempo da guerra fria como gelo apoiaram o golpe militar com essa esdrúxula justificativa, também chamada de revolução pelos seus encabeçadores - criando assim mais uma superstição deste país das lorotas prontas. Até hoje é uma superstição forte para mentes fracas.
Monarquista e anticomunista ferrenho, além de estudioso das invasões holandesas - talvez isso tenha gerado uma ideia fixa de um inimigo nacional invasor - Câmara Cascudo (1898-1986), um intelectual de família da classe abastada de Natal, cidade que viveu sua vida toda, tem vasta obra sobre folclore. Esta "Superstição no Brasil" é uma coleção de conhecimentos populares que viram verdades-prontas, meio religiosas. Cheia de assombrações e mistérios, a obra traz crendices conhecidas, como a ferradura que dá sorte, a tesoura que afasta bruxas,o passar debaixo da escada e outras não tanto conhecidas, além de um estudo sobre a religião popular, buscando suas origens nas terras brasileiras e em outras nações, uma viagem no tempo-espaço, indo até o Egito antigo.
Também permeia curiosidades históricas, de veracidade polêmica, como os primeiros brasileiros que provavelmente teriam nascidos em 1501, filhos dos degredados Afonso Ribeiro e João de Tomar, dois grumetes que se escafederam na véspera da partida de Pedro Álvares Cabral, na noite de 1 de maio de 1500 e que provavelmente se acasalaram com nativas. Em 1502 desembarcaria novo exilado, Cosme Fernandes Pessoa, o futuro Bacharel de Cananéia, cidade do mesmo nome que disputa até hoje a supremacia de ser a primeira vila do Brasil, hoje oficializada como São Vicente.
Para quem busca ajudas mágicas, o livro traz algumas fórmulas de maldição e de rezas para vários fins, inclusive as disputadas casamenteiras para Santo Antonio; e o credo às avessas, que dizem ser muito forte. Um praguejo antigo é ameaçar de mijar na campa do desafeto, que resultava em cana nos tempos afastados do Brasil.
O texto traz alguns momentos, aliás vários, de pedância ilustrada, onde Cascudo cita diversas frases em latim, inglês ou francês, sem traduzi-las.
Mas como ele mesmo descobriu nas falas populares, "A intenção justifica e santifica todos os atos humanos". Hoje considerado um "coxinha" por apoiar a ditadura, Cascudo tá perdoado mais pela obra que suas intenções, pois ajudou a esconder muito comunista perseguido pelos coturnos loucos. São as contradições folclóricas; só no Brasil mesmo.
Ah, antes de terminar mais uma descoberta garimpada por Cascudo nas crendices populares: O lavrador cético acha que o demônio somos nós mesmos, com o inferno no coração”. Freud não gostava dessas histórias de Deus e Diabo, e denominava a religião como “uma neurose possessiva universal”. Também não acredito em bruxas, mas que existem, existem”.