Wagner47 04/12/2022
Unicórnios, leões, autores árabes e mouros em geral
Frei Guilherme é convocado para investigar um crime que parecia envolver algo simples, mas junto de Adso (seu Watson noviço adolescente) perceberá que há uma trama muito maior por trás disso.
Serei direto ao ponto quanto à investigação: simples, mas em sua grande parte bem executável. Meus poréns sobre ela se dão ao fato de afirmações tratadas como verdades quando convém (Miss Marple me ensinou a nunca acreditar que alguém está dizendo a verdade) e coisas na cara de Guilherme que chegava a conclusões bem enfadonhas só para aumentar a história.
Agora um sério problema do livro: contexto histórico. Há MUITA história católica e religiosa contada por Adso, o narrador do livro que simplesmente é iniciada sem mais nem menos para no fim servir mais de conhecimento ao leitor do que para preencher a obra. Ressalto que a pesquisa realizada por Eco é simplesmente completa e detalhada e ouso dizer que é invejável. Mas quando a gente tem um crime movendo a história principal, me pergunto: por quê? Victor Hugo faz muito disso em Os Miseráveis, mas faz muito sentido no final e como toda aquela aula de história é trazida para o clímax. Mas aqui não senti isso, além do fato de serem intermináveis.
E falando em detalhes e intermináveis, chego em outro problema: Adso e seus devaneios, os quais geralmente também não chegam lugar algum. Isso sem contar que ele faz questão de descrever TUDO o que seu olho vê, desde imagens de criaturas que não conhece ou todos os objetos em cima de uma mesa (alguns deles que também não conhece, olhe só).
Ainda sobre o Adso: ele simplesmente entrega o assassino bem no início, quando tudo ainda estava no ar. A história é contada no passado, com Adso agora velho escrevendo sobre sua aventura, portanto era de se esperar que citaria alguma coisa ou outra que estaria por vir. E eis que em meia linha diz algo a se esperar que não deveria ser dito. Fez eu esperar por algo e quanto mais eu lia e esse algo não acontecia, mais fui tendo a certeza de quem era o responsável.
Portanto já "sabendo" quem era o criminoso, parti de uma linha de investigação bem restrita e, devo confessar, o autor faz uns malabarimos inteligentes, mas por vezes enganosos.
Há uma história paralela onde a história de heresias casam muito bem. A resolução do caso também se faz de coincidências, mas incrivelmente cabíveis no momento e não passam a sensação de forçadas.
O final é bem frenético, porém chega num ponto que soa repetitivo. É daquela forma de "retrospectiva", mas são casos bem marcantes que não vi necessidade disso (ou aos menos fosse menos descritivo no meio do livro para complementar com o final).
Não foi uma leitura fácil e, de gosto estritamente pessoal, não foi agradável. O mistério é instigante e convincente, mas é tanto desvio de rota que me fez perder o interesse.
Traz uma ótima discussão a respeito do que é obra do homem e do que é do maligno (e Eco poderia se prender mais nisso).