Carlos.Eduardo 10/01/2024
O nome da rosa, ou um livro sobre? livros(?)
Confesso que me dirigi à ?O Nome da Rosa?esperando a mesma animação de quando assisti ao filme. Não poderia imaginar que minhas expectativas seriam não só atendidas como superadas. Umberto Eco entregou não apenas uma mostra espetacular de erudição, adquirida, certamente, não só através de seu ofício como pesquisador, mas também uma narrativa ímpar, que poucos autores conseguem conceber.
Para o leitor mais distraído, ou mesmo afoito, o livro pode parecer apenas uma história de detetive, nos moldes de Conan Doyle ou Christie. Porém é mais do que isso.
Somos apresentados à uma Itália medieval, onde o narrador, Adso de Melke, que se propõe cronista fiel dos acontecimentos que tomaram forma nos anos de sua juventude, quando acompanhava seu mestre, o frei franciscano Guilherme de Baskerville, douto conhecedor das ciências dos homens e de Deus, durante uma missão delegada a ele pelo imperador. Mas essa premissa inicial engana, pois logo quando chegam na abadia onde Guilherme deve ajudar a organizar uma reunião que deve decidir o futuro de sua ordem monacal, ele e o jovem Adso são interpelados pelo Abade que os recruta para investigar estranhos e fatais eventos que ocorreram naquele claustro.
Desenrola-se aí a trama policial onde Guilherme, usando da razão, da lógica e de sua curiosidade inerente, interroga, investiga, cria teorias e alegorias para tentar chegar ao cerne desse mistério. Porém, a trama é mais complexa do que isso, Umberto Eco nos introduz no microcosmo dessa abadia remota e portentosa, onde somos apresentados paulatinamente aos mais diversos personagens, suas crenças e suas histórias. Porém, faz isso com uma perícia que poucos escritores possuem.
Mas o foco da trama não são os crimes cometidos dentro da abadia, mas sim a relação deles com seu maior tesouro: a biblioteca.
Através da biblioteca da abadia, seu lendário acervo, suas regras restritivas e o labirinto literal que a protege, Eco propõe uma reflexão bastante relevante sobre os livros, sobre a leitura, sobre o conhecimento e seu compartilhamento. Através desse prisma, Umberto Eco deixa transparecer sua própria relação com os livros (que pode ser estudada no livro ?A lógica do Cisne Negro? de Nassim Nicholas Taleb).
A conclusão da história é agridoce e coroa as reflexões de Eco sobre os Livros e o conhecimento e sugere, talvez inconscientemente, uma metáfora certeira: quando o conhecimento fica restrito a alguns poucos eleitos ele queima e vira cinzas, sendo perdido para sempre.
O Nome da Rosa é o primeiro livro que li em 2024, mas acredito que já seja o melhor.