Elogio da Sombra / Perfis

Elogio da Sombra / Perfis Jorge Luis Borges




Resenhas - Elogio da Sombra


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Everton Vidal 31/05/2021

Genial desde o prólogo, onde ele diz que não possui uma estética, mas algumas astúcias. Não é um livro de contos como "Ficções", clássico universal, é poesia, seu quinto livro de versos, mas que leva o leitor a se sentir dentro daquele mesmo universo, da biblioteca universal infinita, dos labirintos do tempo caótico e das palavras que nunca terminam de dizer o que querem.

A poesia de Borges é ao mesmo tempo autobiográfica e alheia. É o lugar onde o Eu trata de ser a humanidade inteira, e esta, brinca de ser Borges. Está sempre revelando traços de outras obras, de escritores passados e contemporâneos, reinventando e evocando a cultura universal. De Heráclito a Jesus, Quintana e James Joyce, de Cambridge a Buenos Aires, uma profusão de imagens prolixas, um elogio de sombras que simbolizam os significados difusos e a cegueira (em mais de um sentido) que o acometeu.

Meus poemas favoritos são "os gaúchos", de tom distópico, e "o guardião dos livros", que lembra aquele hermetismo dos contos, "Fragmentos de um Evangelho Apócrifo" também destaco como uma das releituras mais profundas do Sermão do Monte. Mas há poemas que não pude desfrutar. Às vezes é difícil abstrair a obra de um artista de suas ideias e comportamentos políticos errados, faço um esforço porque a vida é breve, a arte, escassa e os gênios tão poucos... Se vale a pena, sei que vai de cada um. Minha opinião sobre Borges é que vale muito sim.
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Marcos Nandi 23/03/2020

Bom
Borges é melhor no verso do que na prosa.

Me julguem.
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Gu Henri 20/07/2019

Não é uma obra com toda aquela genialidade e coisa fantástica como "Aleph" ou "Ficções" (também seria impossível), e não deveria, pois na maior parte trata-se de poemas, e por vezes os poemas soam como se tentassem simplesmente não serem musicais.

Mas o grande problema como sempre é a diferença da linguagem, no original em espanhol há maior clareza quanto ao que se quer dizer, e pelas peculiaridades não só da língua portuguesa, mas da própria cultura, temos outra barreira imposta. Dou um exemplo disto:

No poema Cambridge, há um excerto que em português se perde de todo:
(...)
Não é uma segunda-feira,
o dia que nos depara a ilusão de começar.
Não é uma terça-feira,
o dia que preside o planeta rubro.
Não é uma quarta-feira,
o dia daquele deus dos labirintos
que no Norte foi Odin.
Não é uma quinta-feira,
o dia que já se resigna ao domingo.
Não é uma sexta-feira,
o dia regido pela divindade que nas selvas
os corpos dos amantes entretece.
Não é um sábado.
Não está no tempo sucessivo,
mas nos reinos espectrais da memória.
(...)

Em espanhol podemos ter a devida compreensão e exatidão do que se propôs a dizer;
(...)
No es un lunes,
el día que nos depara la ilusión de empezar.
No es un martes,
el día que preside el planeta rojo.
No es un miércoles,
el día de aquel dios de los laberintos
que en el Norte fue Odin.
No es jueves,
el día que ya se resigna al domingo.
No es un viernes,
el día regido por la divinidad que en las selvas
entreteje los cuerpos de los amantes.
No es un sábado.
No está en el tiempo sucesivo
sino en los reinos espectrales de la memoria.
(...)

Neste caso de todo simples, podemos perceber que traduções colocam problemas que seriam facilmente solucionáveis, neste caso, o espanhol por ser uma língua tão assimilada pelos falantes de português tem de ser (e devia) ser entendida em sua originalidade, ao menos para quem queria ler um poema ou poesia.
Pois, no caso da cultura lusófona substituiu os antigos nomes dos dias, que eram dedicados aos deuses pagãos, por números ordinários. E daí a perda imensa de sentido.

E não só haja visto que, quarta-feira em português equivale à miércoles em espanhol, ou seja, um dia dedicado a Mercúrio, e com a conquista dos territórios germânicos pelos romanos, Odin -deus germânico- passa a ser assimilado com Mercúrio, e em inglês podemos ler Wednesday, ou seja, em inglês antigo seria Wōdnesdæg, dia do deus Odin, ou Woden.

E, por Borges ser um falante natural de inglês e de espanhol isto soa como que obrigatório aos seus leitores.

...

Sobre o restante, é até meio explícito a forma como Borges acentua, de forma até irônica, a sua cegueira, entremeia-a pelos poemas, pelos contos, e pela sua curta auto-biografia, num momento brinca ser uma coincidência dos antigos diretores da biblioteca da qual exercia o cargo, ou dizia-a ser parte "genética" da família. E, mais irônico ainda é o título ser um "Elogio" dessa "Sombra" que ele mesmo diz ser a cegueira. Outro elemento constante que encontramos na obra borgiana é o labirinto. Me deixei levar pela curiosidade, e fui buscar algumas leituras, li uma obra de Károly Kerényi, e nela consta que os labirintos, ou espirais (que podem ser e simbolizar o mesmo) são na verdade o caminho que se faz para sair ou entrar no reino da morte, ou seja, adentrar o labirinto é uma metáfora para a própria vida.
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Gabriel 13/09/2018

A sensibilidade artística de Jorge Luis Borges fica evidente nestas palavras que se alternam ora em prosa ora em versos. Para além da beleza da forma, está a simplificação de um conteúdo aparentemente complexo.

"Elogio da sombra" tinha tudo para ser um livro facilmente associado ao soturno. No entanto, Borges mostra que a sombra pressupõe luz; e tal como esta, aquela também às vezes se torna necessária. Com reflexões extraídas de leves narrativas do cotidiano, Borges fornece um antídoto para o tédio que está sempre à espera de uma brecha para agir. Este é, certamente, uma obra que precisa ser lida, relida, trelida e ruminada.
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Andressa C. 05/06/2018

Livro belo e singelo para ser lido em uma manhã. Apesar de curtinho, carrega demasiada intensidade e luz, mesmo em meio as sombras.
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Rosa Santana 28/01/2015

Meu primeiro contato com Jorge foi através do Ficções, livro que amo. Livro dos contos perfeitos, em que sempre um parece estar falando dos outros: metalinguagem pura! Então, comprei tudo o que ia encontrando dele, via net, aqui mesmo, pela minha cidade!
De poesia li O Fazedor e agora esse, Elogio da Sombra em que, como o próprio nome diz, o autor já desprovido de luz, elogia a sombra que o conduz a uma outra claridade: a dos valores absolutos! Como Édipo!

Um bom exemplo:

THE UNENDING GIFT

Um pintor prometeu-me um quadro.
Agora, em New England, sei que morreu. Senti, como outras vezes, a tristeza de compreender que somos como um sonho. Pensei no homem e no quadro perdidos.
(Só os deuses podem prometer, porque são imortais.)
Pensei em um lugar prefixado que a tela não ocupará.
Pensei depois: se estivesse aí, seria com o tempo, uma coisa mais, uma coisa, uma das vaidades ou hábitos da casa: agora é ilimitada, incessante, capaz de qualquer forma e qualquer cor e a ninguém vinculada.
Existe de algum modo. Viverá e crescerá como uma música e estará comigo até o fim. Obrigado, Jorge Larco.
(Também os homens podem prometer, porque na promessa há algo imortal) - página 30

O livro todo me parece um diálogo com o poema do Drummond:

MEMÓRIA - Carlos Drummond de Andrade

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.
@julianapena.books 22/03/2015minha estante
Vou ter que ler esse livro Ficções, amiga! Ele é indicado no livro 1001 livros para ler antes de morrer. :D Lembrei de vc quando o vi na lista.


Rosa Santana 24/03/2015minha estante
Juliana, leia sim! É um livro espetacular, embora eu seja suspeita para falar de Borges, porque acho-o o supra sumo da literatura!




Vanessa 28/08/2009

"Agora posso esquecê-las. Chego a meu centro,
a minha álgebra e minha chave,
a meu espelho.
Breve saberei quem sou."

Sinceramente, é um dos melhores livros do Borges que li. É sincero e totalmente sem pretenções com o realismo fantástico. É apenas um homem cego, conformado com as sombras.
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