Lucas 22/02/2015
A batalha bélica mais importante da história
A batalha de Stalingrado é um tema fascinante. Lamentavelmente, crescemos ouvindo pouco (ou não o suficiente) sobre a questão. A verdade é que o que ocorreu naquele front entre agosto de 1942 e fevereiro de 1943 guiou a humanidade a um novo curso.
Antony Beevor narra com maestria como tudo isso ocorreu. De uma forma brilhante, o autor não narra apenas o ocorrido em Stalingrado (atual Volgogrado), mas sim, toda a Operação Barbarossa, plano montado pela Alemanha nazista que visava conquistar a URSS.
A primeira das cinco partes do livro descreve os primeiros passos dos alemães em solo soviético, e sua "quase-vitória" pela conquista de Moscou. Após isso, o livro tem momentos de prender o fôlego, tamanho o detalhismo que Beevor usa para descrever a invasão nazista à Stalingrado, e as infinitas barbaridades que ali se sucederam, tanto do lado alemão, quanto do lado soviético. O ponto alto do livro, na minha visão, ocorre quando o exército soviético (já com o cerco completo aos alemães, após a Operação Urano) envia dois comissários a uma tropa alemã para a negociação de uma trégua. Tamanha rivalidade e ódio dos dois lados fazem da leitura desta parte algo totalmente imprevisível, e a forma como as coisas ocorrem são muito bem descritas.
O livro é esplêndido. Detalhista, completo e totalmente verídico. No entanto, se arrasta em alguns momentos, tornando a leitura um pouco cansativa. Trás alguns mapas que clareiam a narrativa, mas é totalmente recomendável que o leitor se informe a respeito da localização geográfica de alguns pontos da atual região sudeste da Rússia, como o Rio Don, o Rio Volga, as cidades de Kalach, Saratov, e lógico, Stalingrado. Se isso for feito, a leitura fica ainda mais clara e prazerosa.
Após a leitura do livro, várias coisas poderiam ser destacadas, em especial dois pontos. O primeiro diz respeito ao que seria do mundo caso os nazistas tivessem dominado a URSS. Teriam quase metade territorial do globo, ficando próximos geograficamente do Japão (seus aliados), além de estarem próximos o suficiente para organizarem um ataque profundo ao EUA, pelo Canadá, por exemplo. Certamente, a guerra estaria ganha pelo nazismo, e não se sabe o que seria do mundo caso isso ocorresse. O segundo ponto, que a leitura do livro ajuda a construir, é a constatação de uma injustiça que envolve os verdadeiros vitoriosos do confronto. Sempre ouvimos que os americanos salvaram a Europa do nazismo, ao desembarcarem grande parte do seu exército na região da Normandia (França), no chamado "Dia D", que deu início a um grande contra-ataque na frente ocidental do conflito. Mas nos esquecemos das tropas soviéticas, que empurraram a Alemanha de volta por todo o leste europeu, libertando países antes conquistados e campos de concentração de judeus (em Auschwitz, por exemplo). Quando a guerra terminou, a primeira bandeira a tremular em Berlim no lugar da suástica foi a da URSS (quando os soviéticos chegaram lá, a capital estava totalmente destruída por bombardeios da RAF). É evidente que o "Dia D" e os ataques coordenados por norte-americanos, franceses e britânicos na frente ocidental são extremamente importantes, mas não deve ser deixado de lado o sacrifício das tropas soviéticas. Joseph Stalin era um brutal ditador, talvez o maior que já existiu, mas sua contribuição e a de suas tropas foi profundamente decisiva para a derrocada do nazismo, algo um pouco ignorado ao longo das décadas desde então. Enfim, a batalha de Stalingrado é um tema muito complexo, propício para um debate e não uma mera resenha. A leitura do livro ajudaria profundamente nesse "debate utópico".