Minha Religião

Minha Religião Leon Tolstói




Resenhas - Minha Religião


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Henrique Fendrich 13/12/2019

É um dos livros "religiosos" de Tolstoi, no qual ele explica o seu sistema de crenças, que, aliás, teve tão grande impacto na sua vida que ele passou a renegar obras como "Anna Karenina".

O livro expõe o cristianismo segundo Tolstoi. É uma visão focada no Sermão da Montanha, sobretudo em aspectos que dizem respeito à não resistência violenta. Para Tolstoi, afinal, a partir da leitura que fez dos evangelhos, a violência não era legítima em nenhuma ocasião, inclusive aquelas que dizem respeito à nossa defesa pessoal. Isso pode, hoje, nos parecer estranho ou até absurdo, mas é precisamente isso o que emerge da leitura do Sermão da Montanha. Se os cristãos atualmente não acreditam mais nisso é apenas porque já se esforçaram bastante para relativizar e praticamente inutilizar o Sermão da Montanha.

O curioso é que o cristianismo de Tolstoi, como pode se observar nesse livro e em outro ("O reino de Deus está em vós"), nega o aspecto sobrenatural ou espiritual da crença, para se ater exclusivamente ao seu aspecto ético, moral e humano. Isso leva a consequências das mais imprevisíveis, pois o cristianismo de Tolstoi não acredita na própria ressurreição.

É interessante observar também, nessas obras, que Tolstoi dá realmente às palavras de Jesus um caráter de verdade eterna, e se esforça para encontrar a tradução exata de cada mensagem, a fim de que o seu verdadeiro conteúdo não se perca. Contudo, é evidente que mesmo a mensagem de tradução mais fidedigna passou também pelo filtro do discípulo que a escreveu, e aos discípulos Tolstoi não concede o mesmo crédito (para Tolstoi, os discípulos não entenderam realmente aquilo que a mensagem de Jesus de fato significava).

Tolstoi não acredita nos milagres dos discípulos narrados no livro de Atos, fala inclusive em superstições, que teriam atrapalhado a melhor compreensão da doutrina, mas silencia a respeito dos milagres atribuídos ao próprio Jesus, tão frequentes que se tornam, no próprio Evangelho, parte essencial dessa doutrina.

Poderia ser o caso de mais um pensador que, negando a parte espiritual do cristianismo, admitisse o valor dos seus mandamentos morais, mas não é assim que Tolstoi enxerga, para ele as palavras de Jesus são realmente divinas e revelam a Verdade, pelo menos no que se refere a uma nova moral.

Apesar dessas questões, não é difícil perceber que o caráter libertário que Tolstoi dá à mensagem cristã está muito mais de acordo com o que se lê nos Evangelhos do que a interpretação que as igrejas costumam lhes dar. A alguém que se apresente como um seguidor de Jesus, não é possível tergiversar com a violência, como as igrejas fazem (ao ponto até de justificarem as guerras), a menos que se procure relativizar a mensagem do Sermão da Montanha e dizer que ela só serve na esfera pessoal, e nunca na coletiva.

Embora tenha também ele as suas, Tolstoi justifica o seu sistema de crenças através das contradições que conseguiu observar no modo de vida dos cristãos. Como resultado, parece estar mais próximo da mensagem de Jesus do que a maior parte deles.
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