Deghety 15/10/2020PapillonAutobiografias sempre me deixam desconfiado e o que me causou o "pé atrás" nesse livro foi o fato de o protagonista, o autobiografado, ser quase sempre o líder e queridinho por onde passou, tanto entre condenados como entre guardas e cidadãos dos locais que se refugiava.
Me falta também, devo lembrar, um pouco de conhecimento sobre o tratamento para com forçados (foragidos) nas primeiras décadas do século passado.
Os planos de fuga são dignos da série Prison Break , aliás, Michael Scofield lembra Papillon, sobre ser o "queridinho" como eu disse logo acima.
Algo bastante interessante na história é o fato de envolver várias etnias, enriquecendo culturalmente o livro.
A leitura é bastante organizada, bem descrita e "roteirada".
Quanto aos campos de condenados, realmente há ocasiões que a desumanidade chega a ser incrível em todos os aspectos, especialmente na Devoradora de Homens, na Ilha Saint-Joseph e Colônia Penal de El Dorado.
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"Já estou aqui há mais de dois meses. Essa reclusão, a meu ver, é o único lugar onde não se tem nada a aprender. Porque não se pretende ensinar nada."
Julgo importante ressaltar que apesar de se tratar de criminosos, a ideia de liberdade, da maioria, não é só se ver livre da condenação, e sim, de reconstrução da vida de forma regenerada.
"...não interessa onde eu viva, terei tempo de ganhar a estima e a confiança da população e das autoridades por meu modo de viver, que deverá ser irrepreensível. Até melhor: exemplar."
Mesmo sob minha desconfiança quanto à autobiografias, a obra é digna do mérito que já lhe foi imposta, em especial ao universo literário.