Juliane.Sturm 13/01/2022
Louco? Será?
?O monge negro?, escrito por Anton Tchêkhov em 1894, foi o último conto deste livro especialmente intrigante. ?Monge negro? não se refere à cor da pele e, sim, às roupas que cumpria usar os monges e representantes do baixo clero ortodoxo.
Neste conto, é apresentado Andrey Vasilievich Kovrin, que esgotado e cansado, dirige-se à casa de seu antigo tutor, Pesotzky, célebre horticultor russo. Nestas férias, ele reencontra a filha do horticultor, Tania, a qual não via há cinco anos. Certo dia, Kovrin comenta com Tania sobre uma lenda de um monge negro que caminha por vários lugares, mostrando-se a uns ou a outros (e isto acontece de mil em mil anos). De alguma forma, ele não sabia como, mas tinha certeza, o monge apareceria para ele. A partir desta introdução, a história começa a desenrolar... Conto fácil e rápido de ler!
Esta narrativa me impressionou de várias formas, de como os ?loucos? são vistos pela sociedade (principalmente naquela época) e forma que os sentimentos de Kovrin são trazidos conforme a história vai passando. Demonstra a angústia dele não ser levado à sério, da ansiedade dele querer falar com o monge e da preocupação de que ninguém perceba o que está acontecendo. O protagonista faz isso pois os ?loucos? não são levados à sério (e que por vezes nem loucos são ? estão apenas trazendo uma outra perspectiva da existência ou até científica). ?E quem lhe disse que os homens de gênio, respeitados pelo mundo inteiro, não tiveram visões? Diz a ciência de hoje que o gênio está muito próximo da loucura. Creia-me, as pessoas saudáveis e normais são vulgares: o rebanho.? e com estas palavras, o Monge Negro, que aparentemente era uma alucinação, estimula o escritor Kovrin a mergulhar na loucura gerada pelo seu próprio talento e o sofrimento de não querer perder a sua essência.
Esta história também me sensibilizou bastante após eu ler um pouco mais sobre a história de Tchêkhov: este conto pode também trazer uma visão instigante e perturbadora sobre sua própria existência e de seus próprios conflitos durante a evolução da sua doença ? a tuberculose (e talvez somada à loucura?). Anton Tchêkhov nasceu em Taganrog, na Rússia, à 17 de janeiro de 1860, Anton Pavlovitch Tchêkhov foi criado em ambiente humilde, numa atmosfera conservadora e patriarcal. Pouco depois de terminar seus estudos universitários, sentiu as primeiras manifestações da tuberculose, mas não lhe deu muita atenção. A doença o levou a buscar um clima mais ameno no campo, próximo de Moscou (coincidência? Acho que não...). Além disso, dizem que a tuberculose naquela época produz delírio cerebral, espelhismos, sensações óticas e auditivas e sem dúvida, o enorme atrativo, a sedução que exerce sobre o leitor reside em sua beleza poética, na do espelhismo tão maravilhosamente reproduzido.
?A lenda da figura fantasmagórica que surge para um intelectual, como a projeção de seus conflitos espirituais?