Sangue sábio

Sangue sábio Flannery O'Connor




Resenhas - Sangue Sábio


9 encontrados | exibindo 1 a 9


Philipe 29/03/2024

Em Sangue Sábio os cegos não veem, aleijados não andam e o que está morto continua morto. O'Connor utiliza do absurdo para criticar e apontar as incoerências do niilismo. A narrativa é muito interessante e repleta de comicidade, podendo causar estranheza no leitor, mas apresentando ao final uma certa esperança de redenção.
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Pe. Jeferson 11/03/2024

“Você não pode fugir de Jesus. Jesus é um fato”
O livro conta a história de Hazel Motes que volta à sua terra depois da guerra. Hazel é um fanático (ir)religioso . Ele luta constantemente contra a ideia de Cristo em sua mente. Ele chega ao ponto de se tornar um pregador itinerante e fundar sua própria religião, a “Igreja sem Cristo”.
Hazel acaba se cercando de gente da pior espécie (parece que só tem gente má, hipócrita e maluca no universo da autora), mas, por mais contraditório que pareça, ele é o único que leva a sério a questão religiosa no livro, e vai até as últimas conseqüências para viver e propagar a sua fé na ausência de Cristo.
Foi minha primeira experiência com Flanney, e adorei! Os tipos bizarros que ela apresenta na obra só são inverossímeis na cabeça de quem não tem contato com a vida real. É um “mundo cão”, mas sempre perscrutado pela Graça que procura uma brecha para chegar aos corações.
O livro já me ganhou na introdução, que apresenta alguns aspectos pitorescos da vida da autora. Seu senso de humor peculiar me fez pensar que ela seria uma ótima companhia para algumas horas de conversa.
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Gabriel.Alfaia 27/02/2024

Para o leitor sutil.
O livro é uma obra-prima, mas quem quiser ler tem que saber onde está se metendo. A Flannery não é o tipo de autora que vai explicar que personagem X fez algo por causa de Y. Ela está interessada em leitores que saibam inferir motivações através das implicações. Então, enquanto grande parte dos leitores mais acostumados com tudo entregue de bandeja achem, as ações dos personagens são tudo menos aleatórias. Além dos leitores que não conseguem analisar o contexto, também não recomendo para quem quer ''torcer'' para algum personagem. Todos os personagens aqui são pessoas ruins. Algumas de forma cômica, outras de forma preocupante. Eu recomendo esse livro para o leitor que está começando a se aventurar em uma literatura um pouco mais sofisticada, que não sente a necessidade de agradar e nem de limitar as interpretações através de explicações exageradas.
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André Costa 20/01/2024

Uma perda de tempo
Despropositada e sem profundidade, é assim que eu resumo a história que esse livro conta.

O livro até que começa de forma interessante, e a falta de profundidade sobre a personalidade, sentimentos, e motivações do protagonista dão um ar de mistério que o livro provavelmente esclarecerá no desenvolvimento da história. Mas não, todos os personagens são mal desenvolvidos, da mesma forma. Fazem coisas aleatórias, quase sempre sem um objetivo claro.

Lendo o livro, tive a sensação de estar diante de um roteiro para cinema, de um filme cult. Da forma como é escrito, até faria sentido se fosse um filme, já que as “melhores práticas” de cinema ensinam que um diretor deve mostrar, não explicar tudo o que acontece na trama. Mas entendo que isso não funciona para uma história ficcional contada através de um livro, pois é preciso apresentar a psiquê dos personagens, pelo menos de alguns deles.

Quando li o último capítulo, percebi a grande perda de tempo que foi ler esse livro. Com esse final, nem como filme cult funcionaria.

Li o livro porque a cantora Weyes Blood disse que tirou seu nome artístico do título desse livro em inglês “Wise Blood”. A cantora é excelente, o livro é uma perda de tempo. Um dos piores que já li na vida.
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Alessandro232 09/06/2023

Um passeio bizarro pela grotesca realidade de Flannery O'Connor
"Sangue Sábio" é aquele tipo de livro que propositalmente tira o leitor da "zona conforto". Isso porque a prosa muito peculiar de Flannery O'Connor não é do tipo que agrada. Muito pelo contrário, O'Connor incomoda e sua escrita até mesmo pode se tornar perturbadora em algumas passagens do romance.
"Sangue Sábio" é uma obra difícil se ser enquadrada em um gênero. O livro tem elementos, tais como o retrato cruel das pequenas cidades norte-americanas, o que o insere no universo do chamado gótico sulista. Mas, por outro lado, ele também tem um humor irônico, até mesmo negro e satírico, que o torna muito diferente dentro da literatura norte-americana.
O'Connor investe em descrições "realistas", nas quais destacam-se as paisagens rurais, mas quando menos se espera em suas obras, a exemplo de "Sangue Sábio" ocorre uma situação bizarra e desconcertante, que demonstra o quanto essa realidade pode ser grotesca e brutal.
O enredo de "Sangue Sábio" é protagonizado por Hazel Motes que deseja criar sua própria Igreja em torno dele existem outros personagens que são loucos, desonestos e marginais que representam o que há de pior na natureza humana. Ou seja, no livro não há mocinhos e bandidos, mas seres humanos marginalizados e desajustados.
Em "Sangue Sábio", a autora explora temas recorrentes em suas obras, a exemplo da hipocrisia religiosa, a pulsão de morte e violência e, principalmente, a redenção da alma que a relacionada a fé católica. É uma obra que destaca-se por personagens bem construídos, diálogos bem escritos e fatos inesperados que revelam o lado animalesco de alguns personagens, especificamente um deles que protagoniza uma das cenas mais bizarras do romance.
"Sangue Sábio" é uma obra desconcertante que mais incomoda do que agrada e traz o traço autoral de uma autora considerada por sua originalidade e estilo incomum de escrita, uma das mais importantes da literatura americana do século XX. Vale a pena ser lido, principalmente por leitores que querem experimentar uma espécie de passeio por uma grotesca realidade moldada pela imaginação que revela o lado oculto e sinistro da América.
Sobre a edição: A edição lida é da Sétimo Selo. É brochura e traz um interessante introdução assinada pela pesquisadora Juliana Amato que comenta aspectos biográficos da autora e também do romance.
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Lucas1429 31/03/2023

O estupor da fragilidade
Flannery O’Connor figura dentre as mais conceituadas letristas do século passado, numa escala moderna, no eixo dito “gótico sulista”, que contém representantes inflamados que tornaram suas criações de perfis ambivalentes, perturbadores, a falhos, utilizando do humor, da ironia e do horror, passando em exame os valores do sul estadunidense. Faulkner, Capote, Williams, são nomes ferrenhos da popularização do termo, comumente lembrados mais que O’Connor, sendo ela a mais dúbia e inesperada de seus colegas.

A constatação de sua excentricidade é prematura. Desde que se iniciou na literatura, através da universidade e de um concurso que publicaria seu primeiro romance, Flannery, oriunda de criação católica, escorraçava temáticas censuradas em sua análise crítica, assuntos que à sociedade permaneciam blindados: o racismo estrutural, a hipocrisia religiosa, a fragilidade humana. Os dois iniciais são tópicos de discussões entre especialistas contemporâneos, ao categorizá-la no montante de autores racistas, já que excruciava seus personagens negros aos maiores dissabores enfrentados em solo de suas ambientações. Claro que as interpretações acadêmicas não se inibem e permitem o benefício da dúvida, sua proposta era óbvia no criticismo alcançado, evocar nos leitores horrores que essas pessoas viveram/vivem, e como a causa era viabilizada por outro, em que ela, branca, proporcionava um olhar em equidade para brancos ou negros - lhe importava mais dissecar nossos comportamentos irredutíveis que militar, ainda que o fizesse despretensiosamente.

Este seu primeiro romance é estranhíssimo, selvagem, duro. Hazel Motes, recém dispensado do exército, retorna aos confins de sua origem totalmente mudado, tal qual o espaço que revisitará. A excentricidade da audaciosa O’Connor confia nele o oposto do protelado àquele povo, Hazel é defensor de uma ideia que extingue Jesus de seus protestos de fé. Para ele, não deve haver um líder tão concentrado. Para ele ainda, as pessoas não estão salvas, quando confiadas na concepção básica do divino, no discurso evangelista de um culto que seja. Decide instaurar uma igreja sem Cristo, sem um mártir como símbolo. Hazel poderia até mesmo sofrer de uma sequela dos anos que passou confinado à teoria do exército como salvadores terrenos - engano. Não deveria haver idealização de supremacia alguma de qualquer Ordem. Falha humana em acreditarmos termos posses do mundo. O trauma de Hazel vira sua descrença, e da autora.

Há mais alguns personagens que cruzam com Hazel, um pregador-impostor e sua filha ingênua, um jovem despropositado, mais aproveitadores. É um painel das pequenas comunidades da época que inseriam em suas políticas o molde da religião como moral impositiva. O catolicismo representava uma minoria perante o protestantismo no país, estes, são conjugados nas lembranças de Flannery, e também na trajetória de Hazel, como fanáticos implacáveis. O’Connor, que viveu em centros como esses, diria que o Norte era mais agradável e teria consentido sua permanência por lá, não fosse o lúpus, ainda de pouco conhecimento, que a manteria em sua terra natal, rodeada dos tipos que preencheriam suas histórias.

Portanto, cabe nestas poucas páginas decência a uma história não totalmente compreensível para todos, mas bem formulada na intenção de disfarçar uma quase parábola de um homem desacreditado, esquecido de fé, que obedece ao seu sangue sábio, que é definido como o instinto que retém a cada um. Seu instinto, diria, e dos demais, refere-se às sensíveis almas à caça e espera de um propósito que ainda é uma incógnita. Agem como devem agir, em conformidade ao sistema, ou confrontando ele. Todos estão presentes no romance. Parece que nem Deus respondeu estas finalidades e nos deixa à deriva até hoje. Flannery provavelmente sentia o mesmo.
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urbenave 05/12/2022

Livro besta
Que livro mais besta, horrível, trágico, irreal, pesado e insatisfatório. Perda de tempo. Li ha anos e tô bravo com ele até hoje.
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Jorge Armando 01/07/2022

Bela escrita, conteúdo levemente perturbador
A sensação de estar diante do absurdo e ser o único a notar me acompanhou durante toda a leitura. É quase como estar numa roda de amigos e ser o único sujeito sóbrio do grupo, enquanto todos os outros estão loucos de bebida batizada. A autora escreve excepcionalmente bem, passa tudo que deseja transmitir com perfeita exatidão. Uma escrita realmente muito bonita, mas o conteúdo da obra é bizarro, grotesco, absurdo e causa um desconforto persistente. Mas é ruim? Não, pelo contrário. Toda essa atmosfera obscura que nos envolve ao longo da leitura cumpre precisamente as intenções da autora, e a composição no todo nos convida a uma interessante reflexão a respeito da relação do homem com a fé, com o divino. Num ritmo caótico, o romance nos joga no meio do olho do furacão, acompanhando, com altas doses de apreensão, o desfecho da história. Recomendo a leitura, e se o passeio for assustados demais pro seu gosto, tenta apreciar ao menos a beleza com que a autora descreve as nuvens no céu, as árvores do campo; ou a destreza que exibe ao detalhar cada cenário; ou ainda a construção da lógica infernal que guia o comportamento de seus personagens. Boa leitura
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L F Menezes 22/08/2012

Onde os cegos não vêem, os surdos não ouvem e os mortos permanecem mortos.
Essa é a frase que caracteriza a Igreja Sem Cristo de Hazel Motes, o personagem principal dessa estranha obra; e também é a frase que formou o livro, que é recheado de cenas terríveis e grotescas, maldades, violência e personagens sujos que nunca mudam (não crescem, não aprendem nada no decorrer da história).
Apesar disso, o livro não deixa de contar uma história bonita: um jovem que, ao sair do exército, perde toda a sua religião e toda a sua alegria de viver; aí vira um antipregador, que sai pelas ruas no seu carro velho tentando convencer as pessoas a largarem o cristianismo, que "Jesus era um grande mentiroso" e que a verdade só é alcançada quando a pessoa deixa de acreditar naquilo que ela não vê. Mas então cadê a beleza do livro? Está na procura, escondida durante a narração, de redenção por parte do protagonista, que na verdade só queria voltar a ter fé e ser limpo.
Porém, o título do livro não se refere a nada disso citado anteriormente, e sim de outro personagem: Enoque Emery, um jovem de 18 anos que chegara na cidade a dois meses, possuía o sangue sábio que herdara de seu pai (um sangue que o mandava fazer as coisas, controlava-o para realizar feitos que ele acreditava que o trariam uma recompensa), trabalhava no zoológico falando mal dos animais (mal sabia ele que isso devia ao fato de que ele tinha era inveja dos bichinhos) e não possuía nenhum amigo, talvez pelo fato Enoque apresentar uma certa... digamos... especialidade mental.
Os dois acabam se cruzando e cada um influenciando a vida do outro: Enoque acaba encontrando seu verdadeiro EU (mesmo que não tenha dado tão certo quanto imaginara)e Hazel, com a quebra do "novo Jesus", acaba enxergando a verdade, redescobrindo sua fé e buscando a redenção (mesmo que de uma maneira um tanto quanto ultrapassada).
Um clássico livro de opostos: belo e feio, engraçado e aterrorizante, cruel e bondoso, gótico e religioso, carnal e espiritual. Lê-lo é uma experiência que vai te fazer refletir tanto à favor da fé quanto da dúvida.
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