Carol 20/04/2020Impressões da CarolLido: Diante da dor dos outros {2003}
Autora: Susan Sontag {EUA, 1933-2004}
Tradução: Rubens Figueiredo
Editora: Companhia das Letras
112p.
Considero Susan Sontag uma das ensaístas mais brilhantes do século XX, capaz de trazer ao debate questões, até então, adormecidas. É isto que ela faz em "Diante da dor dos outros", de forma magistral.
Neste ensaio publicado em 2003, logo após o 11 de setembro, Sontag reflete sobre o impacto das fotografias de guerra na nossa percepção sobre o Outro e seu sofrimento. Como ela afirma, sucintamente, "a compreensão da guerra entre pessoas que não vivenciaram uma guerra é, agora, sobretudo um produto do impacto dessas imagens."
Um texto rico que possibilita diversas deliberações por parte do leitor. De minha parte, consigo extrapolar alguns dos pontos levantados para nossa situação atual, não de guerra, mas de pandemia.
É notório que parte da população rejeita o jornalismo sobre o COVID-19. Frente aos números crescentes de infectados e de mortos, optam por se alienar, "isso não acontecerá comigo, nem com minha família". É um sentimento muito humano, compreendo, mas não passa de umbiguismo, de negação.
É como o efeito 'Morgan Freeman' - se eu não falar sobre racismo, ele deixa de existir; se eu não me informar sobre a Guerra na Síria, não há guerra; se eu não ler sobre o vírus, ele vai desaparecer. Retomo Sontag, que atesta: "ninguém, após certa idade, tem direito a este tipo de inocência, de superficialidade, a esse grau de ignorância ou amnésia."
A partir de qual momento nos tornamos indiferentes a fotografias, a notícias, a informações? Num mundo como o nosso, saturado, a noção de coletividade deteriorou-se. Precisamos sair desse individualismo em prol do bem comum.
Escrito há quase duas décadas, "Diante da dor dos outros" continua repercutindo. Grifei diversos parágrafos, concatenei vários pontos. Um livro que me trespassou e indico fortemente. Meu único senão foi a falta de imagens, nesta edição. Leiam o livro com o Google aberto.
"A compaixão é uma emoção instável. Ela precisa ser traduzida em ação do contrário definha."