A capital!

A capital! Eça de Queiroz




Resenhas - A capital!


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Andreia Santana 27/10/2021

Um romance menos badalado, mas precioso
A capital é considerado o romance mais autobiográfico de Eça de Queiróz, com um protagonista que assume papel de alter ego do escritor. É uma obra menos badalada do autor português. Começou a ser escrita em 1877, mas só foi publicada em 1925, mais de 20 anos depois de sua morte, com a supervisão de um dos seus filhos.

O livro conta a história de Artur Corvelo, um jovem poeta aspirante ao estrelato e que vive com as tias idosas em uma província no interior de Portugal, mas anseia morar em Lisboa, na capital, onde acredita que seu ‘gênio’ irá conquistar os salões aristocráticos e lhe garantir fama, fortuna e uma boa posição social.

Só que o jovem poeta é um protagonista molenga e boboca, cheio de um romantismo piegas e com aspirações de alcançar uma grandeza que ele tem bastante preguiça de conquistar.

Como um patinho feio, o rapaz deseja encontrar seu lugar no mundo mas, por ser muito ingênuo e totalmente destituído de malícia, sofre incontáveis decepções no decorrer da história. A natureza acomodada de Artur impede que ele se defenda dos aproveitadores que cruzam seu caminho. A sua ‘jornada do herói’ é totalmente às avessas.

A indolência do protagonista faz com que o leitor acompanhe o deambular de Artur pela vida com uma certa angústia. Ele anseia por ascender às classes mais abastadas e conquistar reconhecimento intelectual, mas Eça de Queiroz faz desse desejo uma quimera. A partir da passividade de Artur diante das circunstâncias, o autor critica a sociedade burguesa lisboeta e a aristocracia semi-falida, entediada e hedonista que frequentava cafés e teatros na cidade, tentando imitar os trejeitos da belle époque parisiense. Lisboa seria um rascunho, um carbono meio desbotado do desenho original, a efervescente Paris dos anos 1800.

Artur não tem traquejo social, é um jovem provinciano e até meio caricato. O universo dos ricos comensais, das anfitriãs de sobrenome antigo, mas pouca prata, e da ‘rapaziada’ boêmia que anima os bordéis meio decadentes de Lisboa lhe causa fascínio e estranheza ao mesmo tempo. Aceito nas rodas da high society mais por interesse dos nobres falidos em explorar sua gorda herança do que por seus dotes literários, ele vai sendo conduzido ao longo da história pela lábia e pelos caprichos de seus novos amigos da capital.

Um romance firmemente ancorado na crônica de costumes, A Capital apresenta outros personagens bastante pitorescos que gravitam em torno de Artur Corvelo. No interior, há as tias religiosas que enchem o padre guloso do vilarejo de comidinha farta e caseira; o ex-boêmio que gastou tudo o que tinha e, nomeado para um cargo público por influência de amigos, passa mais horas no boteco da província inventando lorotas sobre seus tempos áureos do que na repartição; a família de comercial de margarina do farmacêutico; o velho militar aposentado e meio lunático; o homem mais rico da vila com sua filha, a beldade casadoira e inacessível; e a prima solteirona que arrasta uma asa platônica para Artur.

No cenário da cidade grande, há a baronesa misteriosa por quem o poeta se apaixona e é casada com um homem anos mais velho; o jornalista com ares de cafetão que arrasta o moço incauto do interior para a vida boêmia; o janota que vive de aplicar pequenos golpes, mas têm uma vasta rede de conhecidos entre a nobreza da cidade; as prostitutas de luxo que são mantidas por seu amantes em hotéis caros e, claro, os funcionários alcoviteiros desses hotéis.

A prosa queirosiana - e para mim foi uma grata surpresa redescobrir esse autor - é pontuada por muita ironia e sarcasmo. O próprio Artur, apesar de deslumbrado, tem uma certa autocrítica e é dotado de um senso de humor auto-depreciativo que diverte e, ao mesmo tempo, irrita e provoca o leitor.

O exemplar que eu li:

Eça de Queiroz entrou na minha vida ainda na adolescência, a partir de O primo Basílio, um de seus romances mais famosos, que eu abandonei depois de 50 páginas porque achei muito maçante. Jamais consegui retomar essa leitura. É o único livro que já abandonei em uma vida de quase quatro décadas de leituras (comecei aos 10, tenho 47 atualmente). Tinha uma birra enorme com o autor de Os maias, A cidade e as serras, e de A ilustre casa de Ramires (que já estão todos na minha lista de leituras futuras). Fiz as pazes com Eça a partir de A Capital, que foi uma indicação meio por acaso que recebi do Skeelo, um serviço de streaming de livros que assino. Li a versão em e-book da edição de 2006, da Editora Globo.

Ficha Técnica:

A Capital

Autor: Eça de Queiroz

Editora: Globo

426 páginas

R$ 35,00*

*Pesquisado na Estante Virtual em 25/10/2021


site: https://mardehistorias.wordpress.com/
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Daniel 22/07/2018

Quando os acabamentos ficam pela metade...
Resenha no link abaixo!

site: https://blogliteraturaeeu.blogspot.com/2018/07/a-capital-de-eca-de-queiros-resenha-71.html


Pateta 04/10/2017

Desejo e frustração
Nem o próprio autor colocava esta obra entre as suas favoritas. Entretanto, até mesmo um texto menor, escrito por um mestre, é muitas vezes maior que a melhor coisa concebida por um asno. E os capítulos que descrevem o breve caso entre o protagonista e a espanhola são de pregar os olhos do leitor às páginas do livro.
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Max Rodrigues 23/02/2015

É chic! É catita!
Publicado, postumamente, em 1925 por seu filho Jose Maria, “A Capital! (Começos duma carreira)” de Eça de Queirós (1845-1900), configura-se como um romance realista, porém inacabado. Em razão do forte teor desta obra, seu filho, Jose Maria, julgou sensato fazer modificações e censuras de modo a tornar a obra menos pungente. Assim sendo, a obra da presente edição (Editora Globo), não condiz com a edição acima mencionada, mas a um extenso trabalho do filólogo Luís Fagunde Duarte que recorreu aos manuscritos autógrafos do autor a fim de apresentar uma obra propriamente de José Maria de Eça de Queirós e digna de seu estilo ironicamente mordaz e sardônico.

“A Capital!”, provavelmente, fora escrita entre 1877 e 1884, porém não chegou ao fim para que seu autor pudesse cuidar de refundições de suas famigeradas obras “O Crime do Padre Amaro” de 1875 e “O Primo Basílio” de 1878 e, afinal, para dar prioridade à criação de “Os Maias” de 1888.

Concernente à obra em comento, pode-se dizer que, muitas pessoas, principalmente mulheres, não criarão grande interesse por esta obra, ao menos em um pouco mais da metade dela, vez que, por ser inacabado e por Eça, através de correspondências, dizer que levaria ‘inda algum tempo para tirar dela “uma obra viva”, sua narrativa é um tanto arrastada, entretanto o que causa interesse é o fato de que, na maior parte, a obra se nos apresenta muito masculina, em que figuram tão somente homens e em seus ambientes, em suas conversas.

O romance trata da história do jovem Artur Corvelo, desde sua infância, passando por seus estudos, até chegar à maturidade. Rapaz inclinado às letras, alimentando sonhos de glória literária, imagine-se viver entre a Alta Sociedade, entre o meio intelectual da capital, Lisboa. Porém, vê-se confinado à vidinha interiorana de Oliveira de Azeméis, onde conhece mui divertido Rabecaz, com quem passa muitos dias a jogar bilhar e beber aguardente.

Feliz ou infelizmente, um tio seu vem a falecer, fazendo com que Artur herde três contos, dinheiro este que utiliza para, então, direcionar-se para Lisboa em busca da realização de todos os seus sonhos.

Por meio de sua prosa fluida, Eça nos apresenta a vida quotidiana de Lisboa, os costumes da época, de maneira bem detalhada além, claro, de brindar-nos com mui divertidos e trágicos momentos por que passa o pobre Artur Corvelo.

Terceira obra que leio do grande Eça de Queirós. Costumava considerar “A Cidade e as Serras” de 1901, como minha obra favorita até então, porém, por ambas as obras, esta e a que ora comento terem, em suma, a mesma essência, resolvi mudar de opinião, pois por mais que “A Capital!” seja inacabada, foram poucas as obras que me causaram uma mixórdia de sentimentos como tristeza, aflição, alegria, ansiedade sem falar, tudo isso fruto da excelência na criação de tipos humanos.

O que nos choca e comove em toda essa história, é humanidade de seu protagonista, uma das características fundamentais do porquê de clássicos serem clássicos.

Afinal, como disse o filósofo Olavo de Carvalho (1947-), “se você não é capaz de tirar de um livro conseqüências válidas para sua orientação moral no mundo, você não está pronto para ler este livro”, o mesmo vale para “A Capital!” de Eça de Queirós, se você não está pronto, amadureça literariamente antes de ler, caso esteja pronto, leia-o já! “É chic! É catita!”
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Gláucia 02/06/2011

A Capital - Eça de Queirós
O enredo me lembrou um pouco A Cidade e as Serras mas sem a graça e o encanto do último. Artur faz mil projetos de uma vida nova e as desilusões o fazem retornar ao ponto de partida. Vale pela escrita sóbria e irônica do autor.
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