Mefisto

Mefisto Klaus Mann




Resenhas - Mefisto


13 encontrados | exibindo 1 a 13


Pablo Paz 10/02/2024

O filme é melhor
Li este livro anos atrás por causa de um filme húngaro, baseado nele, de 1981 e que ganhou muitos prêmios à época, incluso o Oscar de melhor filme estrangeiro (1982). Trata-se da história e peripécias de um ator alemão na década de 1930 até a II Guerra Mundial, que tanto não se interessava quanto não entendia de política a ponto de aceitar um emprego à la advogado do diabo: ser o principal ator das propagandas nazistas. A história de um típico artista 'alienado', como se dizia na época. Sem perceber, ele terá que arcar com as consequências de suas escolhas quando a guerra torna-se realidade.

Peguei para reler e após algumas 100 páginas, percebi como o livro é mediano; nem muito bom nem tão ruim, mediano apenas. O filme é muito superior ao livro e acho que este só vem sendo editado ainda hoje por algumas razões: primeiro, por causa do próprio filme, que desperta a curiosidade para o livro; segundo, o seu autor, Klaus Mann, é filho do genial Thomas Mann - autor de obras monumentais como 'Os Buddenbrooks', 'Montanha Mágica', 'Doutor Fausto', 'José e seus irmãos', 'Morte em Veneza' e outros...

O filme é um primor, hoje considerado cult e já um grande clássico da Sétima Arte. O diretor húngaro, Istvan Szabó, é daquela estirpe, qual Alfred Hitchcock, que consegue tirar leite de pedra de livros ruins ou medianos: fez um grande filme a partir de uma obra bem clichê. No filme, há toda uma atmosfera sobre as circunstâncias e as ambiguidades que levaram o 'artista alienado' a fazer as escolhas que fez, algo que não encontramos no livro, cujas personagens são bem maniqueístas. Devíamos parar com o fetiche de que 'o livro é sempre melhor que o filme'. Nem sempre. Por exemplo, leia os livros 'Os pássaros' e 'Psicose' e compare-os com os filmes do Hitchcock, ou 'Presença de Anita' de Mário Donato com a minissérie brasileira de mesmo nome, e tu saberás do que estou falando.

Há escritores que deviam agradecer aos artistas do audiovisual por salvarem algumas obras do abatedouro da literatura.
comentários(0)comente



Beto 02/12/2023

No início tive grande dificuldade com a escrita do autor, com ambientação e com as personagens. Achei por muitas páginas que classificaria com 1 estrela. Porém, isso tudo mudou e o autor conseguiu desenvolver um protagonista tão bem construído, tão humano, tão real e isso é uma proeza que somente grandes autores conseguem. Não é um livro fácil e não é pra qualquer um. Mas adorei a história e a experiência!!
comentários(0)comente



elainegomes 16/10/2023

Mefisto de Klaus Mann. E seguindo o tema PACTO FÁUSTICO fica a pergunta, você faria tudo por um sonho? Pagaria qualquer preço para realizar seus desejos, para alcançar sucesso, fama ou dinheiro? Pense bem quanto custa cada escolha!! Há um pouco de Mefistófeles em cada um de nós, fica atento às seduções - o poder corrompe!! Edição impecável da @darksidebooks
comentários(0)comente



kiki.marino 16/10/2023

023
Finalmente meu reencontro com este livro que deixei quase a metade em 2021,é interessante notar quando minhas leituras em um certo ponto tem uma temática em comum mesmo parecendo aleatórias, só venho notar isso nas minhas notas.
Aqui é uma obra com tema "diabólico", nada de sobrenatural mas sim humano. Um ator que tem sua carreira e vaidade acima de tudo,algo natural no mundo da arte,em especial do gênero masculino, a diferença aqui é que a trama está situada no período de ascensão do extremo nacionalismo-socialista na Alemanha, o partido de Hitler.
Hendrick
, o titere,bobo da corte,narcisista,ambicioso, desfilando por um caminho de sangue ,por cima de cadáveres em nome da arte, será tudo pela arte mesmo?
Um protagonista fascinante e sedutor, que também as vezes lembra que é apenas um homem comum e também ouve a voz da consciência ou do medo?? Para logo esquece-la pelo próximo canto da sirene do poder. Um ator fascinante e inseguro ,um farsante,um lindo monstro, que esquece sua humanidade ao escolher a fama.
Bom podemos notar da sua trajetória um paralelo com o fascínio que ditadores populista populistas tem sobre o "povo". No palco político e da arte tudo pode ser corrompido e adulterado.
comentários(0)comente



Karlesy 11/10/2023

Até que ponto vale se vender pela arte?
Narrativa muito interessante sobre uma releitura do pacto Faustico em que a alma é vendida pra figura do nazismo. Interessante acompanhar toda a ascenção do pensamento extremista, a tentativa de adaptação da sociedade, os lados de formando, a guerra de narrativas entre as pessoas, as atitudes de exclusão aumentando e o caos de instaurando. Talvez por ainda estar em ressaca da Pandemia do COVID-19 com o desgoverno que tivemos, foi uma leitura mais arrastada, lenta. Traumas deixam marcas e revisitar tudo isso nesse livro, não foi fácil ?
comentários(0)comente



Livrística 01/06/2023

Premissa interessante, leitura decepcionante
Apesar de ser um livro de ficção, Mefisto é uma ótima opção para que se entenda como uma ideologia hedionda como o nazismo ascendeu ao poder. A história demora um pouco pra engatar mas tem seu ponto alto justamente quando Hitler se torna chanceler da Alemanha em 1933 e, a partir daí, vemos o personagem principal Hendrik Höfgen optar pela omissão.

Muitas pessoas dizem se tratar de um personagem que fez DE TUDO pela ascensão artística (Hendrik é ator) mas, na minha leitura, ele apenas se acomodou. Afinal, em suas próprias palavras "...o que ele tinha a temer? Ele não era filiado a nenhum partido, não era judeu (...) Ele era um rapaz loiro da Renânia!" Portanto, era só ficar quieto no seu canto para escapar ileso e fazer contato com as pessoas certas para se tornar famoso, o que não seria mais tão difícil já que muitos atores e atrizes que abominavam o regime, abandonaram o país deixando o caminho mais livre para Hendrik, que não tinha escrúpulos.
Höfgen é um sujeitinho sem caráter, inseguro, mesquinho e um pouco ambicioso e através da história de um personagem com essa postura, Klaus Mann (que eu achei um escritor bem fraco, aliás, contrariando as minhas expectativas) ajuda a gente a entender a construção social por trás de regimes autoritários. Afinal, o ditador alemão não escravizou/hipnotizou o povo alemão na década de 30... Os "Hendriks Höfgens" da vida real contribuíram muito para a construção daquele regime naquele país.

Apesar de não ter gostado tanto do livro por causa do estilo do autor (ou a falta dele rs), acho a leitura válida pelo período histórico que retrata.
comentários(0)comente



Bruno.Rodrigues 04/02/2023

"preso em sua ambição como numa prisão?
Ácido, seco, irônico e triste.
A trama desenrola em duas camadas. A primária que retrata a ascensão de Hendrik nos palcos dos teatros, enquanto o nazismo toma conta da Alemanha em segundo plano. A narrativa é uma obra prima a parte composta por vários momentos de conflitos morais do personagem principal em paralelo com a alienação coletiva da população. Não tenho muito o que falar... o livro é pra ser sentido... por mais que seja desconfortável. É para nunca esquecermos do passado, pois, se tratando do caos político; a história sempre se repete
comentários(0)comente



Nathalia184 30/01/2023

Um baita de um livro com uma baita crítica social; ainda mais nos tempos em que vivemos atualmente, com ataques à democracia cada vez mais constantes e ao discurso de ódio que teve início com um certo pensador brasileiro e foi perpetuado por algumas figuras políticas.

É um livro denso de ler, mas compensa cada página.
comentários(0)comente



Juju 07/12/2022

A ascensão de um monstro
Hendrik Höfgen sempre foi talentoso, desde menino sua mãe Bella reparava em suas habilidades que tendiam ao dramático, o teatral. Assim, ele tomou seu rumo e partiu para a cidade de Hamburgo na Alemanha a fim de seguir o seu sonho e alcançar o status de uma estrela dentro do Teatro Nacional. Munido de convicções fortes e um quê de revolucionário, Höfgen encantava as pessoas ao seu redor e surpreendia nos palcos com uma habilidade sobrenatural de se metamorfosear, encaixando-se com perfeição às exigências emocionais de personagens importantes. No entanto, sua verdadeira personalidade era fútil e egoísta, visto que estava priorizando suas necessidades acima das de quaisquer outras pessoas. Além disso, o fantasma do nazismo aos poucos se agigantava, sorrateiro e escorregadio como um gato, uma névoa fétida que inicialmente parecia inofensiva no formato de conversas e burburinhos, porém crescia exponencial e rapidamente sem que lhe dessem o devido crédito como uma ameaça perigosa. Assim, quando o temido Führer ascende ao poder e seu reinado de terror tem início, Höfgen desesperado se vê obrigado a contemplar uma decisão que determinará o rumo de sua vida para sempre: buscar refúgio em uma outra pátria ou vender sua alma ao inimigo em troca da fama a qual desde novo almejou. A figura do divertido e travesso Mefistófeles de Goethe diverte e fascina o alto escalão, mas afinal poderia uma vida repleta de luxos e extravagâncias preencher a alma de um homem vazio?

Escrito por Klaus Mann enquanto ainda estava exilado na Holanda, Mefisto é uma obra potente, impactante e extremamente necessária que possui paralelos assombrosos com a nossa realidade atual (o atual governo principalmente). Mann após ser libertado em 1936 tornou-se uma voz ativa e importante que trazia esperança para aqueles que lutavam contra o fantasma do nazismo de Adolf Hitler. Seu livro, portanto, é uma crítica ardente e apaixonadamente mordaz ao regime que destruiu a reputação de uma nação e foi responsável por milhões de mortes e barbaridades atrozes. O personagem de Hendrik Höfgen representa perfeitamente a pessoa suscetível, privilegiada ambiciosa e egoísta que se deixava levar pelo brilho de uma vida fútil que apenas servia para mascarar os gritos e ocultar o cheiro do sangue inocente sendo derramado dentro dos terríveis campos de concentração. Tal como o perverso de Goethe - Mefistófeles -, Höfgen é a pior espécie de demônio: aquele que sorri bonito e fascina todos ao seu redor com gestos delicados e inofensivos, mas que verdadeiramente em seu âmago esconde uma podridão capaz de destruir seu caráter, virar as costas para os amigos e vender sua alma ao verdadeiro Diabo. Para uma pessoa assim não existem limites e Hendrik que busca afanar a culpa através de gestos insignificantes é em essência um indivíduo vazio, um poço de desolação moral. Acompanhar sua jornada, no entanto, é algo extremamente atrativo e único, pois o autor detalha com maestria seus pensamentos e os daqueles que lhe desejam mal ou bem, os coadjuvantes de sua jornada e senhores de sua nova vida asquerosa que lhe ditam o ritmo ao qual dançar. Uma dança macabra, mortal e digna de pena. Essa obra é completa em todos os sentidos e me vi deslumbrada em meio às páginas, sorvendo cada palavra, sentindo cada emoção e processando toda essa carga pesada. Extremamente educativa, informativa e atemporal, umas das minhas melhores leituras do ano (aqui deixo um parêntese ao rapaz que vi falando mal desse livro na internet: cuidado, suas palavras quase me fizeram desistir de iniciar a leitura e isso seria tragicamente triste, de verdade). Vale lembrar que o livro permaneceu censurado por muitos anos e não haviam edições de Mefisto publicadas no Brasil, felizmente a Darkside resolveu esse problema nos trazendo uma edição lindíssima, digna de todo o respeito que a obra merece!
comentários(0)comente



Carlos Nunes 01/07/2022

O preço da fama
O autor era um ferrenho opositor do nazismo, teve sua obra queimada em público, perdeu a cidadania alemã, mas conseguiu fugir e escreveu essa obra no exílio, em 1936. E acabou se tornando uma espécie de porta-voz dos intelectuais alemães que viviam no exílio, contra os nazistas. E esse livro é uma exemplo magnífico dessa luta, uma das poucas obras que nos mostram que nem todos os alemães compactuavam com as ideias de Hitler e seus asseclas. É um livro rápido e fácil de ler, mas bastante profundo nas suas colocações, especialmente sobre os sentimentos do provo alemão acerca da situação que estavam vivendo - e isso ainda antes da II Guerra começar, quando grande parte dos horrores perpetados pelos nazistas ainda nem tinham vindo à tona. E MEFISTO mostra também o outro lado, através da história de um ator de teatro extremamente talentoso e que tem acima de tudo a ambição de tornar-se nada menos que o maior ator da Alemanha. E para conseguir seu intento, ele fará de tudo, até mesmo vender sua alma ao Diabo, no caso, o alto escalão do regime nazista. Curiosamente, ele alcança seu objetivo através da interpretação magnífica de Mefistófeles, em Fausto. Porém, ironicamente, aqui é o próprio Mefistófeles que se rende a um Mal maior. Romance soberbo, leitura mais que recomendada e, se possível, não deixem de assistir o filme baseado nele, obra-prima do cinema, estrelado de forma ímpar por Klaus Maria Brandauer.
comentários(0)comente



Matt 26/05/2022

Um livro importante. Um tema delicado.
?Mefisto? foi um dos inúmeros livros que meu orientador do mestrado me indicou para ler, sendo mais uma releitura do mito do doutor Fausto e seu pacto com o diabo.
Esse romance, ambientado na Alemanha nazista do início da década de 1930, conta a história de um ator comunista que se torna a estrela nacional do governo alemão, abdicando de todos os seus princípios e posicionamentos políticos.
O papel que leva esse ator ao estrelato é nada mais, nada menos que o Mefistófeles do Fausto de Goethe. Peça considerada a obra mais importante em língua alemã. Daí, o ator Hendrik Höfgen rende-se ao regime nazista e torna-se um observador das crueldades que ocorrem com os seus antigos companheiros de teatro revolucionário.
Esse romance entra na mente do personagem e narra o enredo com aspectos assustadoramente contemporâneos, que podemos relacionar com algumas coisas que a gente vê acontecendo hoje em dia (não vou mencionar o que ou quem, mas quem tem ouvido ouça, quem tem olhos veja).
O autor é Klaus Mann, filho do magnífico e insuperável Thomas Mann, que publicaria, anos depois, uma outra releitura do Fausto de Goethe (Doutor Fausto), também fazendo relações com o pacto da Alemanha com o Terceiro Reich.
A inspiração para o personagem do sr. Höfgen foi o cunhado do autor, Gustaf Grüdgens, consagrado ator cujo maior papel foi o Mefisto do Goethe. (Tenho que concordar com os que dizem que ele fez a performance absoluta do personagem! Tem um filme do Fausto de 1960, para quem quiser tirar a prova)
Grudgens foi casado com Érika Mann, irmã de Klaus. Apesar de que há rumores que o casamento era apenas de fachada, considerando que há especulações que tanto ele quanto ela eram homossexuais.
Esse livro é, sem sobra de duvidas, uma preciosidade e deve ser lido. As questões tratadas aqui são fundamentais para a reflexão acerca da sociedade que vivemos e das motivações que culminaram nos acontecimentos tão fatais da segunda guerra.
-
comentários(0)comente



Deghety 28/11/2016

Mefisto
Durante a ascensão nazista um ator provinciano aproveita com extremo oportunismo para chegar ao topo do reconhecimento de sua arte em uma Alemanha perturbada por ideais políticos e sociais atuando de acordo com sua conveniência.
Klaus Mann descreve os aspectos físicos e psíquicos das personagens de uma forma bastante acentuada e inédita ( ao menos a mim) e também como a sociedade alemã da época estava fortemente envolvida com ideologias sob a visão de personagens de ideologias divergentes.
comentários(0)comente



jota 12/10/2011

O louro da Renânia
Mefisto (1936) é o livro mais conhecido de Klaus Mann, filho de Thomas Mann. Resumidamente, é a história de um ator que vende a alma ao diabo, i. e., aos nazistas. Baseado na vida real de Gustaf Grundgens (que foi casado por pouco tempo com Erika Mann, irmã de Klaus), a publicação da obra tornou-se ela mesma uma história complicada e confusa. Ao final da edição há um anexo, um relato de cerca de dezoito páginas que explica o que aconteceu (e sugere que, de algum modo, tudo isso teria contribuído para o suicídio de Klaus, de uma overdose de soníferos, em 1949). Também temos um prefácio esclarecedor, escrito pelo tradutor brasileiro.

Hendrik Höfgen já era um ator bastante apreciado pelo público e pelas autoridades alemãs em 1936. Nesse ano, durante a festa de 43 anos do primeiro-ministro, o gordo, na ausência do guia da nação, o Führer, a grande estrela da noite acabou mesmo sendo o sedutor e maneiroso Höfgen, diretor do Teatro Nacional da Prússia. Antes disso, vamos encontrá-lo no Teatro de Arte de Hamburgo, quando não era tão conhecido nem muito apreciado pelos colegas de profissão. Dentre outras coisas, detestava que o chamassem pelo nome verdadeiro Heinz. Também ficamos sabendo do seu envolvimento com uma suposta princesa africana, Tebab, a Vênus Negra, cujo nome é mesmo Juliette Martens. Ela é filha de uma africana com um engenheiro hamburguês, mas os traços do pai pouco se fizeram presentes na filha, então Juliette é uma figura exótica e cultiva seu exotismo. Que agrada profundamente ao ator.

Hendrik e Juliette mantêm uma relação atribulada, ao mesmo tempo em que ela lhe ensina dança. Mas Hendrik também se envolve com uma moça de família tradicional, Barbara Bruckner, que conheceu através de Nicoletta, uma jovem atriz da mesma companhia teatral. Hendrik e Barbara parecem se gostar e decidem se casar. Algum tempo depois ele topa com Tebab; os dois discutem, ele diz que a africana o persegue, vigia seus passos. Mas ele ainda a deseja. E também deseja atuar em Berlim, que proporciona fama nacional aos atores de teatro.

Através de pessoas influentes consegue um contrato na Kurfürstendamm, ainda que ganhando menos e que vá residir num pequeno imóvel. O casal deixa então Hamburgo e a princesa africana some de cena durante algum tempo. Depois Barbara começa a ficar enjoada com o comportamento do marido, pensa em voltar definitivamente para Hamburgo, e Hendrik pede a Tebab que venha morar em Berlim.

Logo na segunda peça apresentada na cidade Hendrik alcança grande sucesso de público e a crítica. Melhoram seu contrato de trabalho. Faz também alguns filmes e na temporada de 1932/1933 atua em Fausto, de Goethe, como Mefisto. Um sucesso esplendoroso, intimamente ligado à era de maldade que vai tomando conta da Alemanha.

Hendrik, que antipatizava com o nacional-socialismo e tinha amigos comunistas, após a temporada teatral de Fausto se refugia em Paris, temeroso por represálias. Depois, como não era judeu nem filiado a partido político e era comprovadamente um ariano, um louro da Renânia, as autoridades concedem que ele volte a atuar em Berlim. E há uma remontagem de Fausto, ele novamente no papel de Mefisto: as autoridades do Terceiro Reich se rendem ao talento interpretativo de Hendrik. Ao apertar a mão do primeiro-ministro ele percebe que não há mais volta: renega suas convicções do passado e feito seu personagem, vende a alma ao diabo. Reconhece-se como alguém que passou para o lado do mal, mas está feliz e orgulhoso de seu sucesso. Ao mesmo tempo conserva algumas antigas convicções políticas e artísticas; pensa e age dubiamente, tenta ajudar alguns amigos perseguidos pelo regime e despreza as peças que apenas enaltecem o regime.

Barbara se refugia em Paris e passa a combater o nazismo através de publicações; solicita o divórcio a Hendrik, que é rapidamente concedido (ela não era uma ariana pura) e agora ele tem de se livrar de Tebab, que é negra; ele não deseja ser visto em sua companhia em hipótese alguma; recomenda à amante ir embora de Berlim o quanto antes. E estreita ainda mais sua amizade com as autoridades do Terceiro Reich. Casa-se com Nicoletta. Por suas íntimas relações com os cabeças do Terceiro Reich, ainda que o ministro da Propaganda, o manco, não o suporte e conspire contra ele, é nomeado diretor do Teatro Nacional, o posto mais alto da cultura alemã naquele momento. Não bastasse isso, é nomeado, pelo primeiro-ministro do Führer, “conselheiro de Estado” e depois promovido a “senador”.

Mas tudo isso Klaus Mann nos conta de uma forma irônica, dissimulada (e às vezes debochada, especialmente quando se refere ao Führer e seus asseclas ou aos membros da alta sociedade alemã), que deve ter sido o jeito possível de fazê-lo em 1936, quando os nazistas já estavam amplamente consolidados no poder e espalhavam suas ramificações por diversos países europeus e havia delatores por toda parte. O final do livro é patético, então. E logo depois vem um aviso: “Todos os personagens deste livro representam tipos, e não pessoas reais.” Senão a obra jamais seria publicada (relembro que não foi fácil para Klaus Mann publicá-la).

Ainda que seja um livro de tamanho médio (318 páginas), a leitura de Mefisto nem sempre é muito fácil, as letras são pequenas, os capítulos são bastante longos e, especialmente, o tema abordado é complexo. Da mesma forma que não é fácil ler Doutor Fausto, de Thomas Mann (filho e pai trataram do mesmo tema em seus livros – a sedução do poder), Mefisto também exige alguma atenção a mais do leitor e um pouco de conhecimento de história relativa ao período que antecede a II Guerra Mundial.

Bem antes que o livro chegue à metade, a história de Hendrik Höfgen já nos envolve completamente e assim será até o final. E aí, se já não tinha se dado conta antes, o leitor compreenderá então que esteve o tempo todo na companhia de um grande autor e de um ótimo livro. Mas que certamente não vai agradar a todo mundo.

Gerson 24/05/2012minha estante
Muito bem resumido !




13 encontrados | exibindo 1 a 13


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR