Gabi
04/02/2014Promessa não cumprida Há um ditado que diz para não jugar um livro pela capa. E realmente, muitos deles são desmerecidos pela mera aparência. Contudo, o oposto também pode ocorrer: a capa de "1222" prometia muito; e não só ela, mas a sinopse também. O problema é que todos sabem que o mundo não é feito de promessas, e sim, de ações. Foi, basicamente essa a impressão que tive do suspense de Anne Holt. Faltou consistência na história que só prometeu e não cumpriu.
"1222" é um mistério fraco, pouco interessante, monótono e sem fundamento, apesar de muitos dizerem que a atenção do leitor fica retida nas páginas do início ao fim. Mentira. Isso não acontece. Anne Holt não conseguiu construir uma situação que denote os fatos e as pessoas suspeitas - basicamente não há pistas que fazem o leitor confiar ou desconfiar de alguém, ou seja, não há interação. E quando o assassino é finalmente desmascarado, não surge aquela sensação de euforia que esperamos sentir em tais momentos.
A impressão que tive, é que a autora estava mais preocupada com o monólogo interior da personagem principal - Hanne Wilhelmsen - do que com o mistério em si. O livro é composto, quase que inteiro, por diálogos que nada tem de relevante para a trama e por pensamentos de Hanne - na maioria das vezes completamente inúteis.
Hanne Wilhelmsen é uma ex-policial que teve sua vida mudada depois de um acidente: levou dois tiros nas costas, os quais a paralisou das pernas para baixo. Depois disso, a mulher de meia idade tornou-se reclusa, amargurada, arredia e completamente fechada à sociedade. Mal sabia ela que sua vida estava prestes a mudar após embarcar em um trem - de Oslo a Bergen -, que descarrilhou no túnel da montanha Finsenut. O frio estava cortante - 20 graus negativos - e a neve foi a responsável por cobrir os trilhos.
Porém, o acidente não poderia ser classificado como desastroso, uma vez que houve somente uma vítima fatal: o maquinista - até aquele instante. Houveram muitos ferimentos, claro, mas, por sorte, 8 dos 269 eram médicos e socorreram as vítimas num hotel onde os passageiros foram abrigados devido ao fenômeno meteorológico que tornava o resgate improvável; impossível mais propriamente dito. O que ninguém imaginava é que a tempestade demoraria tanto para passar, deixando, praticamente confinados, os passageiros - com um assassino entre eles.
"Esperávamos, da melhor forma que podíamos, que a tempestade acalmasse, que a ajuda chegasse. Esperávamos ir para casa. Enquanto isso, não havia muito o que fazer."
Logo na primeira noite, um homem é assassinado à tiro de queima roupa. E na noite seguinte, outro também é morto, a que tudo indica, por uma estalactite. Enquanto, a ex-policial, um médico anão, uma advogado criminalista e a proprietária do hotel tentam encontrar uma característica que possa apontar o criminoso, mais eventos estranhos vão ocorrendo, e vai ficando cada mais difícil dormir em um espaço no qual todos sabem que há um assassino à solta.
"- Não sei se conseguiremos passar mais uma noite - eu disse baixinho, para que os outros não pudessem ouvir.- As noites neste lugar são o que mais me assusta. Até agora não tivemos uma única noite sem um assassinato."
"1222" é um livro rápido e fácil de ler. Todavia, estaria mentindo se dissesse que é uma leitura prazerosa. Na verdade, beira quase o enfadonho. Reconheço que Anne Holt tem que capacidade brilhante para escrever coisas inúteis e infrutíferas para o enredo. Não é um livro péssimo, mas está longe de ser bom - e mais longe ainda do estilo de Agatha Christie.