Isaac 21/12/2021
"Os governos já não governavam. Já o dinheiro não comprava os homens. Acabara a iniciativa. Acabara a ambição. A vida era um cárcere." (p. 108)
A morte é a inimiga mais antiga e enigmática do homem, se fazendo presente desde os primórdios como uma sombra impiedosa. Mas vem cá, e se por acaso conseguíssemos finalmente derrotá-la, extingui-la?
Em seu livro, Orígenes Lessa aborda o fim da morte como premissa. Muito embora por si só isso já desperte a curiosidade no leitor, o autor busca mais do que explicar como tal proeza foi alcançada, trazer reflexões sobre as implicações do desaparecimento da morte. O livro traz um teor característico das obras distópicas, embora aqui Lessa não narrou a jornada de determinados personagens, mas deu foco total aos dilemas através da descrição das consequências para a humanidade
Como ficaria a economia, a indústria bélica, a indústria farmacêutica, as funerárias se simplesmente as pessoas não morressem? E qual o sentido da religião e do culto aos deuses se não seria mais necessário esses subterfúgios? Como os Estados lidariam com suas populações que envelhecem e não morrem, aumentando a fome, as doenças, a miséria? E como tudo isso afetaria as relações entre as pessoas, em se tratando de ética, moral e comportamento? Qual seria o propósito da vida diante de tudo isso?
Diferente do que suponhamos no início, os cenários mostrados não são tão animadores, e aqui está para mim o ponto principal da obra Vemos que a morte não é o impedimento para alcançarmos a utopia, pelo contrário! Aqui, Lessa, nas entrelinhas, nos provoca ao nos fazer pensar no papel da morte, sua importância em trazer equilíbrio, moderação, controle para a nossa sociedade. Ele inverte a lógica natural, não é mais a morte a grande rival e opressora, mas viver passa ser ruim, triste, angustiante, repleto de sofrimento e desalento. A vida passa ser um cárcere aonde seus prisioneiros buscam a todo custo encontrar uma saída, o passaporte para a liberdade - a morte.