Tiago Ceccon 22/02/2021
Fogo Fátuo é um livro curto, porém pesado, doloroso.
Acompanhamos as últimas horas de um protagonista que amou demais a vida. Que queimou tão brilhantemente seus anos de juventude a ponto de não conseguir se dissociar do profundo laço estabelecido com seu aspecto mais carnal.
Alain, ainda visto com carinho por seus amigos de longa data, nos leva em uma jornada de despedidas tão iluminadoras quanto melancólicas. Vemos as tentativas de conexão, de ambos os lados, que inevitavelmente esbarram em uma barreira intransponível de incomunicação. Felizmente, o livro não se dobra à experiência do leitor - Alain se mantém do começo ao final o mesmo personagem imperfeito e inatingível. Somos seu companheiro de deslizes e de um destino já selado.
É interessante como a droga (e o álcool, no caso do belíssimo filme que Louis Malle fez baseado nesse livro e que no Brasil tem o título de "Trinta Anos Esta Noite") é ao mesmo tempo central e tangencial para a narrativa. Embora muito do que acontece seja decorrência do impacto dela na vida de Alain, pouca ênfase narrativa é dada para o seu uso e seus efeitos, e é muito difícil não se ter a sensação de que o próprio protagonista a enxerga mais como uma concretização útil de suas angústias do que de fato uma obsessão. A incapacidade de se apegar a laços suficientemente fortes e duráveis com a vida, a insegurança que o torna incapaz de enxergar muitas das características positivas nele mesmo e a não correspondência de seus amigos/amores às suas expectativas com relação a envolvimento parecem estar mais próximas da raiz dos problemas de Alain.
É um exercício interessante ler o livro em diferentes fases da vida (adolescente, jovem adulto, trinta recém completos, etc.) para notar como a percepção sobre os personagens e suas filosofias de vida se altera. E para encontrar novamente Alain, essa força da natureza que uma vez conhecida não mais se apaga da memória.