Caio Cézar 06/11/2020
Aristóteles, o reformador
No volume anterior da coleção fomos apresentados a Platão, mestre de Aristóteles. Reale, como de costume, procede com beleza e clareza em suas divagações, quem quer que seja o filósofo a que ele nos introduza. Entretanto, quem teve a graça de contemplar o pensamento platônico perceberá de plano a diferença entre discípulo e mestre, entre Platão, o místico, e Aristóteles, o cientista. Ainda que o discípulo não fique atrás do mestre, Platão soa poético, porém nebuloso, enquanto Aristóteles soa analítico, porém cristalino.
Não fosse isso suficiente, o Estagirita tem a árdua tarefa de ser o reformador das teses daquele que foi o maior filósofo que o ocidente já viu. Sem a pretensão de negar sua incontestável originalidade, mas mesmo esta procede em boa parte dessa atividade reformadora, introduzindo novos alicerces às formas platônicas, porém preservando sua substância. Paralelamente, põe-se um fim ao problema do devir com o ato e potência, enquanto avança imponente na Lógica e na Ética, esta última provavelmente uma das suas maiores contribuições para a humanidade, atual até hoje.
Por fim, deve-se enfatizar que o uso da palavra reforma não foi mera opção estilística: em que pese opiniões em sentido contrário (até mesmo na academia), Aristóteles de modo algum rejeita a doutrina de Platão; ao contrário e na justa medida, ele preserva-as e promove modificações pontuais onde as estruturas e alvenarias se encontravam prejudicadas pelas intempéries aporéticas. Em síntese, Aristóteles dá sobrevida e novos horizontes para Platão. E assim termina a grandiosa Tríade grega.