Djeison.Hoerlle 11/01/2022
Já faz um certo tempo que me desprendi de livros considerados clássicos da literatura. Não que tenha ocorrido algum desgaste no apreço que já tantas vezes expressei por esse tipo de material, o qual não consigo deixar de admirar, é só que uma calamidade atingiu minha vida: eu virei adulto. Quando possuo tempo, não possuo energia para ler, ou não possuo dinheiro para comprar um bom livro, e quando possuo dinheiro, não possuo tempo, e nesse ritmo de malabarismo de sinaleira vou seguindo.
Ainda assim, consegui com muito esforço ler o meu primeiro livro de um escritor russo. E a esta altura, mesmo que já calejado por diversos outros expoentes da literatura clássica, admito que temi e imaginei que talvez ainda não possuísse o nível intelectual necessário para absorver o conteúdo. Felizmente, eu me enganei.
Tchekhov escreve sobre as pequenas coisas do cotidiano, indo desde a odisseia de uma cachorra que se perdeu até as conjecturas que um beijo roubado pode despertar. Sem enfeites, sem devaneios excessivos, sem aquela necessidade de frases exuberantes e rebuscadas, que para a minha geração, mais amedrontam do que inspiram os leitores. Do início ao fim, Tchekhov deixa claro que é um ser humano e que tem como objetivo narrar até o limite desta experiência, sendo eles muitas vezes pequenos desvios da rotina e angústias corriqueiras.
Dada as minhas expectativas iniciais, dá para se dizer que foi quase terapêutico. Não apenas por me sentir uma vez mais dentro da casca de jovem culto e idealista que eu buscava ser no auge da adolescência, mas também por sentir que o frenesi em que vivemos é muito mais interno, por meio de pensamentos que se atropelam enquanto buscam organizar quantidades exorbitantes de informação, do que no mundo que nos cerca, e que com sorte, uma quebra de rotina, um beijo roubado ou mesmo um livro bem escrito, podem aquietar e ressignificar.