Max Rodrigues 23/02/2015
É chic! É catita!
Publicado, postumamente, em 1925 por seu filho Jose Maria, “A Capital! (Começos duma carreira)” de Eça de Queirós (1845-1900), configura-se como um romance realista, porém inacabado. Em razão do forte teor desta obra, seu filho, Jose Maria, julgou sensato fazer modificações e censuras de modo a tornar a obra menos pungente. Assim sendo, a obra da presente edição (Editora Globo), não condiz com a edição acima mencionada, mas a um extenso trabalho do filólogo Luís Fagunde Duarte que recorreu aos manuscritos autógrafos do autor a fim de apresentar uma obra propriamente de José Maria de Eça de Queirós e digna de seu estilo ironicamente mordaz e sardônico.
“A Capital!”, provavelmente, fora escrita entre 1877 e 1884, porém não chegou ao fim para que seu autor pudesse cuidar de refundições de suas famigeradas obras “O Crime do Padre Amaro” de 1875 e “O Primo Basílio” de 1878 e, afinal, para dar prioridade à criação de “Os Maias” de 1888.
Concernente à obra em comento, pode-se dizer que, muitas pessoas, principalmente mulheres, não criarão grande interesse por esta obra, ao menos em um pouco mais da metade dela, vez que, por ser inacabado e por Eça, através de correspondências, dizer que levaria ‘inda algum tempo para tirar dela “uma obra viva”, sua narrativa é um tanto arrastada, entretanto o que causa interesse é o fato de que, na maior parte, a obra se nos apresenta muito masculina, em que figuram tão somente homens e em seus ambientes, em suas conversas.
O romance trata da história do jovem Artur Corvelo, desde sua infância, passando por seus estudos, até chegar à maturidade. Rapaz inclinado às letras, alimentando sonhos de glória literária, imagine-se viver entre a Alta Sociedade, entre o meio intelectual da capital, Lisboa. Porém, vê-se confinado à vidinha interiorana de Oliveira de Azeméis, onde conhece mui divertido Rabecaz, com quem passa muitos dias a jogar bilhar e beber aguardente.
Feliz ou infelizmente, um tio seu vem a falecer, fazendo com que Artur herde três contos, dinheiro este que utiliza para, então, direcionar-se para Lisboa em busca da realização de todos os seus sonhos.
Por meio de sua prosa fluida, Eça nos apresenta a vida quotidiana de Lisboa, os costumes da época, de maneira bem detalhada além, claro, de brindar-nos com mui divertidos e trágicos momentos por que passa o pobre Artur Corvelo.
Terceira obra que leio do grande Eça de Queirós. Costumava considerar “A Cidade e as Serras” de 1901, como minha obra favorita até então, porém, por ambas as obras, esta e a que ora comento terem, em suma, a mesma essência, resolvi mudar de opinião, pois por mais que “A Capital!” seja inacabada, foram poucas as obras que me causaram uma mixórdia de sentimentos como tristeza, aflição, alegria, ansiedade sem falar, tudo isso fruto da excelência na criação de tipos humanos.
O que nos choca e comove em toda essa história, é humanidade de seu protagonista, uma das características fundamentais do porquê de clássicos serem clássicos.
Afinal, como disse o filósofo Olavo de Carvalho (1947-), “se você não é capaz de tirar de um livro conseqüências válidas para sua orientação moral no mundo, você não está pronto para ler este livro”, o mesmo vale para “A Capital!” de Eça de Queirós, se você não está pronto, amadureça literariamente antes de ler, caso esteja pronto, leia-o já! “É chic! É catita!”