Rosalba Moreira 16/11/2020
Apocalíptico e angustiante
Eu diria que é um livro apocalíptico e angustiante, mas escrito de maneira sutil. Trata-se de uma distopia. Uma realidade vivenciada no Brasil, mais especificamente na cidade de São Paulo, em um tempo futuro. Ao longo de todo o livro, é descrita uma nova forma de viver, nada agradável.
As pessoas são todas separadas em grupos, e são impedidas de circular livremente pela cidade. Elas precisam de fichas de acesso a determinados transportes públicos ou a determinados espaços públicos. E há aqueles que não têm direito a nada disso: a parte marginalizada, que vive ao deus-dará.
Na atualidade em que eles vivem, não há mais chuvas, nem rios, lagos nem mares. O que há é um museu das águas, repleto de garrafas contendo uma amostra desses rios que um dia existiram. Cheiros gostosos de se sentir, como cheiro de terra molhada e leite fervido, só existem agora na loja de cheiros. Isso mesmo. Eles compram pequenas amostras que contêm esses cheiros que também não existem mais no dia a dia. O único cheiro que prevalece é a fedentina das ruas.
Árvores? Também não existem mais. Foram todas derrubadas. Inclusive, a floresta amazônica é totalmente destruída e transformada em um deserto, ao qual as autoridades políticas exaltam como a Oitava Maravilha do mundo. As consequências disso tudo são pessoas castigadas pelo calor e pelo sol, com graves sequelas em seus corpos. Alimentos naturais já não existem. Tudo, absolutamente tudo, é industrializado.
Diante desse cenário tão devastador, impera o egoísmo das pessoas, que só querem lutar para sobreviver, sem se importar em ajudar o próximo. É uma constante luta pela sobrevivência.
O modo de vida nessa São Paulo, portanto, é muito surreal, ou talvez nem tanto. Do jeito que vamos, pode ser que esse futuro distópico não esteja tão distante assim.
Bem, esse é o contexto em que se passa a história, cujo personagem principal é Souza, um professor de história aposentado compulsoriamente. Ele é um dos únicos cidadãos que passa a questionar a realidade em que estão vivendo, que deseja saber os porquês dos fatos e de tudo que acontece a seu redor.
É uma leitura profunda, que nos faz refletir sobre a realidade que vivemos hoje e onde poderemos chegar, se não tomarmos certas precauções e mudarmos nossa forma de cuidar do mundo em que vivemos.