z..... 15/06/2019
Coleção Aventuras Grandiosas (Editora Rideel)
Dois contos de Poe. Em comum, o pragmatismo doentio, determinista e transloucado com autojustificativas inconsequentes. Os contos tem esse desenrolar...
"O Barril de Amontillado" traz funesta, surreal e vingativa história entre dois amigos, onde destacam-se arrogância e orgulho. Para o assassino, pontos suficientemente justificáveis para o desenrolar que vemos... Coisa de psicopata.
Acredito que isso pode ser direcionado numa visão desajustada daquela famosa frase sobre os fins justificarem os meios, que uns dizem que sim, outros que não, ser de Maquiavel. Sei de nada também, mas que é visão maquiavélica isso é, e o conto expressa este pensamento. O fim, o objetivo, suplanta qualquer sensibilização ao horrendo meio utilizado para esse processo, a sordidez cega da vingança.
Lembra "O gato preto", porém, mais provocativo à reflexão, em relação ao algoz e a vítima.
"O Demônio da Perversidade" conta também uma história de morte. Diferente da anterior, onde o fator externo é interpretado e redirecionado em conceitos desajustados, neste conto o protagonista disserta sobre a natureza humana, num papo pra lá de maluco, e chega a conclusão que o homem, como criação divina, recebeu também uma voz interior que influencia para o mal. Ela seria a culpada de ações estapafúrdias e malucas. Conversa de doido, é lógico! O protagonista entra num tormento sobre culpas...
O conto é interessante.
No final das contas, Poe ilustra o desajuste em que a morte seria justificável pela própria vítima, basicamente merecedora, onde o algoz estaria ausente de culpa; ou então, no que ficou implícito, seria culpa do próprio Deus, quem nos fez assim, impulsivos, o assassino apenas cumpriria papel a que fora motivado...
Claro que não são afirmações de Poe, mas percepção de contexto que insanamente se projeta em muitos na sociedade.
Os fins justificam os meios?
A culpa é das estrelas?
Dois contos de Poe sobre isso.