Monica Quintal 13/04/2024
"Ninguém vive somente para si."
"Mrs. Dalloway caminha pelas ruas de Londres em busca de flores para decorar sua festa, enquanto o ex-combatente Septimus Warren Smith é levado, a contragosto, para seu passeio diário.
Durante um dia inteiro, os pensamentos desses personagens, e daqueles à sua volta, com seus sonhos, angústias e paixões, são expostos ao leitor, que tem a experiência única de um vislumbre íntimo da mente humana. Ao visitar o lugar, um viajante estrangeiro fica impressionado com o método. Enquanto assiste à máquina em atuação, se pergunta se poderia intervir na execução da lei naquela terra.
Uma das obras-primas de Virginia Woolf, Mrs. Dalloway foi publicado pela primeira vez em 1925 e se manteve relevante na literatura britânica e mundial ao tratar de assuntos que abrangem desde as nuances dos relacionamentos em nosso dia a dia até transtornos decorrentes de traumas de guerra."
Mais uma leitura em dupla concluída com sucesso!
A leitura de Mrs. Dalloway foi uma experiência totalmente única. O livro é narrado de forma inovadora, acompanhamos o fluxo de consciência dos personagens, acessando pensamentos e percepções íntimas de cada um deles. A estrutura do romance é complexa, alterna entre diferentes pontos de vista e períodos de tempo, a traz um retrato da vida urbana em Londres após a Primeira Guerra.
De início, foi meio caótico acompanhar, é um livro que precisamos nos atentar a cada linha, a cada palavra, para não se perder nas mudanças de "narrador" (eu tenho astigmatismo, bastava uma bobeada na linha pra eu me perder, tive que aumentar a fonte do kindle pra não ter problemas na leitura)! Senti que, em muitos momentos, eu não ligava pra quem estava pensando, e em outros eu queria mais daquela reflexão ou do ponto de vista, mas o raciocínio era cortado pra outra pessoa. O que mais me fascinou nesse livro, de longe, foi a abordagem de diversos transtornos mentais, como transtorno de estresse pós-traumático, depressão e ansiedade. Gostei da questão de dois personagens principais que não se encontram, mas esperava mais, talvez mais reviravoltas (principalmente no final, e especialmente na vida da Clarissa), o que talvez seja meio que um erro meu, por colocar expectativas... mas enfim, no saldo, foi uma boa experiência! Acredito que vai ser um daqueles clássicos que vou gostar mais com o passar do tempo!
"Sentia-se um tanto jovem; ao mesmo tempo, indescritivelmente velha. Ela dissecava tudo feito lâmina afiada; ao mesmo tempo, estava ali fora, contemplando. Tinha a perpétua sensação, enquanto observava os táxis, de estar longe, longínqua, em alto-mar, sozinha."
"Como somos uma raça condenada, acorrentada a um navio naufragando, como a coisa toda não passa de uma piada de mau gosto, façamos, de todo modo, a nossa parte; mitiguemos o sofrimento de nossos companheiros de cárcere; decoremos a masmorra com ramalhetes de flores e almofadas infláveis; sejamos as pessoas mais decentes que pudermos ser."
"Por que ansiar pelo topo só pra lá ficar, embebida em fogo? Tinha mais era de se consumir! Queimar até as cinzas! Qualquer coisa era melhor, melhor brandir sua própria tocha e atirá-la na terra."
"A morte era uma ato de rebeldia. A morte era uma tentativa de comunicar, era sentir a impossibilidade de alcanças o âmago que, misticamente, evade-se de nós; a proximidade cindia; o arrebatamento se evanescia; ficamos sozinhos. Havia um enlace na morte."