Paulo Silas 09/09/2014Um livro curto, porém, profundo.
Trata-se de uma exposição de Sartre numa Conferência em Paris, no ano de 1945, na qual rebateu várias críticas que o existencialismo vinha recebendo, esta que foi estenografada e deu origem ao livro.
De forma categórica, denso e ao mesmo tempo simplista, numa linguagem acessível, Sartre explanou sobre sua filosofia, defendendo-a.
Sofrendo com críticas ferrenhas dos Marxistas, que taxavam o existencialismo de subjetivista ao extremo, bem como dos religiosos, que punham tal filosofia como uma problemática para a questão da moral, o filósofo explicou de forma brilhante os conceitos de angústia, desamparo e sobre a questão da existência preceder à essência.
Na questão da angústia, conceito que remonta à Kierkegaard, Sartre explicitou as diversas escolhas que possui o homem quando do trilhar de seu caminho. Para cada escolha, um ato diferente, um rumo a ser tomado, o que gerará consequências diversas que dependerão da conduta tomada. Para ilustrar, Sartre narra a história de uma aluno seu que lhe indagou sobre a atitude que deveria por este ser tomada: ficar em casa para cuidar da mãe enferma ou partir de modo patriótico para a guerra? O que deveria ser colocado na balança para se tomar uma decisão mais correta? É neste ponto que entra a questão da moral, cuja resposta pré-concebida, como ocorreria na religião (e mesmo assim discutível), é combatida por Sartre. Não há uma resposta adequada. Não há um caminho que seria o mais correto, mais justo, ou mais compreensível. As possibilidades sobre o que deve ser entendido como certo dependem unicamente a quem compete a escolha, e tão somente. É o próprio ser que molda o seu trajeto. Daí a angústia presente, gerada por situações do tipo.
Ao explicar sobre o conceito do desamparo, Sartre evidencia que o homem deve se compreender como ele por ele mesmo. Não há verdade absoluta sobre o que deve ou não deve ser feito dentro deste conceito. Não há uma verdade maior ou um ser supremo que delimite tais questões. Daí o desamparo, que vem quando o homem se dá conta de tal questão, a saber, é ele por ele mesmo.
Assim, o existencialismo arremata quando preceitua que a existência precede à essência. As escolhas e os objetivos partem do próprio ser. Não há uma definição pré-concebida que se estabelece num momento anterior à existência do homem. Primeiro ele existe, e, somente depois, molda a sua essência.
É numa síntese bem simplista (diz-se da linguagem utilizada) que Sartre define o seu existencialismo e combate as críticas que lhe foram feitas, defendendo ainda a necessidade de "descomplicar" a conceituação que tende a ser complicada para fins de explanações do tipo, seja para o público leigo, seja para alcançar alguém que por algum motivo não consegue entender a questão proposta, e é justamente o que Sartre faz nesta Conferência transposta para o livro.
Quanto ao título da obra, Sartre defende que o existencialismo é um humanismo, mas não o humanismo clássico do renascentismo ou do iluminismo, mas um outro tipo de humanismo, aquele que não coloca o homem no patamar sobre todas as demais coisas, aquele que reconhece a figura do homem como ser existente, com suas angústias e objetivando o percurso de seu trajeto, enfim, aquele humanismo no qual o homem possui a sua ponderada importância, assim como no existencialismo.
Ao final da obra, há ainda o registro das perguntas (em tons críticos) realizadas ao conferencista filósofo, o qual responde às mesmas com elegante maestria.
Recomendo!