Resenhas - Basílica de São Pedro

marquessjuh 30/06/2020

Pecados em prol da santidade
Um livro que aborda desde o primeiro momento da concepção da basílica de São Pedro que durou mais de dois séculos para ser construída, entre trapaças, barganhas, chantagens, arrivismos... Seu foco foi exatamente nos escândalos que envolveram essa grandiosa construção, não espere uma atmosfera mística nessa leitura, é explicitamente político. Enfim, vale a pena a leitura, recomendo.

Jacques.Bourlegat 17/10/2018

Basílica de São Pedro
Escrito de maneira romanesca, a obra descreve os bastidores envolvendo a construção da Basílica de São Pedro no coração de Roma, na cidade do Vaticano, uma das maiores construções cristãs de todos os tempos, iniciada em 1447 e que levou cerca de 180 anos para ser finalizada (aproximadamente 1626). A obra passou por diversos papas, quase todos idosos, mas incrivelmente decididos a deixar sua marca nesse empreendimento divinamente humano.

O resultado foi um fabuloso conjunto arquitetônico com volumes imensos. Uma cúpula gigantesca, milhares de detalhes na nave central e na abside feitos por artistas que imortalizaram-se com suas obras renascentistas. Capelas belíssimas (principalmente a tão célebre capela Sistina encomendada por Sisto V a Michelangelo). Transcende o real, a sensação da grandeza do lugar, que vai além de todas as crenças.

De fato, o monumento conta uma história. Cada afresco, cada incrustação de mármore ou granito, é como uma linha de um livro. A Basílica é com certeza uma narrativa em três dimensões, pois tudo nela tem sua intriga e a conclusão de uma história grandiosa. Das paredes ao teto, das esculturas estranhamente realistas ao baldaquino central surreal, assim como as colunas titanescas concebidas por Bramante, tudo é história, arte e simbolismo.

Porém, uma boa parte dessa história não é muito reluzente. Intrigas, complôs, manipulações, assassinatos, extorsões e ameaças diversas envolvem a construção da nova basílica. O próprio Michelangelo fugiu de Roma e teve de ser trazido à força de volta para a cidade por ordem de Júlio II, pois se recusara inicialmente a executar o projeto da basílica de São Pedro.

Além dos assuntos celestes, os pontífices estavam ocupadíssimos também com assuntos de estado, uma vez que os domínios papais eram ameaçados frequentemente por reinos vizinhos e outros invasores, que os obrigavam a lutar para protegê-los ou para recuperá-los. Os saques diversos à cidade de Roma e do Vaticano, as guerras nas quais a igreja ingressava limitavam os recursos para a continuação da execução da obra e era preciso solicitar o financiamento do empreendimento para os senhores e nobres romanos e de outros estados. Apesar de beneficiar de uma influência muito grande junto aos mais poderosos estados europeus, durante esse período a igreja conheceu uma perda desse poder com o advento protestante, a contrarreforma e o rompimento da Inglaterra com a igreja romana, sem contar as próprias intrigas intestinais que ainda maculam a história do Vaticano. Vários papas tinham vidas mundanas, muitos tiveram filhos, outros utilizaram da força para ser eleito papa. As dificuldades encontradas durante a construção da basílica foram diversas. Os ?santos? papas tiveram que recorrer a procedimentos menos ortodoxos para que a obra não cessasse por falta de financiamento ou material, como roubo e tráfico de metais ou pedras entre outros.

Portanto, para essa grande empresa, eram necessários homens empreendedores de caráter imperioso. Tais como homens de negócios, esses pontífices tinham decisões gerenciais a tomar, referentes aos assuntos da fé divina, mas também da fé das pessoas na instituição terrestre. O objetivo maior era continuar sendo a representação de Deus na terra. Que melhor maneira de fazer isso senão mostrando às pessoas a grandiosidade da casa do senhor em Roma? Com essa construção, a igreja reforçou a sua posição diante dos cristãos como ato de fé na cidade eterna, deixando inscrito na pedra de São Pedro, assim como estava designado nas sagradas escrituras "sobre esta pedra edificarei a minha igreja", não só um pouco de cada artista mas também de cada papa.