Pele negra, máscaras brancas

Pele negra, máscaras brancas Frantz Fanon




Resenhas - Pele negra, máscaras brancas


120 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 |


Andreia Santana 15/10/2011

Verdades que precisam ser ditas
"O racismo e o colonialismo deveriam ser entendidos como modos socialmente gerados de ver o mundo e viver nele."

(Frantz Fanon)

A citação acima é da obra Pele Negra, Máscaras Brancas, escrita pelo intelectual antilhano Frantz Fanon nos anos 40 e publicada em 1952.

Mais de 50 anos depois da publicação, colocar o dedo na ferida do racismo e dos impactos da escravidão negra nas sociedades pós-coloniais, ainda causa uma certa saia-justa. Em certa medida, algumas passagens da obra chocam por serem completamente radicais, mas dolorosamente verdadeiras, guardadas as devidas proporções, pois passaram-se mais de 50 anos desde a publicação e o fato dele falar com propriedade dos conflitos pós-coloniais nas Antilhas, sobretudo na Martinica, pode levar erroneamente a crença de que seus exemplos não se encaixam ao Brasil. Encaixam-se, com perfeição cirúrgica, em diversas situações, visto que também somos diaspóricos (recebemos contingentes elevados de africanos expatriados pelo tráfico humano por mais de três séculos) e pós-coloniais (visto que fomos colônia portuguesa por mais de 400 anos).

Pele Negra, Máscaras Brancas, diz Lewis R. Gordon, o autor do prefácio da edição brasileira (publicação da EDUFBA), foi escrito originalmente como tese de doutoramento de Fanon na Faculdade de Medicina. A obra, porém, foi recusada e o orientador recomendou que escrevesse sobre um caso clínico. Fanon então decidiu transformar Pele Negra em um manifesto anti-colonialismo e um libelo à libertação do homem, tanto branco quanto negro, do que ele chama de complexo de superioridade (do branco colonizador) e de inferioridade (do negro colonizado).

O livro é uma colcha de retalhos e uma sessão de exorcismo combinadas. Colcha de retalhos porque Fanon, a título de traçar um panorama psicológico dos martinicanos, une poesia, prosa, filosofia, exemplos de casos clínicos com a devida conversa de consultório -, crítica literária (ela analisa livros escritos por romancistas da Martinica que só ajudavam no seu tempo a reforçar o estereótipo de que os negros seriam uma raça inferior), psicanálise etc.

E uma sessão de exorcismo porque o próprio autor, em tom confessional comovente, revela o quanto para ele, enquanto homem negro, a construção de uma identidade descolonizada foi tarefa sofrida. A própria construção da identidade negra é questionada por Fanon, bem como a identidade branca. Daí ele acreditar que a colonização e seus efeitos moldaram sociedades psicologicamente doentes. De um lado, o opressor que precisa do oprimido para legitimar sua superioridade. Do outro, o oprimido que precisa do opressor para legitimar seu lugar de vítima em busca de reparação. É bem radical, sem dúvida, principalmente quando percebemos que na sociedade atual, para que as distorções deixem de existir, é preciso reparação, a título de equilibrar as forças.

Aos olhos do século XXI, a discussão sobre raça estaria encerrada e ao invés disso, trabalhamos o conceito de etnias diferentes em uma única raça, a humana. No entanto, no tempo de Fanon, o conceito de raça ainda era muito presente na sociedade e pretexto para os mais diversos fins, quase todos excludentes, comparativistas e alguns bem cruéis, como o nazi-facismo. O racismo porém, está longe de ser um problema do passado, do tempo de Fanon. E é nesse aspecto que o livro toca o dedo na ferida. Para quem ainda se ilude com a crença de que o Brasil é uma bela e próspera democracia racial, um país multicolorido onde o encontro das raças aconteceu sem sofrimento e que negros, índios e brancos miscigenaram-se sem traumas, a leitura é dolorosa. Mesmo quem não compactua dessa visão estado-novista do país e tem noção clara das desigualdades sociais e raciais ainda presentes nesta república multicultural (aí sim, bem miscigenada), a leitura é esclarecedora e ao mesmo tempo impactante.

Ainda assim, senti falta de um pouco mais de atenção aos mestiços e aos conflitos que eles enfrentam, consigo mesmos e com os outros, quando vivem em sociedades radicalmente segregadas, em que não são suficientemente brancos para ser aceitos entre a elite branca e nem negros o suficiente para engrossar as fileiras do movimento.

Em certas passagens até, ele é implacável. Quando diz que as mestiças - na tradução usa-se o termo pejorativo mulatas - martinicanas não queriam se envolver com homens escuros, mas buscavam sempre os mais claros para se casar e assim "limpar a raça, há desprezo em sua voz. Desprezo por essa mulher martinicana que no entanto, é fruto do colonialismo. Mas, não tem como não identificar um discurso familiar particularmente próximo nessa afirmação de que os negros precisariam embranquecer para existir na sociedade colonialista.

Com a cultura afrodescendente no Brasil, por exemplo, em diversos momentos houve esse conflito entre valorizar a raiz da mãe África ou desafricanizar só um pouquinho, tirar da cozinha e botar na sala de jantar, com o objetivo de ganhar a simpatia da elite. E no Brasil, o conceito de elite, para muita gente, é particularmente parecido com o da Martinica de Fanon: o dinheiro embranquece até a mais negra das peles enquanto a falta do vil metal enegrece a pele mais clara. No entanto, é preciso se guardar as devidas proporções aí também, porque pessoas negras, mesmo ricas, sofrem racismo; enquanto brancos, mesmo bastante pobres, não sofrem a discriminação racial, embora possam sentir o preconceito de classe.

Para Fanon, aos mestiços só resta uma opção: é preciso escolher um lado. Mas, e se o lado que o mestiço quiser escolher for só o lado da aceitação enquanto ser humano, independente da cor da pele? E se a ideia for ser aceito pelos dois lados? E se a intenção for que não hajam lados e sim, respeito na diversidade, seja ela de etnia ou culturas? A obra, escrita apenas 50 anos após o fim da escravidão negra, não faz concessões.

Mas, ainda assim o sonho de Fanon era com um mundo sem diferenciação entre as cores, há lugar no mundo para todas elas, sem que haja dominados e dominadores. Fanon, que escreveu este livro antes dos 30 anos, sonhava com seres humanos, sejam negros, brancos, amarelos, vermelhos, não importa, mas seres humanos. No entanto, ele mesmo reconhece a distância dessa realidade e a luta para reverter o que séculos de um regime cruel e de discursos desqualificantes solidificaram a nível de inconsciente coletivo. É perfeita a análise que faz da publicidade, do cinema, das canções, todas moldadas para demarcar um lugar, inferior, para o negro na sociedade.

Em algumas passagens, Fanon parece aderir a uma ideia binarista da vida, uma ideia de que negros e brancos, africanos/orientais e europeus/ocidentais estariam em eterno conflito. Provavelmente, no seu tempo estavam mesmo e ainda hoje, a democracia étnica esteja longe de ser alcançada. A tendência do mundo globalizado porém, é também globalizar as cores, na teoria ao menos. Há autores que já trabalham com a questão sob uma ótica mais polivalente, sem esse jogo de contrários que parece marcar a obra de Fanon.

Quem era? - Frantz Fanon nasceu na Martinica (ex-colônia francesa nas Antilhas), em 1925 e morreu, aos 36 anos, de pneumonia, em 1961. Cedo demais, para alguém com o seu gênio. Era psiquiatra, dirigiu o Dept. de Psiquiatria do Hospital Blida-Joinville, na Argélia, onde também se engajou na luta pela independência deste país. Soldado durante a II Guerra, foi condecorado duas vezes por bravura. Os amigos mais próximas diziam que era um revolucionário e um homem de temperamento forte. Seu pensamento filosófico, de origem basicamente humanista, inspirou outros estudiosos e pensadores da diáspora africana, teoria política e social, teoria da literatura, estudos culturais e, principalmente, estudos sobre o colonialismo e o pós-colonialismo. Ao todo, escreveu quatro livros, sendo os dois mais importantes lançados em português: Os condenados da terra e Pele Negra, Máscaras Brancas. Este último publico pela EDUFBA, em 2008, com tradução de Renato da Silveira e prefácio de Lewis R. Gordon.
Silva 04/05/2021minha estante
Parabéns!! Ótima apresentação ecomentários


Andreia Santana 04/05/2021minha estante
Obrigada ?


JurúMontalvao 16/02/2022minha estante
Olha...q resenha!??
"eterno conflito" é triste, é revoltante, mas é o palpável cotidiano


Cleyton 30/11/2022minha estante
Ótimas observações. Você captou a alma do livro nessa resenha. Gratidão ?


Andreia Santana 30/11/2022minha estante
Eu que agradeço o comentário ?




Fer 06/01/2022

Acho que nem preciso falar que Fanon é muito foda kkkk mas o cara era foda. Tive dificuldades em umas partes do livro por não ser familiarizada com alguns aportes teóricos, como a fenomenologia. Além disso, o livro é uma surra de psicanálise, ao mesmo tempo que ele a supera, ao menos a elaborada por freud e seus seguidores mais próximos, com uma análise da sociogênese do ser humano. O final desse livro, acho que foi o final mais lindo que eu já li de um livro. É um livro que mexe muito com gente, porque diz de processos e vivências muito dolorosas e que estão ali marcadas por quem escreveu, e escrevendo-as, buscando dar sentido a elas em um projeto coletivo. O cara era foda, a psicanálise "colonizada" tem muito a aprender no que tange às aflições do ser humano e os modos de subjetivacao frente a uma realidade de desumanização do ser humano, e em particular, do grosso que sustenta esse mundo.
comentários(0)comente



raskova 02/09/2020

eu não sou nem capaz de falar sobre esse livro. é tão bem escrito que eu constantemente oscilava entre a impressão de estar lendo uma tese de doutorado muito bem sintetizada e um livro de poemas. ele valeria a pena só pela fluidez do texto mesmo que a mensagem não fosse extremamente relevante. um retrato dos impactos do racismo por um viés psicológico/filosófico não poderia ter sido mais cirúrgico. perfeito lindo nenhum defeito
comentários(0)comente



Luciano 16/06/2022

Necessário!
"A inferiorização é o correlato nativo da superiorização europeia. Tenhamos a coragem de dizer: é o racista que cria o inferiorizado".
comentários(0)comente



Angelica75 21/06/2023

Nota 4 - importantíssimo.
Fanon com esse livro mostra o seu comprometimento com o enfrentamento da violência colonial, com a qual conviveu intensamente. Ele traz a leitura que somos alienados em uma sociedade colonialista e que devem-se criar redes de apoio entre os negros. Para ele, é importante combater o complexo de inferioridade associado à cor da pele. Nesse momento que vivemos de ampliação da luta antirracista esse livro é essencial.
comentários(0)comente



Andrecruz.psi 10/05/2023

A cor da Pele não defini a pessoa!
Estava pensando no que escrever nessa brevíssima resenha, mas não seria capaz de de descrever o quão valiosa é essa obra.

Porém tem algo que conseguir notar, a maioria das pessoas que falam sobre o racismo não leram essa obra, se o tivessem feito acredito que iriam rever alguns conceitos.

Deixo aqui esse parágrafo do livro que me chamou bastante a atenção:

"Sim à vida. Sim ao amor. Sim à generosidade. Mas o homem também é não. Não ao desprezo do homem. Não à indignidade do homem. À exploração do homem. Ao assassinato daquilo que há de mais humano no homem: a liberdade..."
comentários(0)comente



SamuelLv 28/01/2023

Resenha da obra “Pele Negra, Máscaras Brancas” de Frantz Fanon.
Fanon foi um psiquiatra, filósofo e militante político, nascido na colónia francesa Martinica. Pele Negra, Máscaras Brancas foi sua tese de doutorado, mas na época foi negado por conta de seu caráter “Revolucionário”.
No primeiro capítulo, o autor descreve a relação entre o negro e a língua, esta que permite a compreensão e interpretação do mundo, que permite assumir valores, cultura e a história de uma sociedade. Dessa forma, para os antilhanos, é o caminho para se aproximar do colonizador, na tentativa de chegar a aquele local que sempre foi lhe negado, a de ser visto como uma pessoa. O povo colonizado, em meio a toda a opressão e violência contra a sua história, deseja cada vez mais se afastar do que é visto como “sujo” aos olhos do europeu, muitas vezes desprezando aquela cultura que deveria ser visto com orgulho como “sua”.

Usar roupas europeias ou trapos da última moda, adotar coisas usadas pelos europeus, suas formas exteriores de civilidade, florear a linguagem nativa com expressões europeias, usar frases pomposas falando ou escrevendo em uma língua europeia, tudo calculado para obter um sentimento de igualdade com o europeu e seu modo de existência.
Westermann, The African Today.

Um ponto de destaque acerca da língua nesse capítulo é que ela, consciente ou inconsciente, é usada para inferiorizar o negro. Isto é, o branco muda o seu dialeto dependendo da cor do outro, utiliza o conhecido petit-nègre, uma espécie de francês simplificado, de caráter racista. Utilizar uma linguagem “simplificada”, ou muitas vezes falar de forma infantil, é um mecanismo de inferiorizar aquela pessoa, infantilizá-la, é enxergar o outro como um ser menos capaz.
O segundo capítulo é relativo à mulher de cor e o branco. Casar-se com um branco é para a mulher penetrar no mundo branco, se tornar branca, adquirir virtude, respeito e honra. Ser pedida em casamento para o negro para ela é o maior desrespeito possível, um verdadeiro crime. Pois o homem de cor não é um ser. A negra busca embranquecer, e a mulata evitar a regressão. O racismo não é algo individual, está enraizado na sociedade.
O terceiro capítulo é relativo ao homem de cor e a branca. O negro na tentativa de ser reconhecido pelo branco buscar ser amado pela branca, pois ao ser amado será aceito. Mas para ele, todo esse objetivo é composto por barreiras, sua confiança e autoestima são obstáculos a serem quebrados, ele se perde de si mesmo, pois não é merecedor do amor.
A quarta e a quinta parte refere-se ao complexo de dependência do colonizado (inferioridade) e o a experiência vivida do negro, há uma introdução de uma visão psiquiátrica do assunto. É expressa a ideia de que o racismo é algo enraizado na sociedade, ela é racista, e não existe um local mais ou menos racista que outro, ou que uma discriminação é menos danosa do que outra. Todas essas formas de violência devem ser vistas igualmente, juntamente com a exploração, em que o objeto principal é o homem. É exposta a ideia do que é ser negro, o sentimento de não se encontrar, o jeito de se comportar perante a sociedade, o ato de se manter sempre de cabelo cortado para passar uma “melhor” visão, ou carregar os documentos para uma simples ida na esquina caso sofrer um enquadro, além de todo o fetichismo e taras ligados à sua raça.

O preconceito de cor nada mais é do que a raiva irracional de uma raça por outra, o desprezo dos povos fortes e ricos por aqueles que eles consideram inferiores, e depois o amargo ressentimento daqueles que foram oprimidos e frequentemente injuriados. Como a cor é o sinal exterior mais visível da raça, ela tornou-se o critério através do qual os homens são julgados, sem se levar em conta as suas aquisições educativas e sociais. As raças de pele clara terminaram desprezando as raças de pele escura e estas se recusam a continuar aceitando a condição modesta que lhes pretendem impor.

O preto e a psicopatologia, o sexto capítulo da obra, é feito uma análise psicanalítica do problema, em que o principal objeto de estudo é a família e a infância. A família nada mais é um dos núcleos mais importantes na construção do ser, e ela não se limita somente a casa, e sim a todos os grupos e organizações que integram uma sociedade.
A autoridade do Estado, é, para o indivíduo, a reprodução da autoridade familiar através da qual ele foi modelado desde a infância. O indivíduo assimila as autoridades encontradas posteriormente à autoridade paterna: ele percebe o presente em termos de passado. Como todos os outros comportamentos humanos, o comportamento diante da autoridade é aprendido. E é aprendido no seio de uma família que pode, do ponto de vista psicológico, ser identificada pela sua organização particular, isto é, pela maneira com que a autoridade é distribuída e exercida.
Todo tipo de organização e sociedade possui veículos de comunicação e informações composta por valores, emoções e sentimentos que integram uma coletividade, e dão a visão de mundo ao indivíduo. Por exemplo, nos desenhos animados ou revistas o negro/indígena sempre foi representado como os vilões, e os brancos? Heróis, sempre “heróis”. Dessa forma, o jovem negro identifica-se com o explorador, adota subjetivamente uma atitude de branco. O inconsciente é marcado por fortes traumas, geralmente ligados a sexualidade, por conta de uma tal moralidade. Esses traumas surgem predominantemente no período da infância.
Diante do negro, com efeito, tudo se passa no plano genital, pois “O negro tem uma potência sexual alucinante”, cria-se um medo dessa tal “potência”, os homens se sentem inferiores, as mulheres sentem medo de serem abusadas. São quentes, robustos e brutais. Cria-se todo um estereótipo. O branco frustrado utiliza o negro como o culpado de seus problemas, seja qualquer eles forem. O mal é representado pelo negro, juntamente com o pecado, a morte, a guerra, a fome e a miséria.
A sétima parte é o reconhecimento do preto. É uma parte bastante focada na autoimagem, o negro precisa do outro para se reconhecer. Se não o outro quem mais poderia ser? É bastante focado na ideia de comparação.
A parte final de seu texto é presente de fortes emoções. É notório a denúncia da exploração, é motivador, é revolucionário. Não é apenas mudar o indivíduo, é mudar o sistema. É necessário acabar com a dominação do homem pelo homem, finalmente sentir a liberdade.
A obra de Fanon é extremamente marcante, e te faz refletir a cada capítulo, cada parágrafo e cada linha escrita. É um texto que te joga para o mundo real, o faz analisar as situações de opressão, racismo, desigualdade etc. É necessário realmente pensar, por isso é uma leitura que leva um certo tempo para se digerir. Além disso, faz-se presente alguns termos bastante técnicos da psicologia, ou algumas palavras que não foram traduzidas, porém nada impede a compreensão, basta a calma e as explicações e referências que a própria edição traz.
Excelente obra.

comentários(0)comente



Fernanda 23/02/2023

"Minha última prece: Ô meu corpo, faça sempre de mim um homem que questiona!"
"Todas as formas de exploração se parecem. Todas elas procuram sua necessidade em algum decreto bíblico. Todas as formas de exploração são idênticas pois todas elas são aplicadas a um mesmo ?objeto?: o homem."

"É preciso dizer que, em certos momentos, o social é mais importante do que o individual. Penso em P. Naville escrevendo: Falar dos sonhos da sociedade como se fossem os sonhos do indivíduo, dos desejos coletivos de potência como se fossem o instinto sexual pessoal, é inverter ainda uma vez a ordem natural das coisas, uma vez que, pelo contrário, são as condições econômicas e sociais das lutas de classes que explicam e determinam as condições reais nas quais se exprime a sexualidade individual, e que o conteúdo dos sonhos de um ser humano depende também, no fim das contas, das condições gerais da civilização na qual ele vive."

"Na Europa, e em todos os países ditos civilizados ou civilizadores, a família é um pedaço da nação. A criança que deixa o meio familiar reencontra as mesmas leis, os mesmos princípios, os mesmos valores."

Uma verdadeira aula/análise sobre as questões psicológicas raciais, sociais e descolonizais em uma linguagem propositalmente angustiante e agressiva.
comentários(0)comente



Alyne Lima 14/03/2020

Livro necessário
Muito bom, necessário para os estudos sociais e literários negros.
comentários(0)comente



Gabriel 14/04/2021

De tirar o fôlego do começo ao fim
Apesar de ser um livro muito denso em termos de conteúdo, é impressionante como a leitura não se faz difícil nesses mesmos termos. A forma como Fanon faz suas aproximações com a psicanálise, a filosofia, a psicologia, a antropologia e tantas outras áreas do conhecimento, partindo da experiência vivida e não da objetividade do fazer científico - que ele logo faz questão de dizer que não é uma de suas preocupações, posto que está mais atento à solução das questões sobre as quais se debruça, do que com a possibilidade de ser prontamente compreendido - faz a leitura ganhar um tom tanto mais forte quanto fluido.

A dificuldade da leitura fica, para mim, muito mais reservada à maneira crua e pungente com que Fanon encara e expõe as experiências que o atravessaram e que atravessam/atravessavam o cotidiano dos povos colonizados. Como Deivison Faustino bem coloca no posfácio a essa edição, em certos momentos da leitura sentimo-nos acolhidos por Fanon como que em um setting analítico, e em outros momentos nada distantes, vemo-lo desabar em nossa frente, expondo corajosamente todas as suas vulnerabilidades.

Aproveitando a menção ao posfácio, não poderia deixar de falar sobre o quanto o material complementar, as notas de tradução etc. são riquíssimos. O texto é incrível por si só, mas todo o material trazido nessa edição agrega de uma maneira grandiosa ao texto original.

Alguns problemas ficam muito evidentes na escrita de Fanon, sobretudo ao tratar do feminino, mas é gratificante ver que são expressões de sua escrita que hoje encontram os devidos tensionamentos e problematizações, por sinal, muito bem introduzidos nos materiais complementares e que ajudam a fazer as devidas distinções, mostrando grande empenho em superar as questões problemáticas que devem ser superadas, no mesmo passo que reforçam que esses grandes problemas não anulam ou diminuem a grandiosidade da obra.

Foi sem dúvidas a leitura que mais me impactou esse ano. Me provocou uma série de deslocamentos que sei que continuarão ecoando indefinidamente. Foi o meu primeiro contato com a obra de Fanon, e sei que não será o último. Simplesmente incrível!
isabellebessaa 14/04/2021minha estante
Doida pra lerrr


Gabriel 14/04/2021minha estante
Amiga, leiaaa!! Vale à pena demais!




Nicks Nicks 28/04/2022

Sem palavras
SE VOCÊ QUER ENTENDER SOBRE A HISTÓRIA SEM UMA PERSPECTIVA BRANCA E EUROCENTRICA, leia esse livro! O Fanon deveria ser citado nas escolas!
Vanessa.Souza 28/04/2022minha estante
Legal!!




Cristiane 30/03/2023

Pele Negra, Máscaras Brancas.
Existe hoje uma discussão sobre abolir termos de nossa língua que são profundamente racistas: fome negra, homem negro de alma branca, denegrir entre outros. Existe também uma reflexão sobre como a história branqueou personalidades negras como por exemplo Machado de Assis. O que eu não sabia é que essa reflexão nasceu do trabalho desse estudioso martiniano/francês de nascimento e argelino por opção. Frantz Fanon se debruçou sobre o efeito do colonialismo europeu e suas consequências na população negra. Mostra que o homem negro é obrigado a se reconhecer como negro a medida que o europeu invade seu país e domina, fazendo brotar em seu interior um desejo de ser branco.
O livro não é fácil de se ler, especialmente para alguém como eu que não domina a psicanálise, mas a experiência é como um soco no estômago, ora você se identifica com o homem negro ora como aquele que oprime, segrega o negro.
comentários(0)comente



alex santos 13/01/2024

FANON, O PROIBIDO
Frantz Fanon, natural da Martinica, publicou este livro em 1952, mas ele ficou praticamente escondido até a virada do século, considerado uma ameaça a "civilização ocidental". Muito errado não estavam os censores.
Fanon enfrenta com argúcia os elementos fundantes do colonialismo e do racismo, chamando os afrodescendentes a lutarem por uma igualdade, naquela época, utópica. Ou é ainda hoje?
Este livro não veio à luz meio século depois, para deixar de ser lido.
comentários(0)comente



Lis 26/07/2020

O que é um homem
Análise interessante com uma perspectiva psicanalista da questão do negro na sociedade. Para mim a bússola desse livro é a máxima: o negro precisa ser visto antes de tudo como um homem e não, como ?um homem negro?.
Margô 08/09/2021minha estante
Tenho a obra, e ainda não li...mas emprestei, e, não sei se o "tenho" mais...???


Margô 08/09/2021minha estante
Boa observação, essa que você trouxe na resenha...Do contrário, vamos mudar a nossa fala para o homem branco, a mulher caucasiana, o homem pardo...e por aí vai. Creio que enquanto se mantiver o racismo estrutural, o homem negro, vai ser um vocábulo bem presente nos discursos ...Pode acreditar!




Webe Santos 20/09/2020

Falar sobre Fanon é um desafio, devido sua temática, como também todas as camadas que o autor traz nas entre-linhas de sua obra.

Ao trazer o conceito de alienação colonial, Fanon desafia o leitor a pensar sobre as relações estabelecidas entre brancos e negros derivados do processo de colonialismo. É uma excelente leitura, e claro, faz necessário compreender o cenário onde Fanon estava, bem como seus posicionamentos.
comentários(0)comente



120 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 |


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR